sexta-feira, dezembro 31, 2004
e venha outro...
Um bom 2005 a todos e boa passagem de ano, que vou estar a trabalhar até às 2 da manhã, muito provavelmente só para atender clientes que não conseguem ver o Herman... e sem sistema informático!
quinta-feira, dezembro 30, 2004
Arthur C. Clarke - onde a religião encontra a ciência
O maremoto que assolou a Ásia e arrasou o Sri Lanka fez-me recordar o mais famoso habitante desta região, o muito britânico Arthur C. Clarke.
A religião de que se fala no título não tem nada a ver com credos eclesiásticos. Religião é aquele sentir da unidade entre nós e tudo o que nos cerca, um sentimento de… awe perante o universo em que vivemos e uma curiosidade infantil perante as possibilidades do despertar das nossas potencialidades ou evolução no seu sentido mais lato.
Nenhum escritor, como Clarke, manteve os pés tão cravados na realidade da ciência e tecnologia e elevou tão alto essa aspiração pelo transcendente. Já no prefácio de 2001 ele recordava que, desde o surgimento da espécie humana até hoje, deverão ter nascido uns 100.000 milhões de criaturas humanas. Curiosamente, esse é o número estimado de estrelas da nossa galáxia. Portanto, para cada ser humano que pisou a Terra, existe na galáxia uma estrela que lhe pertence…
Não é um raciocínio que se ouça muito aí na boca dos engenheiros.
Como já toda a gente viu a belíssima seca que é o filme 2001 (o livro é melhor e menos confuso que o filme), deixem-me destacar dois livros que considero obras primas obrigatórias.
Rendez-vous com Rama
Da profundidade do céu, disparando para a proximidade do Sol, os telescópios detectam…é um asteroide?, é um cometa? Não, é um objecto metálico parecido com uma lata cilíndrica, com 50 km de comprimento e 30km de diâmetro e que gira sobre si próprio. O livro narra a visita de uma expedição ao interior de tal objecto, designado como Rama.
Não, Rama não está habitada. Caminhar lá dentro faz os astronautas sentirem-se como formigas… Três escadas radiam do eixo da entrada na base para as paredes, onde há estruturas que parecem cidades. Dado o movimento de rotação da lata, a gravidade manifesta-se do eixo para as paredes. Os astronautas caminham pelo interior da tampa, primeiro e das paredes depois, acompanhados por potentes projectores que transportam consigo, que iluminam poucos centenas de metros à sua frente.
Só que, à medida que se aproxima do Sol, as paredes de Rama aquecem e uma serie de sistemas automáticos são accionados. Como, por exemplo, três conjuntos de gigantescas lâmpadas.
A descrição do choque dos exploradores quando todo aquele interior se enche de luz e se vêem, colados às paredes, a olhar lá para baixo, é de dar vertigens. Depois há mares congelados que se derretem, atmosfera interior que aquece e cria furacões, mar que evapora e cria nuvens que se elevam para o eixo do cilindro e donde cai chuva - chuva que "cai" do eixo do cilindro, para o interior das paredes, descendo em curva, devido à rotação do cilindro que é Rama!… Clarke dá uma aula de mecânica celeste disfarçada de livro de aventuras extremamente fascinante.
Quem fez Rama, o que é Rama e quais os seus objectivos são perguntas que vão tendo respostas surpreendentes até à última linha do livro. Não vale a pena ir lá espreitar. A última frase é "Os ramanos fazem tudo em triplicado" mas só quem leu o livro até aí é que se apercebe do sobressalto que aquela última frase provoca. Sobressalto que é a pitada de religiosidade clarkiana no seu melhor.
Obs: "Rendez-vous com Rama" deu origem a uma sequela de outros livros, escritos em parceria com outro autor. Esqueçam-nos. Piores e mais vazios que as sequelas de 2001.
Obs 2: "As Fontes do Paraíso" ficam para a semana.
Artur Tomé
quarta-feira, dezembro 29, 2004
então adeus
Todos os dias faço uma ronda diária ao blogs que tenho nos favoritos... e todos os dias me encho de esperança que o meu amigo Miguel que agora é Eduardo, tenha parado de andar às voltas com o Vivaldi e regressado para dar sinais de vida... até hoje me te deparado com a seguinte mensagem:
"The requested URL was not found on this server. Please visit the Blogger homepage or the Blogger Knowledge Base for further assistance."
E é com muita pena que digo adeus às doenças com nomes russos e a relatos sobre discotecas da moda e a cartas de inveja a poetas...
sexta-feira, dezembro 24, 2004
Depois de ter passado um semestre inteiro a ter aulas numa série de departamentos que não são o meu, tive um ataque de nostalgia e adicionei uma data de links para páginas de alguns dos meus autores preferidos. Há uma página oficial do Oscar Wilde, mas é tão pobrezinha que me decidi por outra com uma abordagem biográfica bastante original. Quem não conhecer o Robert Herrick (autor de "To The Virgins To Make Much Of Time", citado n'"O Clube dos Poetas Mortos") não se assuste com a música irritante da página de entrada, porque as outras são silenciosas ;).
Dito isto, um feliz Natal para todos e aqui fico para os quiasmos que me esperam no 2º semestre...!
Dito isto, um feliz Natal para todos e aqui fico para os quiasmos que me esperam no 2º semestre...!
quinta-feira, dezembro 23, 2004
A aristocrata que cresceu na rua
Modesty Blaise surgiu na década de 60 e fez mais pela igualdade de direitos entre os sexos do que todas as revoluções da moda de então.
Ao contrário do retrato das mulheres propalado pelo marialva do James Bond, Modesty era uma mulher à beira dos trinta anos, rica e independente após se reformar de uma intensa vida à testa de uma rede criminosa internacional. O seu criador, Peter O’Donnell, lançou-a primeiro em banda desenhada, com o apoio inestimável do desenhador Jim Halloway, e depois em livro onde revela uma qualidade narrativa muito superior à de Ian Fleming, o pai do 007.
E, enquanto Bond tem uma atitude superior em relação às outras nacionalidades e cores de pele, num desprezo a roçar o racismo, Modesty sente-se em casa tanto num mercado em Marraquexe como num leilão de obras de arte em Veneza..
Perita em todas as formas de combate, Modesty tanto se impõe naturalmente no comando de uma tropa de mercenários (no livro "Dente de Sabre"), como apaga todas as mulheres presentes em qualquer salão ou restaurante topo de gama (que provavelmente pertence a um ex-colaborador seu, cujo negócio ajudou a financiar).
Como seu aliado principal, Willie Garvin, um ex-combatente da Legião Estrangeira, rude e violento, que Modesty educou e que se tornou no seu guarda-costas, confidente e companheiro de aventuras na vida civil.
A relação entre Willie e Modesty é o ponto mais original da série. Willie, um atleta de sotaque cockney, emérito atirador de facas, tem uma adoração canina pela sua parceira. Tendo cada um vários romances, a sua relação é platónica mas mais íntima do que a que possam ter com qualquer namoro de ocasião.
E muitos são os motivos de fascínio em Modesty. Fugindo em criança de um campo de refugiados do pós-guerra, Modesty é gente, muito mais rica de personalidade, cultura e feminilidade do que a vazia Lara Croft que décadas depois a tentou imitar.
terça-feira, dezembro 21, 2004
Yule
Para os mais distraídos, celebra-se hoje o Solstício de Inverno, também conhecido por Yule.
Nos tempos pagãos comemorava-se a noite mais escura e fria do ano como aquela em que a Deusa dava à luz o Deus Sol, a Criança da Promessa, pois a partir desse momento os dias tornam-se mais longos, representado, assim, o regresso da luz. (Não nos faz lembrar nada, pois não...?)
Levava-se uma árvore para dentro de casa como forma simbólica de proteger a Natureza do frio. Visto ser o dia em que se dava as boas-vindas ao Deus, a árvore era decorada com bolas, velas e outros pendentes (nada mais nada menos do que símbolos fálicos) e no topo da mesma era colocado, não a Estrela de Belém, e sim - surpresa, surpresa - um pentagrama.
E esta, hein...?
quinta-feira, dezembro 16, 2004
Ironia britânica
Leslie Charteris nasceu na Indonésia, educou-se em Inglaterra e aí começou a publicar os primeiros livros do Santo. Estávamos no início da década de 1920 e Simon Templar é uma espécie de Robin Hood que combate os mercadores da morte, como então se chamavam aos negociantes de armas. Elegante, anarca, tem a cabeça a prémio em vários países. Mais do que as histórias, é o humor muito british de Charteris que dá fama literária à figura do Santo.
Mais tarde, o Santo evita uma guerra, é amnistiado e passa a combater criminosos ricos, fazendo justiça pelas suas mãos. As parecenças com Robin Hood limitam-se a que ele também rouba os ricos maus. E fica-se por aí.
Depois Charteris instala-se nos Estados Unidos, naturaliza-se americano apesar de ser mestiço de asiático e branco, convive com Hemingway e Errol Flynn e enriquece com sucessivas adaptações ao cinema. O seu Santo vai-se civilizando no mau sentido, as aventuras épicas iniciais tornam-se em contos onde os adversários estão ao nível das Lili Caneças e falsos jet setters americanos, acabando a sua decadência criativa nas adaptações televisivas interpretadas por Roger Moore.
Dos seus livros, recomendo vivamente "O Santo e os diamantes roubados" para quem gosta de acção imparável e "o Santo no mar alto" para quem prefere suspense e romance. Todos editados na Colecção Vampiro.
Há dias descobri uma carta de Charteris que é um exemplo notável do seu sentido de humor.
How To Pronounce My Name
From A Letter from the Saint, May 9, 1946
Since I am sure you will all want to tell your friends about this wonderful service, [A Letter from the Saint] and since my name occurs so often in any intelligent conversation anyhow, this seems like a good time to start you off on the right foot in the matter of pronouncing my name.
When I picked myself this distinguished cognomen it never occurred to me that such a superficially simple arrangement of letters could be so easily butchered and mutilated. It is somewhat humiliating for what should by this time be a household word to hear itself so frequently pronounced as "Charteers", "Sharteers", "Shartroos", and worse.
There is no trick to it at all if you relax. The "Chart" is pronounced exactly like "chart", the thing you steer boats with. The "er" is pronounced exactly like "er". Put them together and you get "Charter", pronounced as in Magna. The "is" is the only catch, and should be articulated by placing the tip of the tongue behind the front teeth, if any, and exhaling in a sharply sibilant manner which should not however attain the dimensions of a whistle. If either tongue or teeth are not available, a fresh soda siphon may be employed to produce a similar effect.
For the benefit of those really fascinated by the subject, the British aristocracy, several of whom dangled from this family tree, pronounced the name, in their quaint way, as "Charters"; the "i" being silent as in monocle.
Artur Tomé
Mais tarde, o Santo evita uma guerra, é amnistiado e passa a combater criminosos ricos, fazendo justiça pelas suas mãos. As parecenças com Robin Hood limitam-se a que ele também rouba os ricos maus. E fica-se por aí.
Depois Charteris instala-se nos Estados Unidos, naturaliza-se americano apesar de ser mestiço de asiático e branco, convive com Hemingway e Errol Flynn e enriquece com sucessivas adaptações ao cinema. O seu Santo vai-se civilizando no mau sentido, as aventuras épicas iniciais tornam-se em contos onde os adversários estão ao nível das Lili Caneças e falsos jet setters americanos, acabando a sua decadência criativa nas adaptações televisivas interpretadas por Roger Moore.
Dos seus livros, recomendo vivamente "O Santo e os diamantes roubados" para quem gosta de acção imparável e "o Santo no mar alto" para quem prefere suspense e romance. Todos editados na Colecção Vampiro.
Há dias descobri uma carta de Charteris que é um exemplo notável do seu sentido de humor.
How To Pronounce My Name
From A Letter from the Saint, May 9, 1946
Since I am sure you will all want to tell your friends about this wonderful service, [A Letter from the Saint] and since my name occurs so often in any intelligent conversation anyhow, this seems like a good time to start you off on the right foot in the matter of pronouncing my name.
When I picked myself this distinguished cognomen it never occurred to me that such a superficially simple arrangement of letters could be so easily butchered and mutilated. It is somewhat humiliating for what should by this time be a household word to hear itself so frequently pronounced as "Charteers", "Sharteers", "Shartroos", and worse.
There is no trick to it at all if you relax. The "Chart" is pronounced exactly like "chart", the thing you steer boats with. The "er" is pronounced exactly like "er". Put them together and you get "Charter", pronounced as in Magna. The "is" is the only catch, and should be articulated by placing the tip of the tongue behind the front teeth, if any, and exhaling in a sharply sibilant manner which should not however attain the dimensions of a whistle. If either tongue or teeth are not available, a fresh soda siphon may be employed to produce a similar effect.
For the benefit of those really fascinated by the subject, the British aristocracy, several of whom dangled from this family tree, pronounced the name, in their quaint way, as "Charters"; the "i" being silent as in monocle.
Artur Tomé
terça-feira, dezembro 14, 2004
sábado, dezembro 11, 2004
o crime
Rapaz mata mãe e avó com um sabre. A TVI entrevista os vizinhos e segue-se o seguinte diálogo:
Vizinha: Ele sempre foi muito simpático. Muito acessível, bem-educado. Mas sim... acho que tinha algo de estranho... era... não sei, muito quieto...
Jornalista: Depressivo?
Vizinha: Sim... isso! Depressivo.
É bom saber que há jornalismo sério nos dias que correm. Eles bem dizem: só na TVI...
Vizinha: Ele sempre foi muito simpático. Muito acessível, bem-educado. Mas sim... acho que tinha algo de estranho... era... não sei, muito quieto...
Jornalista: Depressivo?
Vizinha: Sim... isso! Depressivo.
É bom saber que há jornalismo sério nos dias que correm. Eles bem dizem: só na TVI...
quinta-feira, dezembro 09, 2004
promethea
I am Promethea
The child who stands
Between fixed earth and insubstancial air,
A thought who yet treads matter’s
rain swept strands,
and mortals are the sandals that I wear
I am Promethea,
From mind's pure light
I stoop into Earth’s gloom.
From fable’s day
descending into Fact’s cold
weighty night,
from lyric atmosphere to mammal clay..
I am Promethea,
the rummored one,
the mythic bough that reason strains to bend.
I am the voice left, when the book is done
I am the dream that waking does not end.
Promethea
De Alan Moore (texto), J.H. Williams III (desenho) e Mick Gray (cor)
Trata-se de uma obra em 4 volumes, totalmente diferente de tudo o que o género da banda desenhada deu à luz até agora... Viagens e aventuras pelos vários planos da existência, num vórtice de cores e sensações estranhas mas fascinantes. Talvez a primeira BD esotérica.
O 1º volume pode ser uma excelente prenda de Natal. Quem avançar na leitura pelos outros volumes fá-lo-á seu próprio risco.
Artur Tomé
quarta-feira, dezembro 08, 2004
dia da mãe
Quando era pequena adorei descobrir que o 8 de Dezembro era o antigo Dia da Mãe, porque era esse o dia de anos da minha mãe. Como agora é apenas um feriado religioso (aos quais nunca ligo) e já não há festa de anos, celebro-o ao fazer sempre a árvore de Natal dia 8. Não deixa de ser uma festa...!
Já tinha editado este texto no extinto Território Literário mas não podia deixar passar o dia de hoje sem o incluir aqui, no meu cantinho:
os pés da minha mãe
Quando era pequena e andava, como sempre adorei andar, descalça pela casa em dias quentes de Verão, perdia o que na altura me pareciam horas a olhar para os pés da minha mãe, também eles descalços pois o corpo do qual faziam parte não suportava quaisquer amarras mesmo que sob a forma de tecidos ou calçado. Olhava para os pés dela e comparava-os aos meus. Para além da óbvia discrepância a nível de proporções, a diferença que mais me chamava a atenção (diria até, a que mais me chocava), estava na textura. Os pés da minha mãe tinham as palmas revestidas de pele que, com o passar do tempo e o passar por estradas, se tornara áspera, dura, formando o que me pareciam ser quase cascos. "Os meus pés nunca vão ficar assim," pensava eu. "As bailarinas têm pés suaves, como as princesas." Mais tarde vim a descobrir, por experiência própria, que o que as bailarinas têm são bolhas infernais…
Mais tarde ainda apercebi-me de que também a minha mãe tinha o porte e a postura das princesas da dança. Os pés eram práticos mas movimentava-os com a melhor das elegâncias.
Os pés da minha mãe já não andam e não consigo deixar de sentir que cada um dos seus calos vai, a pouco e pouco passando para os meus próprios pés, à medida que percorro o mesmo tipo de estradas por onde ela andou. Só espero que com a mesma graça.
Já tinha editado este texto no extinto Território Literário mas não podia deixar passar o dia de hoje sem o incluir aqui, no meu cantinho:
os pés da minha mãe
Quando era pequena e andava, como sempre adorei andar, descalça pela casa em dias quentes de Verão, perdia o que na altura me pareciam horas a olhar para os pés da minha mãe, também eles descalços pois o corpo do qual faziam parte não suportava quaisquer amarras mesmo que sob a forma de tecidos ou calçado. Olhava para os pés dela e comparava-os aos meus. Para além da óbvia discrepância a nível de proporções, a diferença que mais me chamava a atenção (diria até, a que mais me chocava), estava na textura. Os pés da minha mãe tinham as palmas revestidas de pele que, com o passar do tempo e o passar por estradas, se tornara áspera, dura, formando o que me pareciam ser quase cascos. "Os meus pés nunca vão ficar assim," pensava eu. "As bailarinas têm pés suaves, como as princesas." Mais tarde vim a descobrir, por experiência própria, que o que as bailarinas têm são bolhas infernais…
Mais tarde ainda apercebi-me de que também a minha mãe tinha o porte e a postura das princesas da dança. Os pés eram práticos mas movimentava-os com a melhor das elegâncias.
Os pés da minha mãe já não andam e não consigo deixar de sentir que cada um dos seus calos vai, a pouco e pouco passando para os meus próprios pés, à medida que percorro o mesmo tipo de estradas por onde ela andou. Só espero que com a mesma graça.
sábado, dezembro 04, 2004
pedimos desculpa pelo incómodo...
...mas o meu computador entrou em coma e alguém que não vou dizer que foi o meu pai teve a bela ideia de inserir um CD de recuperação que tem como defeito formatar todo o conteúdo do nosso belo iMac (também não vou referir o facto de, da última vez que o mac entrou em coma, ter-se conseguido usar o CD de recuperação e salvar TUDO...).
Isto para dizer que o texto semanal do meu pai se perdeu num qualquer buraco negro cibernético e que vos estou a escrever directamente do meu local de trabalho (eu tão vou ser despedida...) para que desculpem qualquer coisinha.
Retomaremos a emissão assim que possível.
Isto para dizer que o texto semanal do meu pai se perdeu num qualquer buraco negro cibernético e que vos estou a escrever directamente do meu local de trabalho (eu tão vou ser despedida...) para que desculpem qualquer coisinha.
Retomaremos a emissão assim que possível.
terça-feira, novembro 30, 2004
deixai vegetar as criancinhas
Aqui há dias veio-me parar às mãos um qualquer artigo em que um qualquer médico (deduzo que pediatra) defendia que passar trabalhos de casa a crianças é um acto de violação dos seus direitos por privá-los da sua liberdade e não lhes permitir desenvolver a sua criatividade.
Obviamente.
Para quê impedi-los de aproveitar o precioso tempo que têm para brincar, dando-lhes exercícios de Matemática que em nada melhoram a sua rapidez de raciocínio ou mesmo dizer-lhes que escrevam composições quando estas não aumentam o seu poder de auto-expressão? Pior: para quê sobrecarregá-los com o peso da enorme responsabilidade que é fazer os deveres para o dia seguinte? Um ultrage, sem dúvida.
Deixem-se, então, de crueldades e injustiças e as pobres criancinhas que passem a infância sentadas em frente à TV, ao computador ou a brincar com o telemóvel, pois só assim estarão verdadeiramente a aproveitar a liberdade a que têm direito... e, claro, a desenvolver a criatividade que ainda têm tão desperta. Afinal de contas, quando chegarem à idade adulta vão ter tantas preocupações e responsabilidades que, prepará-los já para isso, não será senão traumatizante.
Conhecimento, agilidade e capacidade de trabalho? Quem é que precisa disso...?
Obviamente.
Para quê impedi-los de aproveitar o precioso tempo que têm para brincar, dando-lhes exercícios de Matemática que em nada melhoram a sua rapidez de raciocínio ou mesmo dizer-lhes que escrevam composições quando estas não aumentam o seu poder de auto-expressão? Pior: para quê sobrecarregá-los com o peso da enorme responsabilidade que é fazer os deveres para o dia seguinte? Um ultrage, sem dúvida.
Deixem-se, então, de crueldades e injustiças e as pobres criancinhas que passem a infância sentadas em frente à TV, ao computador ou a brincar com o telemóvel, pois só assim estarão verdadeiramente a aproveitar a liberdade a que têm direito... e, claro, a desenvolver a criatividade que ainda têm tão desperta. Afinal de contas, quando chegarem à idade adulta vão ter tantas preocupações e responsabilidades que, prepará-los já para isso, não será senão traumatizante.
Conhecimento, agilidade e capacidade de trabalho? Quem é que precisa disso...?
sábado, novembro 27, 2004
Se Shakespeare tivesse um computador portátil…
Há muitos séculos atrás, numa galáxia distante… melhor dizendo, antes que uma senhora inglesa se chateasse com o marido português e começasse a escrever longos livros chatérrimos sobre um adolescente imbecil chamado Harry Potter, o autor mais vendido em Inglaterra chamava-se Terry Pratchett.
Claro que ser um top de vendas nada significa quanto ao valor literário do autor – mas Pratchett construira um universo de figuras coerente, delirante e profundamente bem estruturado. O seu Discworld é uma sociedade de natureza medieval, habitada por seres humanos, vampiros, trolls e toda a parafernalia das histórias de fadas. Há a Guilda dos Ladrões e dos Assassinos (que passam recibos e pagam impostos ao Estado sobre o seu trabalho), há uma Universidade de Magia, The Unseen University, (à volta da qual gravitam magos poderosos e feiticeiros de meia tigela), a Guarda do Palácio, as 3 bruxas do Hamlet e a Morte, entre outras figuras inesquecíveis que agora não me ocorrem.
As aventuras de Discworld não têm heróis residentes. Qualquer das principais personagens de uma história pode ser figurante noutra ou estar ausente em meia dúzia de livros. Nem o tom da escrita se mantém: as aventuras da Guarda são um misto de capa e espada e 007, algumas aventuras com magos contêm cenas assustadoras, as intervenções das 3 bruxas são de gargalhada pegada. Em quase todas as histórias Death está presente como supporting character, comunicando telepaticamente com as pessoas EM MAIÚSCULAS – à excepção do livro Mort, em que Death contrata um aprendiz não muito inteligente o qual cria um sarilho de dimensões cósmicas ao impedir que uma linda princesa por quem se apaixonara seja morta na data devida.
Aventura, terror ou comédia, Discworld é um mundo de literatura ligeiramente louca, ligeiramente surrealista, que revela um autor de imaginação prodigiosa que nunca deixa de nos espantar, encantar e divertir.
Artur Tomé
Claro que ser um top de vendas nada significa quanto ao valor literário do autor – mas Pratchett construira um universo de figuras coerente, delirante e profundamente bem estruturado. O seu Discworld é uma sociedade de natureza medieval, habitada por seres humanos, vampiros, trolls e toda a parafernalia das histórias de fadas. Há a Guilda dos Ladrões e dos Assassinos (que passam recibos e pagam impostos ao Estado sobre o seu trabalho), há uma Universidade de Magia, The Unseen University, (à volta da qual gravitam magos poderosos e feiticeiros de meia tigela), a Guarda do Palácio, as 3 bruxas do Hamlet e a Morte, entre outras figuras inesquecíveis que agora não me ocorrem.
As aventuras de Discworld não têm heróis residentes. Qualquer das principais personagens de uma história pode ser figurante noutra ou estar ausente em meia dúzia de livros. Nem o tom da escrita se mantém: as aventuras da Guarda são um misto de capa e espada e 007, algumas aventuras com magos contêm cenas assustadoras, as intervenções das 3 bruxas são de gargalhada pegada. Em quase todas as histórias Death está presente como supporting character, comunicando telepaticamente com as pessoas EM MAIÚSCULAS – à excepção do livro Mort, em que Death contrata um aprendiz não muito inteligente o qual cria um sarilho de dimensões cósmicas ao impedir que uma linda princesa por quem se apaixonara seja morta na data devida.
Aventura, terror ou comédia, Discworld é um mundo de literatura ligeiramente louca, ligeiramente surrealista, que revela um autor de imaginação prodigiosa que nunca deixa de nos espantar, encantar e divertir.
Artur Tomé
finalmente o Pratchett!
Excepcionalmente - e talvez por ser, de todos os autores que o meu pai me tenta fazer ler, o único que já li, e adorei (será que os outros também são assim tão bons...?) - segue-se um post sobre o Terry Pratchett. A vantagem que os livros dele têm sobre Rowlings ou Zimmer Bradleys é o facto de, apesar do universo criado ser o mesmo, as personagens alternarem de forma a que leitor nunca se canse delas nem do tipo de história. Leiam. Vão ver que vale a pena. (Nota mental: não terminar posts com frases que soem a slogans...)
loiras amadoras de seios grandes
Recebi ontem um e-mail do meu estimado amigo Pedro, a informar que tinha criado um blog em parceria com o nosso amigo Pedro. Quem os conhece sabe que dali não pode sair coisa boa... Por enquanto é post atrás de post de indecisão sobre o que hão-de escrever, mas vai ser interessante ver a evolução que o blog terá. Para quem não conhece nem o Relógio nem o Santarém, recomendo que espreitem .
Publicidade de graça... querem melhor, meninos?
Publicidade de graça... querem melhor, meninos?
quinta-feira, novembro 25, 2004
O Rasputine da Banda Desenhada
Pode parecer uma provocação apresentar um argumentista de BD como um autor a merecer o interesse dos leitores deste blog. Mais ainda se eu disser que considero o homem um dos maiores autores da língua inglesa.
Para piorar as coisas, duas das suas obras foram adaptadas ao cinema de forma desastrosa. "A Liga dos cavalheiros extraordinários" deve ser o pior filme que eu vi na vida e "From Hell" é uma coisinha delicodoce comparada com o tenebroso negrume da BD que lhe deu origem. Basta folhear o album aí pela FNAC , e ver a espessura (em páginas, em texto, em imagem… e em preço!, cerca de 40€) para se perceber que aquele volume tem matéria para três ou quatro filmes que tirariam o sono a qualquer um.
Alan Moore é negro na escrita e tem uma cultura enciclopédica sobre ciência, História e ocultismo. O seu livro "From Hell", que versa uma explicação do tema Jack, o estripador, é um tratado sobre a Maçonaria, desde o seu funcionamento interno até à simbologia maçónica na arquitectura e urbanismo de Londres. Também é um retrato arrepiante sobre a forma como eram tratados os doentes mentais no sec XIX.
Moore alcançou notoriedade mundial quando revolucionou o tema dos super-heróis com o seu álbum "Watchmen" e transformou uma figura menor da BD, "O monstro do pântano" numa série de terror de culto. Depois criou "V for vendetta" com um vingador tipo Fantasma da Ópera num hino à anarquia no meio de uma sociedade à la 1984.
Nas suas obras, não há personagens secundárias. Mesmo as figuras que aparecem em 2 ou 3 imagens têm personalidade e história próprias. Histórias que se entretecem com as de outros, de tal forma que, à 3ª ou 4ª leitura, ainda estamos a descobrir dados novos.
(continua)
Para piorar as coisas, duas das suas obras foram adaptadas ao cinema de forma desastrosa. "A Liga dos cavalheiros extraordinários" deve ser o pior filme que eu vi na vida e "From Hell" é uma coisinha delicodoce comparada com o tenebroso negrume da BD que lhe deu origem. Basta folhear o album aí pela FNAC , e ver a espessura (em páginas, em texto, em imagem… e em preço!, cerca de 40€) para se perceber que aquele volume tem matéria para três ou quatro filmes que tirariam o sono a qualquer um.
Alan Moore é negro na escrita e tem uma cultura enciclopédica sobre ciência, História e ocultismo. O seu livro "From Hell", que versa uma explicação do tema Jack, o estripador, é um tratado sobre a Maçonaria, desde o seu funcionamento interno até à simbologia maçónica na arquitectura e urbanismo de Londres. Também é um retrato arrepiante sobre a forma como eram tratados os doentes mentais no sec XIX.
Moore alcançou notoriedade mundial quando revolucionou o tema dos super-heróis com o seu álbum "Watchmen" e transformou uma figura menor da BD, "O monstro do pântano" numa série de terror de culto. Depois criou "V for vendetta" com um vingador tipo Fantasma da Ópera num hino à anarquia no meio de uma sociedade à la 1984.
Nas suas obras, não há personagens secundárias. Mesmo as figuras que aparecem em 2 ou 3 imagens têm personalidade e história próprias. Histórias que se entretecem com as de outros, de tal forma que, à 3ª ou 4ª leitura, ainda estamos a descobrir dados novos.
(continua)
enquanto o meu pai não escreve nada sobre o Pratchett...
(não quero, de forma alguma, que te sintas pressionado!) ...aqui vai uma citação do livro "Sorcery", que ainda não li, mas onde, pelos vistos, aparece novamente a Morte, aqui surpreendentemente sábia:
"I meant," said Iplsore bitterly, "what is there in this world that makes living worthwhile?" Death thought about it. "CATS," he said eventually, "CATS ARE NICE."
"I meant," said Iplsore bitterly, "what is there in this world that makes living worthwhile?" Death thought about it. "CATS," he said eventually, "CATS ARE NICE."
star struck II
- TV Cabo, boa noite, fala Marta Tomé. Em que posso ser útil?
- Boa noite. Desculpe incomodar... Daqui fala Simone de Oliveira.
- Boa noite. Desculpe incomodar... Daqui fala Simone de Oliveira.
terça-feira, novembro 23, 2004
insólitos
E qual não é a minha surpresa ao atender uma chamada de um cliente que teve o Playboy, trocou-o pelo Sexy Hot e liga a reclamar:
- Oh menina, aquilo é uma pouca-vergonha, menina! Uma mulher com três homens ao mesmo tempo?? Eu sou um homem casado, menina, não posso ver essas coisas!
Ele há com cada um...
- Oh menina, aquilo é uma pouca-vergonha, menina! Uma mulher com três homens ao mesmo tempo?? Eu sou um homem casado, menina, não posso ver essas coisas!
Ele há com cada um...
quinta-feira, novembro 18, 2004
perseguição...?
Fiz uma exposé a Francês sobre o Hinduismo e pus toda a gente a debater a hipótese da reencarnação. A John fez um post sobre o Om que deixou os seus leitores muito curiosos.
Encontrei uma amiga de infância indiana que não via há uns bons 2 anos e que se ofereceu para me levar a visitar o Templo Hindu em Telheiras quando eu quiser. A História Comparada das Religiões começámos a dar as Religiões da Ásia Oriental.
Estou-me a sentir um tanto ou quanto perseguida, mas nem me importo muito... :)
Para acabar de vez com as trilogias
Não contente com ter publicado dois textos meus numa mesma semana, a dona deste site pôs os pés à parede:
- Não podes escrever só dois textos quando comentas uma trilogia de cinco volumes. É preciso, pelo menos, mais outro.
A escravatura já acabou, minha gente.
Mas sempre aproveito a falta de tempo e inspiração para citar uma passagem da série, o que talvez ajude a perceber o caos em que caímos quando mergulhamos na sua leitura.
"There is a theory which states that if anyone discovers exactly
what the Universe is here for and why it is here, it will instantly disappear and be replaced by something even more bizarre and inexplicable."
E, virando a página,
"There is another theory which states that this has already happenned."
E, por hoje, é tudo. A não ser para anunciar que descobri o meu objectivo na vida deste blog. Uma vez que muitos dos seus leitores estudam cultura inglesa, assumo a missão de revelar autores fundamentais que não são dados a conhecer em nenhuma cadeira da Nova.
Artur Tomé
Próximo autor: Alan Moore
- Não podes escrever só dois textos quando comentas uma trilogia de cinco volumes. É preciso, pelo menos, mais outro.
A escravatura já acabou, minha gente.
Mas sempre aproveito a falta de tempo e inspiração para citar uma passagem da série, o que talvez ajude a perceber o caos em que caímos quando mergulhamos na sua leitura.
"There is a theory which states that if anyone discovers exactly
what the Universe is here for and why it is here, it will instantly disappear and be replaced by something even more bizarre and inexplicable."
E, virando a página,
"There is another theory which states that this has already happenned."
E, por hoje, é tudo. A não ser para anunciar que descobri o meu objectivo na vida deste blog. Uma vez que muitos dos seus leitores estudam cultura inglesa, assumo a missão de revelar autores fundamentais que não são dados a conhecer em nenhuma cadeira da Nova.
Artur Tomé
Próximo autor: Alan Moore
vou ser tia! (como quem diz...)
MUITOS parabéns à Fátima que, daqui a seis meses, será a minha primeira amiga a ser mamã :).
Tenho a certeza que a Dalila vai adorar as histórias para dormir: os irmãos Grimm não te chegam aos calcanhares.
Tenho a certeza que a Dalila vai adorar as histórias para dormir: os irmãos Grimm não te chegam aos calcanhares.
sexta-feira, novembro 12, 2004
star struck
Fui ao El Corte Inglés beber café. Depois de horas a arrastar um muito paciente namorado, à procura de saias ou vestidos compridos (ando com desejos...) e de perceber que só os há em versão gala, descemos de piso e fui espreitar os livros. Pelo caminho deparei-me com uma série de cartazes de livros da Joanne Harris, que rodeavam uma mesa onde estava uma senhora sentada com funcionárias do El Corte à volta. E não é que era a Joanne Harris...?
Peço autógrafo, não peço autógrafo? Oh, minha Deusa, é mesmo a Joanne Harris...!
Aproveitei. Não havia fila e só tive que esperar que um casal deixasse de conversar com ela para lhe pedir uma assinatura. Ainda fui interpelada por uma das raparigas, que me perguntou se eu era da revista Mariana... Hell, no! Chegou a minha vez e lá lhe dei uma folhinha que a senhora - muito mais despachada e decidida que aparenta ser nas fotografias angelicais dos livros - me autografou. Ao ir-me embora, o namorado deu-me na cabeça por não ter conversado com ela... Como me tinha deixado somente a assinatura, ele pegou na folha e foi ter com a escritora pedir que acrescentasse o meu nome.
Que ela escreveu sem "th", pela primeira vez na minha experiência com anglo-saxões...
Peço autógrafo, não peço autógrafo? Oh, minha Deusa, é mesmo a Joanne Harris...!
Aproveitei. Não havia fila e só tive que esperar que um casal deixasse de conversar com ela para lhe pedir uma assinatura. Ainda fui interpelada por uma das raparigas, que me perguntou se eu era da revista Mariana... Hell, no! Chegou a minha vez e lá lhe dei uma folhinha que a senhora - muito mais despachada e decidida que aparenta ser nas fotografias angelicais dos livros - me autografou. Ao ir-me embora, o namorado deu-me na cabeça por não ter conversado com ela... Como me tinha deixado somente a assinatura, ele pegou na folha e foi ter com a escritora pedir que acrescentasse o meu nome.
Que ela escreveu sem "th", pela primeira vez na minha experiência com anglo-saxões...
quinta-feira, novembro 11, 2004
A trilogia em cinco volumes
"Esclareço que escrevo este texto no pleno uso das minhas faculdades mentais. Não bebi, não fumei nem ingeri sob qualquer forma nenhum produto com efeitos psicotrópicos. Esta trilogia é que é louca por natureza."
"The Hitchicker's Guide To The Galaxy" é um projecto de Douglas Adams que começou como programa de rádio, passou a livro e se tornou uma lenda de culto que anda há que anos para ser adaptado ao cinema. Há por aí um trailer que não adianta muito…
A história é mais ou menos assim:
Algures no Universo, uma civilização decidiu criar um computador que pudesse responder à grande questão sobre Deus, o Universo e Tudo o mais. O projecto teve a oposição do Grémio dos filósofos e psicanalistas lá do sítio, que viam os seus empregos ameaçados. Mas, uma vez construído, o computador anunciou que, sim senhor, podia computar tal resposta mas que isso ia levar tempo – uns milhares de anos.
O tempo passou e, finalmente, o computador anunciou ter encontrado a resposta: quarenta e dois.
Só face a tal resposta é que se percebeu que ninguém sabia qual era a pergunta. E para a definir foi construído outro computador maior – a Terra – que processaria a resposta dentro de alguns milhões de anos.
Quando a resposta está prestes a ser calculada, uma esquadra dos terríveis Vogons, cujo comandante é manipulado pelo seu psiquiatra privativo, arrasa a Terra com um pretexto fútil.
Sobrevivem apenas dois terrestres: Arthur Dent, um trintão pató que é resgatado por um amigo de longa data, de seu nome Ford Perfect, que era afinal um ET que viajava pelo Universo à boleia: e Trillian, uma moça inglesa que partira tempos atrás com um namorado que era o Presidente do Universo e que viajava numa nave com um motor de improbabilidade ilimitada.
Mas a personagem mais admirável do livro é Marvin, um robot que é o mordomo do presidente. Marvin, superinteligente e superdeprimido está constantemente a ser abandonado milhões de anos no passado e no futuro, por esquecimento, pelos humanos que efectuam constantes viagens pelo tempo e acaba mais velho que a própria Criação .
Se fosse só isto, a obra seria relativamente racional. Mas há constantes deambulações do narrador que tanto fala duma civilização de seres de cinquenta braços que foram a única raça da galáxia a inventar o desodorizante antes da roda, como leva a tal nave com motor de improbabilidade ilimitada a um encontro com uma infinidade de macacos agarrados a máquinas de escrever que acabam de criar o Hamlet.
(continua no próximo número)
Como ler o "Guia":
Tive a sorte de começar a ler a trilogia pelo segundo volume, o que recomendo vivamente. Tem a grande vantagem de resumir o que se passou no primeiro (o que, acreditem, é uma grande ajuda) e de tratar dos pontos fundamentais da linha narrativa.
O primeiro volume engonha um pouco, sente-se que o autor está a escrever sem fazer a mínima ideia do que vai acrescentar no parágrafo seguinte. Lá para o fim os heróis encontram-se com as cobaias que encomendaram a construção do Planeta Terra… Sim, estão a ler bem: em matéria de QI, os habitantes da Terra classificam-se, por ordem crescente, em terceiro lugar os humanos, em segundo, os golfinhos e em primeiro lugar os ratinhos de laboratório que estão a estudar os humanos enquanto os convencem que os humanos é que os estão a estudar a eles.
O terceiro volume é para esquecer: graças a uma viagem no tempo, voltamos à Terra dois dias antes da sua destruição mas tudo gira à volta de um jogo de cricket onde há uns postes que uns outros extraterrestres desejam, o que dá origem a uma guerra interestrelar tão confusa como o jogo que os bifes inventaram.
Passemos então do segundo volume para o quarto, o mais romântico e "feliz" dos cinco volumes desta trilogia. Arthur Dent apaixona-se e consegue ensinar a noiva a voar (sabem, aquela técnica em que saltamos e nos esquecemos de cair; é só apanhar o jeito). A Terra está de volta, mas é uma cópia que os golfinhos nos deixaram, com uma frase de despedida. "So long, and thanks for all the fish".
Touching…
O quinto volume? Já o li na FNAC mas macacos me mordam se faço alguma ideia do seu conteúdo.
Por ordem de saída, os livros são os seguintes (à frente, a minha classificação de 1 a 5)
The Hitch Hicker's Guide To the Galaxy ####
The Restaurant at the end of the Universe #####
Life, the Universe and Everything ##
So long, and thanks for all the fish #####
Mostly Harmless ???
(Pan Books)
Artur Tomé
"The Hitchicker's Guide To The Galaxy" é um projecto de Douglas Adams que começou como programa de rádio, passou a livro e se tornou uma lenda de culto que anda há que anos para ser adaptado ao cinema. Há por aí um trailer que não adianta muito…
A história é mais ou menos assim:
Algures no Universo, uma civilização decidiu criar um computador que pudesse responder à grande questão sobre Deus, o Universo e Tudo o mais. O projecto teve a oposição do Grémio dos filósofos e psicanalistas lá do sítio, que viam os seus empregos ameaçados. Mas, uma vez construído, o computador anunciou que, sim senhor, podia computar tal resposta mas que isso ia levar tempo – uns milhares de anos.
O tempo passou e, finalmente, o computador anunciou ter encontrado a resposta: quarenta e dois.
Só face a tal resposta é que se percebeu que ninguém sabia qual era a pergunta. E para a definir foi construído outro computador maior – a Terra – que processaria a resposta dentro de alguns milhões de anos.
Quando a resposta está prestes a ser calculada, uma esquadra dos terríveis Vogons, cujo comandante é manipulado pelo seu psiquiatra privativo, arrasa a Terra com um pretexto fútil.
Sobrevivem apenas dois terrestres: Arthur Dent, um trintão pató que é resgatado por um amigo de longa data, de seu nome Ford Perfect, que era afinal um ET que viajava pelo Universo à boleia: e Trillian, uma moça inglesa que partira tempos atrás com um namorado que era o Presidente do Universo e que viajava numa nave com um motor de improbabilidade ilimitada.
Mas a personagem mais admirável do livro é Marvin, um robot que é o mordomo do presidente. Marvin, superinteligente e superdeprimido está constantemente a ser abandonado milhões de anos no passado e no futuro, por esquecimento, pelos humanos que efectuam constantes viagens pelo tempo e acaba mais velho que a própria Criação .
Se fosse só isto, a obra seria relativamente racional. Mas há constantes deambulações do narrador que tanto fala duma civilização de seres de cinquenta braços que foram a única raça da galáxia a inventar o desodorizante antes da roda, como leva a tal nave com motor de improbabilidade ilimitada a um encontro com uma infinidade de macacos agarrados a máquinas de escrever que acabam de criar o Hamlet.
(continua no próximo número)
Como ler o "Guia":
Tive a sorte de começar a ler a trilogia pelo segundo volume, o que recomendo vivamente. Tem a grande vantagem de resumir o que se passou no primeiro (o que, acreditem, é uma grande ajuda) e de tratar dos pontos fundamentais da linha narrativa.
O primeiro volume engonha um pouco, sente-se que o autor está a escrever sem fazer a mínima ideia do que vai acrescentar no parágrafo seguinte. Lá para o fim os heróis encontram-se com as cobaias que encomendaram a construção do Planeta Terra… Sim, estão a ler bem: em matéria de QI, os habitantes da Terra classificam-se, por ordem crescente, em terceiro lugar os humanos, em segundo, os golfinhos e em primeiro lugar os ratinhos de laboratório que estão a estudar os humanos enquanto os convencem que os humanos é que os estão a estudar a eles.
O terceiro volume é para esquecer: graças a uma viagem no tempo, voltamos à Terra dois dias antes da sua destruição mas tudo gira à volta de um jogo de cricket onde há uns postes que uns outros extraterrestres desejam, o que dá origem a uma guerra interestrelar tão confusa como o jogo que os bifes inventaram.
Passemos então do segundo volume para o quarto, o mais romântico e "feliz" dos cinco volumes desta trilogia. Arthur Dent apaixona-se e consegue ensinar a noiva a voar (sabem, aquela técnica em que saltamos e nos esquecemos de cair; é só apanhar o jeito). A Terra está de volta, mas é uma cópia que os golfinhos nos deixaram, com uma frase de despedida. "So long, and thanks for all the fish".
Touching…
O quinto volume? Já o li na FNAC mas macacos me mordam se faço alguma ideia do seu conteúdo.
Por ordem de saída, os livros são os seguintes (à frente, a minha classificação de 1 a 5)
The Hitch Hicker's Guide To the Galaxy ####
The Restaurant at the end of the Universe #####
Life, the Universe and Everything ##
So long, and thanks for all the fish #####
Mostly Harmless ???
(Pan Books)
Artur Tomé
és primo de quem...?!
Entraram, esta semana, novos operadores para o atendimento da TV Cabo. Como os da noite não são muitos, a supervisão pediu-me para lhes dar apoio durante as chamadas. Reparei que um deles tinha Alexandre O'Neill entre o primeiro nome e o apelido. "Era meu primo", respondeu ele.
Para quem porventura não conheça a obra do senhor, aqui vai um poema sobre o ser mais perfeito da Criação:
Gato | Alexandre O’Neill
Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhore de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!
De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?
Para quem porventura não conheça a obra do senhor, aqui vai um poema sobre o ser mais perfeito da Criação:
Gato | Alexandre O’Neill
Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhore de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!
De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?
quinta-feira, novembro 04, 2004
Da tabuada aos blogs
Lentamente vai nascendo em mim uma irritação em relação aos blogs. Com a sensação crescente de que há qualquer coisa de errado, de batota, nesta forma de comunicação.
Deixem-me ir à minha infância para me ajudar a mim próprio a definir-me.
No princípio havia a tabuada. No liceu, professores como o Palma Fernandes, ensinavam cálculo mental. (Nada mais simples do que multiplicar um número por 25: multiplica-se por 100 e divide-se por 4). Hoje vai-se a um café ou uma tabacaria, compra-se um café e um bolo, um jornal e um maço de tabaco e, quem nos atende, tem de fazer a soma na registadora para saber qual o total da despesa. Mesmo que tenham aprendido a tabuada, não houve ginástica, não houve rotina de esforço continuado, a arte de calcular de cabeça perdeu-se.
Aprendi também a desenhar letra e como espacejar as letras de uma palavra. Surgiram primeiro as letras de decalque da Mecanorma, depois os tipos de letra nos computadores e hoje poucos art directors sabem que, no cabeçalho de uma notícia ou de um anúncio, o espacejamento entre letras deve ser ajustado. (Experimentem imprimir BAAL e VALE em maiúsculas no tamanho 30 ou 40 pontos. O espaço entre o V e o A tem de ser aumentado e o espaço entre os dois AA tem de ser reduzido, senão o par VA fica muito junto e o AA muito separado). Perdeu-se uma arte que resulta de esforço e de técnica para ser assimilada. Sobrevive sob o nome de lettering, uma bizarria de designers mais profissionais.
Os blogs são outro desastre nessa mesma linha de enfraquecimento de uma arte por ausência de esforço e de perda de "ginástica".
No meu tempo (raio de expressão, sinto-me um velhinho de dedo encarquilhado em riste), quem escrevia alguma coisa e a queria comunicar ao público, tinha de procurar um editor. Tinha de escolher quem se ocupasse de temas relacionados com o que escrevia e sujeitar-se aos comentários desse editor e, eventualmente, dos leitores anónimos.
Com os blogs é tudo mais fácil. Pois, o problema é esse. "Tenho um blog, vai visitá-lo e envia os teus comentários". Os amigos e a família não são feitos para comentar tentativas literárias, são feitos para serem família e amigos. E nenhum fará uma crítica fria e profissional como um editor a quem editar ou não editar aquilo é uma decisão que sentirá na carteira.
Sim, já havia poetas e contistas com edições de autor. Mas era uma decisão a ser bem pensada, porque custava dinheiro e dava trabalho ter de visitar livrarias a pedir para terem alguns exemplares à comissão. Agora escreve-se um texto num blog e sentimos a alma reconfortada porque amigos e conhecidos de outros blogs escrevem-nos a comentar os nossos textos.
É batota, minha gente. O mundo real, lá fora, é mais duro, filhota. Não deixes que a prática dos blogs vá enfraquecer a excelente musculatura que agora tens.
Um abraço a todos.
Artur Tomé
Deixem-me ir à minha infância para me ajudar a mim próprio a definir-me.
No princípio havia a tabuada. No liceu, professores como o Palma Fernandes, ensinavam cálculo mental. (Nada mais simples do que multiplicar um número por 25: multiplica-se por 100 e divide-se por 4). Hoje vai-se a um café ou uma tabacaria, compra-se um café e um bolo, um jornal e um maço de tabaco e, quem nos atende, tem de fazer a soma na registadora para saber qual o total da despesa. Mesmo que tenham aprendido a tabuada, não houve ginástica, não houve rotina de esforço continuado, a arte de calcular de cabeça perdeu-se.
Aprendi também a desenhar letra e como espacejar as letras de uma palavra. Surgiram primeiro as letras de decalque da Mecanorma, depois os tipos de letra nos computadores e hoje poucos art directors sabem que, no cabeçalho de uma notícia ou de um anúncio, o espacejamento entre letras deve ser ajustado. (Experimentem imprimir BAAL e VALE em maiúsculas no tamanho 30 ou 40 pontos. O espaço entre o V e o A tem de ser aumentado e o espaço entre os dois AA tem de ser reduzido, senão o par VA fica muito junto e o AA muito separado). Perdeu-se uma arte que resulta de esforço e de técnica para ser assimilada. Sobrevive sob o nome de lettering, uma bizarria de designers mais profissionais.
Os blogs são outro desastre nessa mesma linha de enfraquecimento de uma arte por ausência de esforço e de perda de "ginástica".
No meu tempo (raio de expressão, sinto-me um velhinho de dedo encarquilhado em riste), quem escrevia alguma coisa e a queria comunicar ao público, tinha de procurar um editor. Tinha de escolher quem se ocupasse de temas relacionados com o que escrevia e sujeitar-se aos comentários desse editor e, eventualmente, dos leitores anónimos.
Com os blogs é tudo mais fácil. Pois, o problema é esse. "Tenho um blog, vai visitá-lo e envia os teus comentários". Os amigos e a família não são feitos para comentar tentativas literárias, são feitos para serem família e amigos. E nenhum fará uma crítica fria e profissional como um editor a quem editar ou não editar aquilo é uma decisão que sentirá na carteira.
Sim, já havia poetas e contistas com edições de autor. Mas era uma decisão a ser bem pensada, porque custava dinheiro e dava trabalho ter de visitar livrarias a pedir para terem alguns exemplares à comissão. Agora escreve-se um texto num blog e sentimos a alma reconfortada porque amigos e conhecidos de outros blogs escrevem-nos a comentar os nossos textos.
É batota, minha gente. O mundo real, lá fora, é mais duro, filhota. Não deixes que a prática dos blogs vá enfraquecer a excelente musculatura que agora tens.
Um abraço a todos.
Artur Tomé
quarta-feira, novembro 03, 2004
volta Clinton, estás perdoado!
Segundo o site do New York Times, as percentagens dos votos para a presidência do Império estão a: 53.3% Bush vs. 46% Kerry. Enquanto rezo para que o Júnior não ganhe e para que o Mundo não fique um mês sem saber quem é, de facto, Presidente, aqui vai um olhar nostálgico pelos mais memoráveis "Bushisms" (deixei de fora "Tenho pena de não saber falar latim para poder comunicar com os povos da América Latina" e o clássico "Fool me once, shame on...shame on you. Fool me...if fooled you can't get fooled again.")
Prémio Filantropia:
"Keep good relations with the Grecians."
Prémio Jessica Simpson:
"I have a different vision of leadership. A leadership is someone who brings people together."
Prémio Einstein:
"It's clearly a budget. It's got a lot of numbers in it."
Prémio Dislexia:
"They misunderestimated me."
Prémio Esquizofrenia:
"I have opinions of my own - strong opinions - but I don't always agree with them."
Prémio Archie Bunker:
"I mean, there needs to be a wholesale effort against racial profiling, which is illiterate children."
Prémio Carrasco:
"I'm not sure 80% of the people get the death tax. I know this: 100% will get it if I'm the president."
Prémio O Triunfo dos Porcos:
"If most of the breaks go to wealthy people it's because most of the people who pay taxes are wealthy."
Prémio Supremacia:
"We're going to have the best educated american people in the world."
Prémio Agatha Christie:
"[The 9/11 report] reads like a mystery, a novel. It's well written."
Prémio Hermafrodita:
"The most important job is not to be governor, or first lady in my case."
Prémio Nostradamus:
"I have made good judgments in the past. I have made good judgments in the future."
Prémio João Viera Pinto:
"I hope the ambitious realize that they are more likely to succeed with success as opposed to failure."
Prémio Um Qualquer Outro Jogador de Futebol:
"If we don't succeed, we run the risk of failure."
Prémio Pioneiro:
"In my sentences I go where no man has gone before."
domingo, outubro 31, 2004
halloween
Antes dos miúdos americanos andarem a bater de porta em porta a dizer "trick or treat" já o Halloween era celebrado há milhares de anos.
As "bruxas", regendo-se pelos ciclos da Natureza, consideravam a passagem do dia 31 de Outubro para o 1 de Novembro como o iníco do Ano Novo: acabava o Verão, começava o Inverno. Fazia-se uma lista das fraquezas pessoais e maus hábitos dos quais cada pessoa se queria ver livre (onde é que eu já ouvi isto...?).
Também era esta a data de maior aproximação entre os mundos visível e invisível, o que permitia aos espíritos das pessoas falecidas durante o ano andarem livremente ao nosso lado... daí o uso da abóbora com a cara assustadora e a velinha lá dentro, para afastar entidades malignas. Mas, como nem todos os espíritos são maus, era servida uma refeição aos entes queridos que já tinham deixado este mundo. Ainda hoje, uma tia minha, ao preparar a mesa para o Natal, deixa sempre um prato a mais com esse mesmo propósito.
Curiosidades à parte, desejo a todos um feliz Dia das Bruxas!
quinta-feira, outubro 28, 2004
Ged, o feiticeiro que Harry Potter gostaria de ser quando for crescido
Only in silence the word,
only in dark the light,
only in dying life:
bright the hawk's flight
on the empty sky.
--From the Creation of Ea
in O Feiticeiro de Terramar de Ursula le Guin
Creio que foi Isaac Asimov o primeiro escritor a lançar a moda das trilogias na literatura fantástica com a sua série da Fundação. Seguiu-se O Senhor dos Aneis e o fabuloso The Hitchicker´s Guide to the Galaxy de Douglas Adams. A partir daí, foi um fartar vilanagem.
Curiosamente, estas trilogias têm sempre mais de três volumes. O Hobbit faz parte do universo do Senhor dos Aneis, o Guia tem 5 volumes, a Fundação viu-se acrescida, recentemente, de mais 3 volumes. A trilogia de que nos ocupamos hoje tem 4 volumes, só três ainda editados em português na Argonauta. Com todo o lixo que há por aí sobre feiticeiros e dragões, vale a pena recordar "the real thing".
Falamos do Feiticeiro de Terramar, de Ursula le Guin, uma autora que tanto escreve mainstream como papa prémios na área da ficção científica. Terramar é um mundo quase todo coberto de mar, salpicado de arquipélagos, onde a magia é ferramenta indispensável ao viver do dia-a-dia e a feitiçaria uma profissão respeitada.
Conseguem-se fazer feitiços conhecendo o nome verdadeiro de cada ser, o nome que lhe foi concedido no início da criação. É isso que os alunos da escola de feitiçaria aprendem e com esse conhecimento controlam os ventos, mudam de aspecto, curam doenças, etc…
O Feiticeiro de Terramar narra a vida de Gavião, um jovem guardador de cabras com uma apetência natural para a magia, desde que entra na escola até atingir o cargo de arquimago. Ao contrário de Harry Potter, toda a narrativa é centrada no respeito pela natureza, num mundo de agricultores e marinheiros, numa atitude de recolhimento interior e ternura e respeito pela vida. Não há bons contra maus. Há forças do bem e forças do mal que coabitam em cada ser humano e a luta que se trava é interior.
E há os dragões, imensos de tamanho e idade, que falam a língua original. Os dragões de Terramar fazem com que todos os outros dragões da literatura pareçam bonecos de plasticina. O leitor sente-lhes o calor do bafo à distância, encolhe-se ante a visão das suas garras, evita olhá-los nos olhos.
Durante a sua formação na escola dos magos, Gavião (de seu nome real Ged), trava um duelo de conhecimentos com um colega e o seu orgulho fá-lo invocar um ser do mundo dos mortos. O resultado é a libertação de um ser negro e aterrador que o ataca e que exige a intervenção do arquimago da altura para ser afastado. O arquimago morre no encontro e Ged fica em coma, com o rosto desfigurado. Recuperando lentamente, acaba por terminar o curso e parte para as ilhas, aplicando o seu saber junto dos mais desfavorecidos que peçam os seus serviços.
Mas há um temor que o persegue. Conhecidos seus alegam ter visto uma figura brumosa, semelhante a Ged, cada vez mais perto. Ged vai fugindo da figura que libertou na adolescência, mas o mal aproxima-se cada vez mais dele. Um dragão que Ged forçara a abandonar uma ilha de pescadores que queria habitar, propõe-lhe revelar o nome da figura misteriosa, se Ged o libertar do seu domínio. Ged não cede, mas fica a saber que a Coisa tem nome. Quando souber tal nome poderá dominá-lo.
E os dois acabam por se encontrar frente a frente e Ged compreende qual o nome do Outro.
Não vou retirar o interesse do primeiro volume da trilogia, mas, se o leitor adivinhar qual o nome do Outro, e como este pode ser dominado, está pronto para entrar na escola dos feiticeiros.
A trilogia Terramar em português:
O Feiticeiro de Terramar, colecção Argonauta nº 276
Os Túmulos de Atuan, colecção Argonauta nº 284
O Outro Lado do Mundo, colecção Argonauta nº 93
= Artur Tomé =
quarta-feira, outubro 27, 2004
eu sofro
Represente as formas subjacentes, identificando os respectivos constituintes das formas verbais: sofro / sofres.
Com certeza: eu sofro ao ter cadeiras de Linguística...
Tudo bem que, estando num curso de Literatura, há que conhecer o funcionamento da língua. Se apenas tivéssemos Introdução aos Estudos Linguísticos era uma coisa, mas sermos obrigados a fazer ainda uma cadeira específica já não tem muita lógica...:
1º os alunos de Linguística não têm uma única cadeira de Literatura;
2º ensinam-nos uma série de regras para no fim concluirem que há imensas excepções, algumas com mais ocorrência do que a própria regra;
3º ensinam-nos uma série de conceitos para no fim dizerem que nem todos os linguistas estão de acordo na questão;
4º a essência da matéria é incrivelmente simples mas insistem em dissecar e rotular cada letra que lhes aparece à frente.
Peço desculpa pelo desabafo, mas acabei de sair de um teste de Morfologia... :'(
Com certeza: eu sofro ao ter cadeiras de Linguística...
Tudo bem que, estando num curso de Literatura, há que conhecer o funcionamento da língua. Se apenas tivéssemos Introdução aos Estudos Linguísticos era uma coisa, mas sermos obrigados a fazer ainda uma cadeira específica já não tem muita lógica...:
1º os alunos de Linguística não têm uma única cadeira de Literatura;
2º ensinam-nos uma série de regras para no fim concluirem que há imensas excepções, algumas com mais ocorrência do que a própria regra;
3º ensinam-nos uma série de conceitos para no fim dizerem que nem todos os linguistas estão de acordo na questão;
4º a essência da matéria é incrivelmente simples mas insistem em dissecar e rotular cada letra que lhes aparece à frente.
Peço desculpa pelo desabafo, mas acabei de sair de um teste de Morfologia... :'(
terça-feira, outubro 26, 2004
"o sol cuspiu a manhã na cara do gajo"
Depois de um jejum teatral de quase um ano, lá segui o conselho de uma amiga (conhecida na comunidade bloguística como J.) e fui ver "O Mocho e Gatinha", em cena no Teatro Mário Viegas. Já tinha ouvido falar da dita mas como o título me remetia para uma peça infantil, não lhe dei muita atenção. Trata-se, afinal, de uma história de amor absolutamente hilariante entre um pseudo-escritor e uma pseudo-prostituta com sérias dificuldades em se adaptarem ao mundo um do outro.
São três horas (sim, três, mas nem dão por elas) de riso constante com uma peça que, palhaçadas à parte, consegue ter substância e nos faz reflectir sobre as relações humanas, principalmente no que toca à nossa inflexibilidade em tentar ver através da perspectiva de um outro completamente oposto a nós - e que, se olharmos com atenção, talvez seja mais parecido connosco do que estávamos à espera.
Só está em cena durante mais dois fins-de-semana.
Vão ver!
quinta-feira, outubro 21, 2004
não, não é outro duo pimba pai-filha...
Fãs do meu pai (I know you're out there :P), trago boas novas:
Após longa e intensa conversação - acampanhada de croissants com manteiga e um ou outro cigarro - o meu estimado progenitor e eu combinámos que, a partir da próxima semana, o espaço do blog às 5ªs feiras passa a pertencer ao sr Artur.
Quem já conhece sabe que vai gostar; quem ainda não teve o prazer, garanto que vai ter ;).
Após longa e intensa conversação - acampanhada de croissants com manteiga e um ou outro cigarro - o meu estimado progenitor e eu combinámos que, a partir da próxima semana, o espaço do blog às 5ªs feiras passa a pertencer ao sr Artur.
Quem já conhece sabe que vai gostar; quem ainda não teve o prazer, garanto que vai ter ;).
terça-feira, outubro 19, 2004
geração call center
Texto que o meu pai escreveu inicialmente para outro blog (traidor...!), o Truca, que podem encontrar nos links. A única coisa que tenho a acrescentar é que, no que toca à minha experiência corrente - apoio ao cliente - o espaço de manobra em relação ao contacto com o cliente é maior do que no telemarketing: nós sabemos mesmo tudo e somos todos-poderosos...!
Mas passo a palavra ao meu pai:
A geração call center
São centenas de jovens trabalhadores, e alguns já não tão novos como isso. Estudantes universitários, procurando num part-time um subsídio para as propinas e para os livros, licenciados em psicologia, antropologia e "letras", assistentes sociais…
Trabalham em salas segmentadas em cubículos como colmeias, diante de um computador que os liga aos clientes e lhes apresenta o script do que têm a dizer e como argumentar. Foram recrutados por empresas de trabalho temporário e são a voz de empresas que nunca visitaram.
Esta "geração call center", como a minha filha lhe chama, todas essas Martas da OK Teleseguros e afins, representam uma força de trabalho crescente, uma ferramenta de marketing ao serviço das principais empresas, e vai ganhando um conhecimento do país real que nenhum tratado de gestão ou sociologia lhes poderia dar.
Um país real de cidadãos que não sabem como dar voz às queixas que querem apresentar, que nada percebem do equipamento que compraram, que se sentem perdidos por falar para uma voz ao telefone quando o que queriam era alguém que os visse e a quem pudessem falar cara a cara.
"O mê marido nã tai, foi tirar lête", "os meus pais foram para as vindimas, só voltam lá para o fim do mês", velhinhos isolados no interior, na maioria analfabetos e arfantes de qualquer doença brônquica, que remetem a decisão sobre o novo serviço que lhes é apresentado para quando os filhos os forem visitar e contam as suas mágoas, dores e solidão, ocupando tanto mais tempo a linha telefónica quanto menos a vida se tem ocupado deles. O mercado real do consumidor do produto, fora daquela invenção cosmopolita dos modelos do Image Bank, gente real com pagamentos em atraso dos seguros, dos Visas, da televisão por cabo.
Gente para quem a empresa a quem compraram o produto ou serviço é aquela voz, a quem agradecem o restabelecimento da ligação à Net, uma tabela de preços mais simpática ou a concessão do pagamento de uma dívida em quatro prestações; voz que insultam quando estão irritados com a empresa, voz que acham que deve saber tudo quando a voz só tem um pequeno script no écran que tem de seguir sem falhas porque as conversas são monitoradas por supervisores a quem têm de pedir licença para ir à casa de banho.
Vozes que vão dizendo "Daqui fala a Marta" enquanto o sonho de um emprego a sério vai morrendo debaixo dos auriculares e diante do script.
Artur Tomé
Mas passo a palavra ao meu pai:
A geração call center
São centenas de jovens trabalhadores, e alguns já não tão novos como isso. Estudantes universitários, procurando num part-time um subsídio para as propinas e para os livros, licenciados em psicologia, antropologia e "letras", assistentes sociais…
Trabalham em salas segmentadas em cubículos como colmeias, diante de um computador que os liga aos clientes e lhes apresenta o script do que têm a dizer e como argumentar. Foram recrutados por empresas de trabalho temporário e são a voz de empresas que nunca visitaram.
Esta "geração call center", como a minha filha lhe chama, todas essas Martas da OK Teleseguros e afins, representam uma força de trabalho crescente, uma ferramenta de marketing ao serviço das principais empresas, e vai ganhando um conhecimento do país real que nenhum tratado de gestão ou sociologia lhes poderia dar.
Um país real de cidadãos que não sabem como dar voz às queixas que querem apresentar, que nada percebem do equipamento que compraram, que se sentem perdidos por falar para uma voz ao telefone quando o que queriam era alguém que os visse e a quem pudessem falar cara a cara.
"O mê marido nã tai, foi tirar lête", "os meus pais foram para as vindimas, só voltam lá para o fim do mês", velhinhos isolados no interior, na maioria analfabetos e arfantes de qualquer doença brônquica, que remetem a decisão sobre o novo serviço que lhes é apresentado para quando os filhos os forem visitar e contam as suas mágoas, dores e solidão, ocupando tanto mais tempo a linha telefónica quanto menos a vida se tem ocupado deles. O mercado real do consumidor do produto, fora daquela invenção cosmopolita dos modelos do Image Bank, gente real com pagamentos em atraso dos seguros, dos Visas, da televisão por cabo.
Gente para quem a empresa a quem compraram o produto ou serviço é aquela voz, a quem agradecem o restabelecimento da ligação à Net, uma tabela de preços mais simpática ou a concessão do pagamento de uma dívida em quatro prestações; voz que insultam quando estão irritados com a empresa, voz que acham que deve saber tudo quando a voz só tem um pequeno script no écran que tem de seguir sem falhas porque as conversas são monitoradas por supervisores a quem têm de pedir licença para ir à casa de banho.
Vozes que vão dizendo "Daqui fala a Marta" enquanto o sonho de um emprego a sério vai morrendo debaixo dos auriculares e diante do script.
Artur Tomé
domingo, outubro 17, 2004
aniversário II
Após um jantar de sangria, com muitos golos do Sporting, brindes à aniversariante, ao sr Fernandes - que nos surpreendeu com um bolo e uma garrafa de champanhe - e, como não podia deixar de ser, ao nosso amigo Oscar Wilde, venho dar os parabéns à nossa adorável Coelhinha Assassina.
Como prenda, vou ajudar a sua causa, fazendo publicidade a esta senhora:
Chama-se Charlotte Martin, é americana, toca piano e tem uma canção sobre ervilhas. Pronto Sónia, já toda a gente a conhece...! ;)
Um brinde ao deboche!
Como prenda, vou ajudar a sua causa, fazendo publicidade a esta senhora:
Chama-se Charlotte Martin, é americana, toca piano e tem uma canção sobre ervilhas. Pronto Sónia, já toda a gente a conhece...! ;)
Um brinde ao deboche!
sábado, outubro 16, 2004
aniversário
There is no such thing as a moral or an immoral book. Books are well written, or badly written. That is all.
Oscar Wilde (1854-1900)
Foi maldito por ser um magnífico autor de obras "imorais"...
Se fosse vivo faria hoje 150 anos. Parabéns ao Mestre.
quinta-feira, outubro 14, 2004
lullaby
shut your ears
to the screaming silence
of the night
let your eyes give in
to all the weight in your soul
and sleep.
dream as if you had never woken up.
to the screaming silence
of the night
let your eyes give in
to all the weight in your soul
and sleep.
dream as if you had never woken up.
terça-feira, outubro 12, 2004
domingo, outubro 10, 2004
o deus da dança
A minha loucura é amor pela humanidade.
Vaslav Nijinski (1890-1950)
Antes dos Nureyevs e dos Baryshnikovs, havia o Nijinski.
Bailarino e coreógrafo, genial e carismático, a sua sensibilidade extrema - vista pelo resto do mundo como fragilidade emocional - e o seu nervosismo fizeram com que, a pouco e pouco, tenha sido considerado como louco e passado o resto da vida a entrar e sair de senatórios.
A Assíro & Alvim (abençoada seja...!) editou recentemente os diários do bailarino. A escrita, de frases muito curtas, constantes repetições e incoerências que vão aumentando ao longo do livro, sugere uma demência crescente. O curioso é que, apesar de a forma que usa para explicar o seu mundo interior ser "estranha", todas as observações que faz sobre o que o rodeia são de uma lucidez imensa, embora, por vezes, possam parecer absurdas. Exemplo: "As instituições para pobres usam farda para os pobres terem medo delas."
Acaba por ser tal e qual as crianças, que vêem tudo e todos não só melhor mas mais do que os adultos e a quem estes últimos não se cansam de dizer "não é assim! Os elefantes são cinzentos, não os podes pintar de amarelo!" Porquê? Porque não ver o mundo para além daquilo que se "vê"? Se nos tivéssemos ficado pelo conhecimento empírico ainda achávamos que o Sol girava à volta da Terra.
Ao longo do livro, Nijinski diz constantemente que os outros enlouquecem ou são infelizes porque pensam demasiado mas ele não, porque não pensa: sente. (Excepção para Nietzsche, que "enlouqueceu porque, no fim da vida, percebeu que tudo o que tinha escrito eram asneiras"...) Tudo o que diz é sentir o mundo, as pessoas, a mulher, as filhas, o público, deus. Percorre as linhas a afirmar um amor incondicional por tudo aquilo que sente e um desejo de ajudar e salvar a humanidade, ensinando a todos a nossa natureza divina.
O que há de louco nisso?
segunda-feira, outubro 04, 2004
quem manda...?
Gibson Afasta Fã Que Quer Rezar com Ele
(Público, 03 de Outubro de 2004)
O actor Mel Gibson interpôs uma acção judicial contra um homem que o perseguia pedindo para rezarem juntos (...).
O homem terá alegadamente ido para a porta da propriedade de Gibson pedindo para rezar com o actor. Gibson, que vive na Florida, disse que Sinclair interrompeu também as suas orações numa capela "e exigiu-me que rezasse com ele" (...). O sem-abrigo terá supostamente enviado cartas a Gibson e à sua família descrevendo ao actor as suas orações, citando versos bíblicos e elogiando A Paixão de Cristo. "Continuo a estar muitíssimo preocupado com a segurança da minha família", disse.
Então vejamos... Um homem que escreve, produz e realiza um filme nascido da sua fervorosa fé (ironicamente, um dos filmes mais ocos que já vi, mas quem sou eu...), um Católico devoto que não hesita em afirmar que a sua própria esposa vai para o inferno quando morrer por ser Protestante... nega-se a partilhar alguns momentos de comunhão espiritual com um pobre sem-abrigo? Porque não dizer, "está bem, 'bora lá rezar um terço"? Seria uma atitude mais cristã...
Claro que, vendo bem as coisas, havia sempre a hipótese de o sem-abrigo ser um membro da Al-Quaeda que não olha a meios para destruir os infiéis...
(Público, 03 de Outubro de 2004)
O actor Mel Gibson interpôs uma acção judicial contra um homem que o perseguia pedindo para rezarem juntos (...).
O homem terá alegadamente ido para a porta da propriedade de Gibson pedindo para rezar com o actor. Gibson, que vive na Florida, disse que Sinclair interrompeu também as suas orações numa capela "e exigiu-me que rezasse com ele" (...). O sem-abrigo terá supostamente enviado cartas a Gibson e à sua família descrevendo ao actor as suas orações, citando versos bíblicos e elogiando A Paixão de Cristo. "Continuo a estar muitíssimo preocupado com a segurança da minha família", disse.
Então vejamos... Um homem que escreve, produz e realiza um filme nascido da sua fervorosa fé (ironicamente, um dos filmes mais ocos que já vi, mas quem sou eu...), um Católico devoto que não hesita em afirmar que a sua própria esposa vai para o inferno quando morrer por ser Protestante... nega-se a partilhar alguns momentos de comunhão espiritual com um pobre sem-abrigo? Porque não dizer, "está bem, 'bora lá rezar um terço"? Seria uma atitude mais cristã...
Claro que, vendo bem as coisas, havia sempre a hipótese de o sem-abrigo ser um membro da Al-Quaeda que não olha a meios para destruir os infiéis...
sexta-feira, outubro 01, 2004
6
Altura para o post meloso do ano...
Quem diria que A Paixão de Cristo iria unir um casal... Parabéns a nós. :)
Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Quem diria que A Paixão de Cristo iria unir um casal... Parabéns a nós. :)
Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Nuno Júdice
(com quem vou ter aulas no 2º semestre e vocês não :P)
terça-feira, setembro 28, 2004
despeça o seu anjo da guarda
A pedido do povo (pronto... do Miguel, que agora também se chama Eduardo :p) aqui estou outra vez. Entre as aulas, o trabalho, o namorado e o modem que morreu, vou fazer os possíveis por "postar" qualquer coisa regularmente.
Entretanto, após mais quatro horas de "TV Cabo boa tarde, está a falar com Marta Tomé, em que posso ser útil" (e de ouvir do outro lado: "Uau! É mesmo a Marta!"), cheguei ao Campo Grande a fim de apanhar o autocarro para casa. No meio das habituais pessoas a distribuir os habituais folhetos, vem-me parar um à mão sobre anjos da guarda. Até aqui nada de novo. Comecei a lê-lo e, qual não foi o meu espanto, ao constatar que a mensagem do dito folheto se destinava a explicar aos comuns mortais que, a razão pela qual nos acontecem coisas "más", é por termos anjos da guarda que já não estão à altura das nossas necessidades. São-nos atribuídos quando nascemos - explicava o folheto - mas, à medida que crescemos, tornam-se incapazes, obsoletos. A solução proposta será, então, uma cerimónia, já com data marcada e tudo, em que o coitado do anjo é deposto do seu cargo e substituído por um anjo mais capaz.
Pergunto-me: será que os anjos também têm fundo de desmprego?
Entretanto, após mais quatro horas de "TV Cabo boa tarde, está a falar com Marta Tomé, em que posso ser útil" (e de ouvir do outro lado: "Uau! É mesmo a Marta!"), cheguei ao Campo Grande a fim de apanhar o autocarro para casa. No meio das habituais pessoas a distribuir os habituais folhetos, vem-me parar um à mão sobre anjos da guarda. Até aqui nada de novo. Comecei a lê-lo e, qual não foi o meu espanto, ao constatar que a mensagem do dito folheto se destinava a explicar aos comuns mortais que, a razão pela qual nos acontecem coisas "más", é por termos anjos da guarda que já não estão à altura das nossas necessidades. São-nos atribuídos quando nascemos - explicava o folheto - mas, à medida que crescemos, tornam-se incapazes, obsoletos. A solução proposta será, então, uma cerimónia, já com data marcada e tudo, em que o coitado do anjo é deposto do seu cargo e substituído por um anjo mais capaz.
Pergunto-me: será que os anjos também têm fundo de desmprego?
quarta-feira, setembro 22, 2004
vacas
Cadeira: Egípcio Hieroglífico I. Análise da Paleta de Namer, encabeçada por duas cabeças de vaca. "Qual é a ideia que a vaca vos transmite?", pergunta a professora. Ninguém responde. Ela lá nos explica que, desde sempre, a vaca tem sido um símbolo do feminino, fertilidade e maternidade (curiosamente, neste contexto, a deusa Bat, e mais tarde Hathor, simbolizavam também tudo o que estivesse relacinado com o prazer, desde festas, alegria e amor aos prazeres proibidos). Juntamente com Hórus, o deus-falcão, símbolo do masculino, formavam o casal patrono da realeza. Lições à parte, respondam sinceramente... "Qual é a ideia que a vaca vos transmite?" Longe de querer fazer aqui um tratado feminista, pergunto-me porque é que todos os símbolos de deídade feminina adquirem, por norma, conotações negativas - e porque é que essas conotações vão todas parar ao mesmo...? Porque não admitir o feminino e o masculino como forças distintas, sim, mas de igual peso? E porque não voltar o casal-patrono...?
acontece aos melhores....
Pois é... Também eu, que nem sequer faço questão em seguir modas, me rendi ao fenómeno bloguista... Ainda não sei muito bem o que vou fazer com isto, mas é deixar a coisa fluir e ver se leva a algum lado...
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