sábado, novembro 27, 2004

Se Shakespeare tivesse um computador portátil…

Há muitos séculos atrás, numa galáxia distante… melhor dizendo, antes que uma senhora inglesa se chateasse com o marido português e começasse a escrever longos livros chatérrimos sobre um adolescente imbecil chamado Harry Potter, o autor mais vendido em Inglaterra chamava-se Terry Pratchett.

Claro que ser um top de vendas nada significa quanto ao valor literário do autor – mas Pratchett construira um universo de figuras coerente, delirante e profundamente bem estruturado. O seu Discworld é uma sociedade de natureza medieval, habitada por seres humanos, vampiros, trolls e toda a parafernalia das histórias de fadas. Há a Guilda dos Ladrões e dos Assassinos (que passam recibos e pagam impostos ao Estado sobre o seu trabalho), há uma Universidade de Magia, The Unseen University, (à volta da qual gravitam magos poderosos e feiticeiros de meia tigela), a Guarda do Palácio, as 3 bruxas do Hamlet e a Morte, entre outras figuras inesquecíveis que agora não me ocorrem.
As aventuras de Discworld não têm heróis residentes. Qualquer das principais personagens de uma história pode ser figurante noutra ou estar ausente em meia dúzia de livros. Nem o tom da escrita se mantém: as aventuras da Guarda são um misto de capa e espada e 007, algumas aventuras com magos contêm cenas assustadoras, as intervenções das 3 bruxas são de gargalhada pegada. Em quase todas as histórias Death está presente como supporting character, comunicando telepaticamente com as pessoas EM MAIÚSCULAS – à excepção do livro Mort, em que Death contrata um aprendiz não muito inteligente o qual cria um sarilho de dimensões cósmicas ao impedir que uma linda princesa por quem se apaixonara seja morta na data devida.

Aventura, terror ou comédia, Discworld é um mundo de literatura ligeiramente louca, ligeiramente surrealista, que revela um autor de imaginação prodigiosa que nunca deixa de nos espantar, encantar e divertir.

Artur Tomé

pratchett

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