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quinta-feira, novembro 10, 2005

Uma voz para o Natal

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Luís Gaspar é locutor de publicidade, uma das melhores vozes na sua área. Felizmente, para muitos amigos e colegas, o Luís dedica o seu tempo livre a outras actividades.
Até há pouco tempo, limitava-se à actualização do seu site que, entre outras, incluía uma secção de poemas, alguns com locução sua.
Agora foi mais longe e criou o Estúdio Raposa, um programa de rádio digital onde, para além dos poemas, iniciou a gravação do "Romance da Raposa" de Aquilino Ribeiro. Neste momento, estão já disponíveis 4 episódios.
A partir de agora, o leitor pode consultar, todas as semanas, os novos episódios das aventuras da Salta-Pocinhas, raposa matreira, e dá-los a ouvir aos mais pequenos lá em casa.
Encontra aí também novos programas (podcasts) das "Palavras de Ouro" onde o programa sobre os gatos na literatura e as cartas de amor de escritores famosos está a merecer aplausos por parte dos ouvintes.
E, como o download é gratuito, o leitor pode começar a pensar em passar as gravações para um CD e oferecer uma prenda original e educativa aos mais pequenos neste Natal.

Artur Tomé

sábado, julho 30, 2005

O terrorismo tem os dias contados

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O Capitão América está de volta (e com o Thor a ajudar)

Criado no início da 2ª Guerra Mundial, o Capitão América foi um herói que começou a combater o Eixo enquanto, na vida real, os EUA ainda eram neutrais. Esta serie de aventuras começa com Steve Rogers, um civil fracote que se oferece para uma experiência secreta a fim de ser transformado num supersoldado.
O processo resultou, o cientista que criou o soro morreu sem revelar o seu segredo e o Capitão tornou-se o soldado que qualquer Hitler quereria ver do seu lado... mas que combatia do lado dos aliados (os autores da serie eram judeus ).
Depois da 2ª Guerrra Mundial o Capitão América foi-se apagando. Reencontrado durante a guerra do Vietname, mostrou-se hesitante quanto aos valores que defendia e sem adversários à altura.
Volta agora à vida numa colecção da Marvel, The Ultimates, integrado num grupo de super-herois que já se chamou os Vingadores e que agora se chama Supremos e que inclui Tony Stark, um Bill Gates da tecnologia militar com a sua armadura de o Homem de Ferro, o casal Pym, ele cientista com o soro para crescer, conhecido por Gigante e a mulher que encolhe, a Vespa. Mais Bruce Banner, um cientista atascado em calmantes porque, quando se enerva, se transforma no Hulk. Todos integrados num complexo militar de alta tecnologia, a Shield. Todos eles alegremente apoiantes dos objectivos políticos dos USA, a combater o terrorismo onde quer que ele se encontra.
Só que, da equipa original dos Vingadores, falta o Thor. Sucede que o deus nórdico é um hippie anti-globalização e só intervém perante um perigo real para o bem comum, recusando-se a integrar a equipa da Shield.
Com um realismo e uma qualidade gráfica e de texto rara neste meio, esta é a primeira serie adulta de super-heróis. Nenhum deles é flor que se cheire: Tony Stark é alcoólico, Pym e Banner têm ciúmes da posição e dos conhecimentos um do outro, o que leva Banner a transformar-se no Hulk e a espatifar Nova York (e a levar um chuto nos testículos dado pelo Capitão América, durante uma luta) e Pym a bater na mulher (que acaba por lhe pôr os palitos com o sonsinho do Capitão América).
A serie anda a ser publicada em episódios na Devir e está editada em album da Marvel. Recomendo.

Artur Tomé


Já agora, sobre o papel de Thor na BD, poderão os interessados consultar esta página.

terça-feira, junho 21, 2005

Os sabotadores da Mocidade Portuguesa

Quando visito a Feira do Livro ou alguns alfarrabistas e vejo os livros de leitura que tive na 3ª e 4ª classe, ocorre-me sempre a questão: "Como é que eu sobrevivi a isto?"
As capas com as criancinhas da Mocidade Portuguesa muito risonhas, ou com a criança de ar respeitador a ler junto à mãe, à porta de uma pobre casa de aldeia, até podem ser graficamente bonitas, kitsch mas bonitas, agora o que está lá dentro, aqueles textos...
Sou da geração do Pacheco Pereira e do Prado Coelho e todos eles passaram pelos mesmos livros oficiais. Então, como é que conseguimos ultrapassar esse trauma literário e tornarmo-nos seres inteligentes com uma escrita fluente que tantos apreciam?
A resposta chama-se Cavaleiro Andante e Mundo de Aventuras. Foi com eles que aprendi a ler e a sonhar.
O Cavaleiro Andante trazia banda desenhada europeia e deu a conhecer o Tim-Tim, Blake e Mortimer e, mais tarde, Spirou. Várias outras histórias, algumas de autores portugueses, tratavam temas históricos.
O Mundo de Aventuras estava mais virado para a BD americana e foi aí que conhecemos Mandrake, o mágico, Fantasma, o duende que caminha (ambos criados por Lee Falk) e o meu preferido, Johny Hazzard, um piloto com umas fontes brancas no cabelo que eu sonhava também ter quando fosse crescido. (Saiu-me o sonho furado, as brancas começaram a aparecer em cima e, durante uns tempos, andei com o aspecto de quem tinha andado a caiar o tecto lá em casa).
Pois é, juventude de hoje: é graças a revistas e heróis como esses que ainda se encontra gente culta e interessante nesta Quinta das Celebridades em que este país se tornou.

Artur Tomé

sexta-feira, maio 20, 2005

Uma era de oportunidades

moving pictures

Estou na situação de uma criança gulosa que arranja emprego numa fábrica de chocolates. Um colega que, ao espreitar este site, descobriu que pai e filha são fãs do Pratchett, despejou-me a colecção toda do Discworld que lá tinha em casa. Agora, num desses livros, Moving Pictures, encontro um conceito que cito de cabeça:
"Que bom que é vivermos numa época em que podemos desenvolver os nossos talentos naturais. Quantos telegrafistas, encenadores ou mecânicos potenciais não passaram a vida toda como sapateiros, porque herdaram a profissão do pai e não tinham onde descobrir, educar e aplicar as suas capacidades."
Pois, eu sempre cresci com a sensação de que "não é bem isto que eu quero" enquanto andava a estudar. Descobrir que podia ser bem pago a escrever anúncios foi uma epifania. E penso nas gerações mais novas, com todas as novas tecnologias e profissões que nascem como cogumelos. Só aos 40 anos é que comecei a ouvir falar em DJs (não perdi muito, adiante). E alguma vez me passaria pela cabeça que fosse possível haver cadeias de lojas que comercializam unhas...?!
A propósito de Moving Pictures. A cena final é uma mistura de Ben-Hur, E Tudo o Vento Levou e onde um demónio em forma de mulher gigante trepa pela torre da Acadenia dos Feiticeiros com um gorila na mão, debaixo de um ataque aéreo de magos nas suas vassouras...

Artur Tomé

quinta-feira, maio 05, 2005

Frank Miller e o renascimento dos heróis

Batman

Mais uma vez o cinema a adaptar obras de um ídolo meu da banda desenhada.
O ídolo chama-se Frank Miller, desenhador e argumentista que foi autor de várias obras primas da BD nos últimos 20 anos.
A obra agora adaptada ao cinema chama-se Sin City e é um dos seus trabalhos mais famosos deste autor, devido a um experimentalismo gráfico a preto e branco de alto contraste, ao serviço de um argumento tipo Mickey Spillaine.
Comecemos por esclarecer um ponto: não gosto dos livros de Mickey Spillaine e não gosto de Sin City. Também não recomendo o filme.
Mas recomendo todos os outros trabalhos do autor.
Frank Miller começou por se tornar conhecido ao criar aventuras do Demolidor para a Marvel Comics, especialmente por dar vida a Elektra, uma assassina profissional que for a o primeiro amor de Matt Murdock (o advogado cego que é o alter ego do Demolidor - se não fosse eu não sei o que seria da vossa cultura geral...). Vai daí a Detective Comics, editora rival da Marvel, contrata-o para que ele relance um produto que estava com as vendas em baixo e que dava pelo nome de Batman.
Miller criou uma serie em 4 fascículos, com um Batman reformado que volta à activa numa sociedade cada vez mais agressiva. Um Batman pesadão, obcecado, muito nocturno e raivoso, que tem de enfrentar um Super-Homem solar, limpinho e defensor da lei. Para resumir uma longa história, The Dark Knight Returns, editado em álbum, tornou-se a obra de banda desenhada mais vendida de todos os tempos nos Estados Unidos, as vendas de Batman dispararam e deram direito às sucessivas adaptações ao cinema.
Miller é ainda autor de outra obra maior chamada Ronin. Tem a história mais complexa que já li (ex-aequo com os Watchmen de Alain Moore) e voltarei a ele num próximo post.

Artur Tomé

terça-feira, abril 26, 2005

O Christian Andersen do séc.XX

stan lee

Corria a década de 60 e a indústria da banda desenhada americana andava pelas ruas da amargura. Uma onda de moralismo, a fazer lembrar em muito a que agora ataca as televisões, proibira as cenas de violência, tiros, sexo e terror. Finis o traço erótico de Alex Raymond nas suas series Flash Gordon e Agente Secreto X-9. Finis os arrepios de séries maravilhosas como "O caldeirão da Bruxa". Os super-heróis lutavam contra assaltantes de bancos, extraterrestres feios e monstros horrorosos e resolviam tudo com um ou dois socos, sem se despentearem.
Foi então que um argumentista da editora Marvel foi contratado para criar uma serie que respondesse à Liga da Justiça, uma xaropada de heróis à molhada, da sua editora rival.
E Stan Lee criou o Quarteto Fantástico. Reed Richards, Mr. Fantastic, um génio da física que é elástico, Sue Storm, a sua noiva que se pode tornar invisível, Johnny Storm, o irmão desta, o Tocha Humana, que se incendeia e voa em chamas e um amigo delas, Ben Grimm, super-forte, com o corpo transformado em rocha, o Coisa.
O grupo faz lembrar um pouco a família dos Incredibles? Pois, mas o Quarteto surgiu 40 anos antes. Os Incredibles é que são uma cópia do Quarteto.
Como seu principal adversário, Dr. Doom, outro génio da Física, com o rosto deformado numa experiência falhada, que aprende magia, torna-se rei da Lavéria, e usa uma máscara de metal por baixo de um manto real. Quem falou em Darth Vader? Esse apareceu 20 anos depois. Ele é que é uma cópia descarada de Doom.
O Quarteto tornou-se um objecto de culto para os adolescentes da época, incluindo o autor destas linhas. Stan Lee não se contentou com um só êxito e começou a criar uma série infindável de lendas, que contrariavam as regras do jogo da altura quanto ao que se supunha ser obrigatório num super-herói: o Homem-Aranha que era um nerd adolescente, o Hulk que era bruto, o Demolidor que era cego, o Homem de Ferro que era um engatatão alcoólico...
Até que a crise dos direitos humanos e do racismo na América o levou a criar os X-Men, heróis mutantes. Como eram diferentes, eram perseguidos pela sociedade. Get it?
Aos poucos, o êxito dos X-Men foi apagando o êxito do Quarteto. Mas o Quarteto está de volta. Nos cinemas a 4 de Julho. (Os americanos e as suas datas...)
Trailer aqui.


Artur Tomé

quarta-feira, abril 20, 2005

Quando foi a última vez que fez alguma coisa pela primeira vez?

Example

Esta frase é o slogan de uma nova empresa portuguesa. Que trabalha para outras empresas, comercializando soluções simples e naturais para apreciar a vida, satisfazer o ego e de fidelizar clientes.
Mas os seus produtos são um pouco diferentes do habitual. Tão diferentes que são cada vez mais os particulares adquirirem tais soluções para seu gozo pessoal.
Ouçamos António Quina no seu site a apresentar o seu catálogo de propostas:

"Somos pioneiros no conceito de transformar experiências em presentes inesquecíveis. Porque sabemos que cada vez mais as pessoas valorizam as "emoções", sensações únicas, fugas ao quotidiano, momentos de boa disposição, recordações inesquecíveis.
Lazer, relaxamento, acção, divertimento, espanto, adrenalina. São páginas e páginas recheadas de sugestões espectaculares. São momentos e sensações de puro prazer.
A leitura do nosso guia é já uma experiência. Comece por aí. Depois fale connosco. Seja muito bem-vindo ao seu Guia de Experiências. Porque a vida são realmente 2 dias..."

Já trabalhei como redactor de publicidade, com contas de bebidas, carros, chocolates. Mas nunca esperei encontrar uma empresa de marketing que vendesse, à séria, experiências para um maior prazer de viver.


Artur Tomé

quarta-feira, abril 13, 2005

Vocês são crianças índigo

Por eu ter escrito um artigo sobre o tema, a autora deste blog recordou esta semana que pertence a uma geração conhecida como de crianças índigo.
E o que são as crianças índigo?

"Sensíveis, intuitivas, criativas, algumas com capacidades paranormais, quase todas resistentes à imposição de autoridade e capazes de formular as suas próprias teorias acerca do mundo, as crianças índigo chegam com a missão de transformar a humanidade. São seres da nova energia, arautos da paz, mensageiras da luz. Estão a nascer em todas as casas e é importante aprender a reconhecê-las."
(Artigo publicado na Revista portuguesa "Pais e Filhos", da autoria da sua diretora, Inês Baptista.)

Aqui para nós, recordando o que foi a minha infância, até eu fui uma criança índigo. Mas a vossa geração está a ser estudada por psicólogos para verificar o quanto corresponde a esta tipologia.
Ora sucede que acabam de ser editados dois livros em português sobre esta matéria.

As Crianças Índigo
Lee Carroll e Jan Tober,
Editora Sinais do Tempo

Crianças Indigo
Teresa Guerra
Editorial Angelonum – Novalis

Porquê índigo? Aqui é que a porca começa a torcer o rabo. Porque quem é capaz de ver auras nas pessoas vê uma alta percentagem de índigo na aura dessa geração. Assim como há novas gerações de crianças cristal e de outras cores. E logo o meu lado racionalista começa a mandar vir: há psicólogos a estudar crianças que se destinguem... pelas auras!?
Mas há mais coisas simultaneamente sedutoras e estranhas. Há também mensagens do Outro Mundo (ou de outros mundos). E agora que já espicacei a vossa curiosidade convido-vos a visitar o segundo local mais interessante na net depois deste.
Fico à vossa espera.

Artur Tomé

segunda-feira, março 14, 2005

O Regresso de Columbo

Columbo

O tenente Columbo está de volta à RTP Memória, às 3ªs feiras, pelas 23.00h.
Série de culto na década de 70, com vários prémios enquanto durou, Columbo vive de excelentes argumentos e da interpretação extraordinária de Peter Falk.

Histórias policiais baseadas em crimes aparentemente perfeitos, cada história começa sempre com o assassino a planear e executar o crime, criando um alibi à prova de bala. Depois surge a polícia a investigar o crime, com o tenente Columbo sempre a mascar um charuto apagado e embrulhado numa gabardina que precisa urgentemente de ir para a desinfecção.

O criminoso, sempre alguém elegantíssimo e figura de topo de qualquer elite cultural ou financeira, responde às primeiras perguntas daquele polícia manhoso com a maior condescendência. Só que o homem não o larga e aparece-lhe nos locais mais inesperados a pedir muita desculpa pelo incómodo, mas houve qualquer coisa que foi dito que ele ainda não percebeu muito bem…Quanto mais Columbo avança na investigação mais o criminoso se vai aproximando de uma crise de nervos e é quase com alívio que é preso: finalmente está livre daquele melga…
Não percam. E passem o recado aos vossos pais e avós.

Artur Tomé

quinta-feira, março 03, 2005

Inteligência emocional

pai&filha

Os últimos posts da Marta e certos acontecimentos particulares recentes fizeram-me rever a educação ideal para os jovens de hoje, em comparação com a do meu tempo.

Quando eu nasci, o meu pai, sargento da Marinha, decidiu que eu seria oficial da Marinha quando crescesse. Quando, aos oito anos, tive de passar a usar óculos, o meu pai chorou de frustração. Depois decidiu-se pelo plano B. Eu iria tirar um curso de Finanças. Porquê? Porque era o curso do Professor Salazar.
Feito o 5º ano do liceu, decidi seguir Ciências, oficialmente para tirar engenharia de máquinas (secretamente para trabalhar em astronáutica na NASA). Para o meu pai, engenharia significava ir trabalhar para a CUF, o que era o topo de qualquer carreira profissional. Mas o ensino da Física era uma estopada, apaixonei-me por Biologia primeiro, depois pelo corpo humano e fui para Medicina.
Chegado a Medicina, como se pode descortinar nas entrelinhas, o choque com o meu pai era grave e decidi tornar-me financeiramente independente. Com 17 anos, subi umas escadas do Hospital de Santa Maria, bati à porta do gabinete do administrador, disse que era estudante e queria emprego. Comecei a trabalhar nessa tarde na Recepção, a inscrever doentes. Já agora, o emprego era com contrato a tempo indeterminado.
Como a maioridade era só aos 21 anos, o meu pai exerceu a sua autoridade paternal e tirou-me de lá… Larguei o curso e fui para a tropa, a modos de quem vai para a Legião Estrangeira.
Resumindo: 1960, empregos estáveis e facilidade em arranjá-los, submissão à autoridade paterna (e a outras), funcionários atentos, veneradores e obrigados (quem fosse despedido uma vez estava profissionalmente queimado). Os doutores, engenheiros e patrões em geral escreviam o que tinham a escrever com canetas, havia secretárias para bater os textos à máquina.

Passemos para a década de 80 e temos uma cachopa a crescer num mundo em mutação constante e muito mais agressivo. O pai tenta-a convencer a praticar aikido, ela vai para o ballet. Faz teatro, aprende música, e mete-se num curso superior que ela escolheu.
Nada daquilo em que o pai foi educado serve hoje como guia de comportamento para a relação pai-filha.
Cá fora, empregos estáveis acabaram. Poucas empresas ou instituições são profissionalmente aliciantes e, as poucas que o são, na área das comunicações, estão sob vendaval constante. Como ajudá-la, sem bases financeiras estáveis? Apoiar a sua grande inteligência emocional. Comentar os temas que ela traz à baila da conversa, numa de diálogos à Sócrates (o grego), alegrar-se com as suas capacidades em surfar os tsunamis que lhe aparecem e trautear interiormente "Bridge of troubled waters":

Sail on, silver girl... your time has come to shine...

Artur Tomé

domingo, fevereiro 06, 2005

Do it yourself best seller - As lições do Código da Vinci

Nobel

Até o Jornal de Letras se rendeu e, na última edição, traz um estudo sobre este fenómeno editorial.
Trezentos mil exemplares vendidos só cá em Portugal, é obra. E, pela experiência de quem o comprou, cada livro é emprestado a uma média de 4 pessoas que o devoram num instante.
Confesso que li o livro em dia e meio e que acho tratar-se de um excelente exemplo de artesanato literário. O que é muito diferente de o considerar um bom livro. Deixo os comentários místicos e religiosos para a página Energias Livres, uma vez que a dona deste blog não me deixa falar sobre tais matérias neste site (anda um pai a criar uma filha para acabar vítima de Censura) e passo aos truques que o autor usa para escrever um best-seller:

Truque nº 1 – Conte duas histórias em paralelo
Vá alternando a narrativa, capítulo sim, capítulo não. Se não tiver duas histórias, conte a mesma sob o ponto de vista de duas personagens diferentes. Se só tiver uma personagem, comece a história pelo meio e vá intercalando o que aconteceu antes com o que aconteceu depois.
A alternância converge para a cena leit-motiv do livro no penúltimo capítulo.
(Se não tiver história nem personagem, arrisca-se a ganhar um Nobel daqui a 20 anos)

Truque nº2 – Frases curtas e palavras simples
Reveja o texto que escreveu, substitua as vírgulas por pontos finais e os pontos finais por parágrafos.
Intercale com onomatopeias ou locuções tipo treinador de equipa olímpica.
Treine.
Você vai conseguir.

Truque nº3 – Use conhecimentos profissionais especializados
Não há pachorra para figuras que passam o tempo a pensar nem para descrições de realidades à base de metáforas.
Num best-seller as coisas não são "como".
As personagens têm conhecimentos sobre matérias, conhecimentos que ensinam ao leitor. Como decifrar códigos, como fazer uma bomba com detergentes e insecticidas, ou como fazer chocolates e vinho à base de fruta (e viva a Joana Harris).

Há mais truques, mas esses reservo-os para o meu best-seller.

Artur Tomé

sábado, janeiro 29, 2005

A crónica constipada

Peço desculpa a todos os meus admiradores mas a minha habitual colaboração das 5ªsfeiras ficou no tinteiro – que é como quem diz, no computador ou ,melhor dizendo, nem chegou a entrar…

Isto um homem não é de ferro e, depois do Paulo Portas ter apresentado governo, do Louçã ter dito o que disse ao Portas e do Freitas apelar ao voto em Sócrates, os meus neurónios entraram em crash. Foi aí que chegou a constipação. Não a constipação metafísica do Pessoa, mas uma constipação de atchim e muitos lenços de papel sujos.

Finalmente, a leitura da última crónica do Ferreira Fernandes, na última página da Sábado desta semana (Sábado que, como o nome indica, sai à sexta feira) deu-me tema para botar umas palavras.

Malta, vocês que navegam quase todos nas águas da literatura e nos abismos insondáveis das semânticas, leiam aquela crónica. E, por favor, aprendam a falar claro e simples. Vocês vão educar os futuros políticos e gestores… Denunciem a verborreia pseudo-culta, desde os bordões do "eu diria que…" (então diz, porra!), o "nomeadamente" e "na medida em que", até aos polissílabos estrambólicos que só escondem o vazio de ideias e propostas de quem as usa.

Lembro-me da apresentação pública do "Consumactor", um livro de que fui co-autor com Beja Santos (edição Temas e Debates). Um professor universitário, disse que iria propor o livro para os seus alunos, só lamentava a sua linguagem demasiado acessível, imprópria de um trabalho universitário. Como tal linguagem fôra a minha contribuição para o livro, contei até 10 e consegui não lhe apertar o pescoço ali em público.

Transcrever o FF? Estou muito constipado. Comprem a revista, que vale a pena.

Artur Tomé

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Jack Kirby , o rei dos super-heróis

kirby kirby2

Já que falei em Will Eisner, nada mais natural que referir outro dinossauro da BD americana, o espantoso Jack Kirby (1917 – 1994).
Nascido por altura da Primeira Guerra Mundial, Kirby começou a desenhar pouco depois de sair do berço, tendo colaborado em todo o tipo de publicações imagináveis e trabalhando qualquer género que lhe encomendassem: histórias de terror, romances ingénuos, histórias de aviação, super-herois… em todas as áreas Kirby deixou marca e uma quantidade impressionante de trabalhos.
A fama chegou em 1941, ao criar visualmente as histórias do Capitão América. Contra a onda ariana do nazismo, os laboratórios americanos transformam um rapaz lingrinhas num super soldado, alto, forte e louro – provando assim que podiam ser mais nazis que Hitler.
À semelhança dos restantes super-herois então surgidos, também o Capitão América entra na guerra contra o Eixo antes dos EUA se envolverem no conflito, o que pode ser explicado pelo facto de a maioria dos seus autores ser judia.
Com os tempos de paz, o Capitão América vai ficando no esquecimento e acaba por desaparecer de vez. Kirby assume vários trabalhos de chacha para sobreviver, até que, em 1961, faz parceria com o escritor Stan Lee na editora Marvel e juntos criam o Quarteto Fantástico, Hulk, Thor e várias outras figuras que relançam um género que parecia esgotado há muito.
O autor destas linhas ficou especialmente extasiado como Kirby, à boleia das aventuras de Thor na Terra, recria os principais episódios da mitologia nórdica, como se de uma serie de aventuras se tratasse, dando rédea solta à sua criatividade para criar armas, roupas e adereços de forma a poder apresentar uma página dupla com um exército onde não se vêem duas figuras humanas com a mesma arma ou mesma roupa.

Depois surge o corte com Stan Lee e Kirby passa para a editora rival, a Detective Comics, onde relança histórias do Super-Homem e cria um mundo do Mal, Apocalyps, regido por um temível Darkseid. Sim, muito antes do início das filmagens da Guerra das Estrelas.

Criativo até ao último fôlego, os universos de Kirby são um marco monumental na história da narrativa gráfica.

Artur Tomé

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Will Eisner 06.03.1917 – 03.01.2005

Spirit

Morreu, no princípio deste ano, um jovem de 87 anos. Morreu Will Eisner, o argumentista e ilustrador que, nas década de 30 e 40, ajudou a criar a onda editorial da BD americana de super-heróis que, na década de 50, criou Spirit, o primeiro dos heróis mascarados (sim, o Lee Falk criou o Fantasma, mais ou menos na mesma época, mas o grafismo e argumentos de Eisner eram muito mais inovadores) e que, na década de 80, voltou a inovar o mercado americano com as graphic novels.
Na década de 30, para além de autor, tornou-se também editor, tendo trabalhado com artistas como Bob Kane, o primeiro desenhador e co-autor de Batman e com Jack Kirby, outro dinossauro criativo, autor de ícones como o Capitão América e Quarteto Fantástico.
Como editor, talvez o seu maior desaire foi ter recusado o trabalho de dois jovens, Jerry Siegel e Joe Shuster, que procuravam quem publicasse o seu herói que dava pelo nome de Superman.
O principal prémio na área da BD tinha o seu nome, ainda ele era vivo e muitos trabalhos haveria de publicar desde então. "The building" e "A contract with God". Foram duas das suas obras-primas (ok, se é obra-prima, só há uma, adiante) onde inundou as páginas com a sua ternura pelo ser humano, mesmo nas situações mais miseráveis, e com uma arte gráfica sempre inovadora e enganosamente simples.

Artur Tomé

quinta-feira, janeiro 06, 2005

As Fontes do Paraíso de Arthur Clarke

Este livro é uma colectânea de contos disfarçada, tantas são as histórias que se entrelaçam, no tempo e no espaço. (*)
O tema principal é um sistema revolucionário de partida para o espaço: não com foguetes, mas… de elevador. Admitindo a produção industrial de uma nova fibra muito mais leve e mais resistente que o aço – e várias soluções estão presentemente em estudo nesse campo – Clarke imagina quatro fios estendidos de um satélite geostacionário para a Terra, e continuando, desse satélite, mais para o exterior ainda, um gigantesco tubo com centenas de quilómetros de altura... ou de comprimento, conforme a perspectiva de quem o olhar.
Esse tubo pode servir de gaiola para deslocar uma cápsula espacial que funciona como elevador, movida apenas pela corrente eléctrica que passa pelos fios, ou como canhão de lançamento de naves espaciais, reduzindo em muito a despesa de tais lançamentos.
Vários são os problemas de engenharia debatidos ao longo do livro, bem como questões políticas (o engenheiro inventor do fio é funcionário público, trabalhando numa EDP planetária, mas quer ser ele a controlar o projecto).

Engenheiros e budistas
Mas o principal problema de engenharia é de natureza religiosa.
Só existe um ponto ideal para ancoragem do elevador na Terra. Esse ponto ideal fica no topo de uma montanha, ao nível do Equador, situado num país inventado por Clarke mas que é uma cópia quase fiel do Sri Lanka. Sucede que no topo de tal montanha existe um mosteiro budista, com direitos ancestrais sobre o local e que não fazem qualquer tenção de abandonar o local.
Os problemas de engenharia do elevador cruzam-se com a história da origem do mosteiro, dando Clarke largas ao seu fascínio pela tradição e filosofia budista, à mistura com estudos sobre neutrinos que desenvolvem uma teoria, cara ao autor, segundo a qual o nosso Sol está prestes a dar as últimas (não se assuste o leitor: a nossa estrela dura ainda cerca de 1000 anos; depois… funde-se, e nós com ela).
Para temperar tudo isto, montes de citações, na maioria inventada pelo autor, com comentários sarcásticos sobre a nossa civilização, fazem de "As Fontes do Paraíso" uma viagem fascinante pela História do pensamento religioso e ético da espécie humana.

(*) editado em português pela Europa América

Artur Tomé

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Arthur C. Clarke - onde a religião encontra a ciência

clarke

O maremoto que assolou a Ásia e arrasou o Sri Lanka fez-me recordar o mais famoso habitante desta região, o muito britânico Arthur C. Clarke.
A religião de que se fala no título não tem nada a ver com credos eclesiásticos. Religião é aquele sentir da unidade entre nós e tudo o que nos cerca, um sentimento de… awe perante o universo em que vivemos e uma curiosidade infantil perante as possibilidades do despertar das nossas potencialidades ou evolução no seu sentido mais lato.
Nenhum escritor, como Clarke, manteve os pés tão cravados na realidade da ciência e tecnologia e elevou tão alto essa aspiração pelo transcendente. Já no prefácio de 2001 ele recordava que, desde o surgimento da espécie humana até hoje, deverão ter nascido uns 100.000 milhões de criaturas humanas. Curiosamente, esse é o número estimado de estrelas da nossa galáxia. Portanto, para cada ser humano que pisou a Terra, existe na galáxia uma estrela que lhe pertence…
Não é um raciocínio que se ouça muito aí na boca dos engenheiros.
Como já toda a gente viu a belíssima seca que é o filme 2001 (o livro é melhor e menos confuso que o filme), deixem-me destacar dois livros que considero obras primas obrigatórias.

Rendez-vous com Rama
Da profundidade do céu, disparando para a proximidade do Sol, os telescópios detectam…é um asteroide?, é um cometa? Não, é um objecto metálico parecido com uma lata cilíndrica, com 50 km de comprimento e 30km de diâmetro e que gira sobre si próprio. O livro narra a visita de uma expedição ao interior de tal objecto, designado como Rama.
Não, Rama não está habitada. Caminhar lá dentro faz os astronautas sentirem-se como formigas… Três escadas radiam do eixo da entrada na base para as paredes, onde há estruturas que parecem cidades. Dado o movimento de rotação da lata, a gravidade manifesta-se do eixo para as paredes. Os astronautas caminham pelo interior da tampa, primeiro e das paredes depois, acompanhados por potentes projectores que transportam consigo, que iluminam poucos centenas de metros à sua frente.
Só que, à medida que se aproxima do Sol, as paredes de Rama aquecem e uma serie de sistemas automáticos são accionados. Como, por exemplo, três conjuntos de gigantescas lâmpadas.
A descrição do choque dos exploradores quando todo aquele interior se enche de luz e se vêem, colados às paredes, a olhar lá para baixo, é de dar vertigens. Depois há mares congelados que se derretem, atmosfera interior que aquece e cria furacões, mar que evapora e cria nuvens que se elevam para o eixo do cilindro e donde cai chuva - chuva que "cai" do eixo do cilindro, para o interior das paredes, descendo em curva, devido à rotação do cilindro que é Rama!… Clarke dá uma aula de mecânica celeste disfarçada de livro de aventuras extremamente fascinante.
Quem fez Rama, o que é Rama e quais os seus objectivos são perguntas que vão tendo respostas surpreendentes até à última linha do livro. Não vale a pena ir lá espreitar. A última frase é "Os ramanos fazem tudo em triplicado" mas só quem leu o livro até aí é que se apercebe do sobressalto que aquela última frase provoca. Sobressalto que é a pitada de religiosidade clarkiana no seu melhor.

Obs: "Rendez-vous com Rama" deu origem a uma sequela de outros livros, escritos em parceria com outro autor. Esqueçam-nos. Piores e mais vazios que as sequelas de 2001.

Obs 2: "As Fontes do Paraíso" ficam para a semana.

Artur Tomé

quinta-feira, dezembro 23, 2004

A aristocrata que cresceu na rua

Modesty&Willie

Modesty Blaise surgiu na década de 60 e fez mais pela igualdade de direitos entre os sexos do que todas as revoluções da moda de então.
Ao contrário do retrato das mulheres propalado pelo marialva do James Bond, Modesty era uma mulher à beira dos trinta anos, rica e independente após se reformar de uma intensa vida à testa de uma rede criminosa internacional. O seu criador, Peter O’Donnell, lançou-a primeiro em banda desenhada, com o apoio inestimável do desenhador Jim Halloway, e depois em livro onde revela uma qualidade narrativa muito superior à de Ian Fleming, o pai do 007.
E, enquanto Bond tem uma atitude superior em relação às outras nacionalidades e cores de pele, num desprezo a roçar o racismo, Modesty sente-se em casa tanto num mercado em Marraquexe como num leilão de obras de arte em Veneza..
Perita em todas as formas de combate, Modesty tanto se impõe naturalmente no comando de uma tropa de mercenários (no livro "Dente de Sabre"), como apaga todas as mulheres presentes em qualquer salão ou restaurante topo de gama (que provavelmente pertence a um ex-colaborador seu, cujo negócio ajudou a financiar).
Como seu aliado principal, Willie Garvin, um ex-combatente da Legião Estrangeira, rude e violento, que Modesty educou e que se tornou no seu guarda-costas, confidente e companheiro de aventuras na vida civil.
A relação entre Willie e Modesty é o ponto mais original da série. Willie, um atleta de sotaque cockney, emérito atirador de facas, tem uma adoração canina pela sua parceira. Tendo cada um vários romances, a sua relação é platónica mas mais íntima do que a que possam ter com qualquer namoro de ocasião.
E muitos são os motivos de fascínio em Modesty. Fugindo em criança de um campo de refugiados do pós-guerra, Modesty é gente, muito mais rica de personalidade, cultura e feminilidade do que a vazia Lara Croft que décadas depois a tentou imitar.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

promethea

prometeia

I am Promethea
The child who stands
Between fixed earth and insubstancial air,
A thought who yet treads matter’s
rain swept strands,
and mortals are the sandals that I wear

I am Promethea,
From mind's pure light
I stoop into Earth’s gloom.
From fable’s day
descending into Fact’s cold
weighty night,
from lyric atmosphere to mammal clay..

I am Promethea,
the rummored one,
the mythic bough that reason strains to bend.

I am the voice left, when the book is done
I am the dream that waking does not end.

Promethea
De Alan Moore (texto), J.H. Williams III (desenho) e Mick Gray (cor)

Trata-se de uma obra em 4 volumes, totalmente diferente de tudo o que o género da banda desenhada deu à luz até agora... Viagens e aventuras pelos vários planos da existência, num vórtice de cores e sensações estranhas mas fascinantes. Talvez a primeira BD esotérica.
O 1º volume pode ser uma excelente prenda de Natal. Quem avançar na leitura pelos outros volumes fá-lo-á seu próprio risco.

Artur Tomé

sábado, novembro 27, 2004

Se Shakespeare tivesse um computador portátil…

Há muitos séculos atrás, numa galáxia distante… melhor dizendo, antes que uma senhora inglesa se chateasse com o marido português e começasse a escrever longos livros chatérrimos sobre um adolescente imbecil chamado Harry Potter, o autor mais vendido em Inglaterra chamava-se Terry Pratchett.

Claro que ser um top de vendas nada significa quanto ao valor literário do autor – mas Pratchett construira um universo de figuras coerente, delirante e profundamente bem estruturado. O seu Discworld é uma sociedade de natureza medieval, habitada por seres humanos, vampiros, trolls e toda a parafernalia das histórias de fadas. Há a Guilda dos Ladrões e dos Assassinos (que passam recibos e pagam impostos ao Estado sobre o seu trabalho), há uma Universidade de Magia, The Unseen University, (à volta da qual gravitam magos poderosos e feiticeiros de meia tigela), a Guarda do Palácio, as 3 bruxas do Hamlet e a Morte, entre outras figuras inesquecíveis que agora não me ocorrem.
As aventuras de Discworld não têm heróis residentes. Qualquer das principais personagens de uma história pode ser figurante noutra ou estar ausente em meia dúzia de livros. Nem o tom da escrita se mantém: as aventuras da Guarda são um misto de capa e espada e 007, algumas aventuras com magos contêm cenas assustadoras, as intervenções das 3 bruxas são de gargalhada pegada. Em quase todas as histórias Death está presente como supporting character, comunicando telepaticamente com as pessoas EM MAIÚSCULAS – à excepção do livro Mort, em que Death contrata um aprendiz não muito inteligente o qual cria um sarilho de dimensões cósmicas ao impedir que uma linda princesa por quem se apaixonara seja morta na data devida.

Aventura, terror ou comédia, Discworld é um mundo de literatura ligeiramente louca, ligeiramente surrealista, que revela um autor de imaginação prodigiosa que nunca deixa de nos espantar, encantar e divertir.

Artur Tomé

pratchett

quinta-feira, novembro 25, 2004

O Rasputine da Banda Desenhada

Pode parecer uma provocação apresentar um argumentista de BD como um autor a merecer o interesse dos leitores deste blog. Mais ainda se eu disser que considero o homem um dos maiores autores da língua inglesa.
Para piorar as coisas, duas das suas obras foram adaptadas ao cinema de forma desastrosa. "A Liga dos cavalheiros extraordinários" deve ser o pior filme que eu vi na vida e "From Hell" é uma coisinha delicodoce comparada com o tenebroso negrume da BD que lhe deu origem. Basta folhear o album aí pela FNAC , e ver a espessura (em páginas, em texto, em imagem… e em preço!, cerca de 40€) para se perceber que aquele volume tem matéria para três ou quatro filmes que tirariam o sono a qualquer um.
Alan Moore é negro na escrita e tem uma cultura enciclopédica sobre ciência, História e ocultismo. O seu livro "From Hell", que versa uma explicação do tema Jack, o estripador, é um tratado sobre a Maçonaria, desde o seu funcionamento interno até à simbologia maçónica na arquitectura e urbanismo de Londres. Também é um retrato arrepiante sobre a forma como eram tratados os doentes mentais no sec XIX.
Moore alcançou notoriedade mundial quando revolucionou o tema dos super-heróis com o seu álbum "Watchmen" e transformou uma figura menor da BD, "O monstro do pântano" numa série de terror de culto. Depois criou "V for vendetta" com um vingador tipo Fantasma da Ópera num hino à anarquia no meio de uma sociedade à la 1984.
Nas suas obras, não há personagens secundárias. Mesmo as figuras que aparecem em 2 ou 3 imagens têm personalidade e história próprias. Histórias que se entretecem com as de outros, de tal forma que, à 3ª ou 4ª leitura, ainda estamos a descobrir dados novos.
(continua)

vendetta