Aqui há dias veio-me parar às mãos um qualquer artigo em que um qualquer médico (deduzo que pediatra) defendia que passar trabalhos de casa a crianças é um acto de violação dos seus direitos por privá-los da sua liberdade e não lhes permitir desenvolver a sua criatividade.
Obviamente.
Para quê impedi-los de aproveitar o precioso tempo que têm para brincar, dando-lhes exercícios de Matemática que em nada melhoram a sua rapidez de raciocínio ou mesmo dizer-lhes que escrevam composições quando estas não aumentam o seu poder de auto-expressão? Pior: para quê sobrecarregá-los com o peso da enorme responsabilidade que é fazer os deveres para o dia seguinte? Um ultrage, sem dúvida.
Deixem-se, então, de crueldades e injustiças e as pobres criancinhas que passem a infância sentadas em frente à TV, ao computador ou a brincar com o telemóvel, pois só assim estarão verdadeiramente a aproveitar a liberdade a que têm direito... e, claro, a desenvolver a criatividade que ainda têm tão desperta. Afinal de contas, quando chegarem à idade adulta vão ter tantas preocupações e responsabilidades que, prepará-los já para isso, não será senão traumatizante.
Conhecimento, agilidade e capacidade de trabalho? Quem é que precisa disso...?
terça-feira, novembro 30, 2004
sábado, novembro 27, 2004
Se Shakespeare tivesse um computador portátil…
Há muitos séculos atrás, numa galáxia distante… melhor dizendo, antes que uma senhora inglesa se chateasse com o marido português e começasse a escrever longos livros chatérrimos sobre um adolescente imbecil chamado Harry Potter, o autor mais vendido em Inglaterra chamava-se Terry Pratchett.
Claro que ser um top de vendas nada significa quanto ao valor literário do autor – mas Pratchett construira um universo de figuras coerente, delirante e profundamente bem estruturado. O seu Discworld é uma sociedade de natureza medieval, habitada por seres humanos, vampiros, trolls e toda a parafernalia das histórias de fadas. Há a Guilda dos Ladrões e dos Assassinos (que passam recibos e pagam impostos ao Estado sobre o seu trabalho), há uma Universidade de Magia, The Unseen University, (à volta da qual gravitam magos poderosos e feiticeiros de meia tigela), a Guarda do Palácio, as 3 bruxas do Hamlet e a Morte, entre outras figuras inesquecíveis que agora não me ocorrem.
As aventuras de Discworld não têm heróis residentes. Qualquer das principais personagens de uma história pode ser figurante noutra ou estar ausente em meia dúzia de livros. Nem o tom da escrita se mantém: as aventuras da Guarda são um misto de capa e espada e 007, algumas aventuras com magos contêm cenas assustadoras, as intervenções das 3 bruxas são de gargalhada pegada. Em quase todas as histórias Death está presente como supporting character, comunicando telepaticamente com as pessoas EM MAIÚSCULAS – à excepção do livro Mort, em que Death contrata um aprendiz não muito inteligente o qual cria um sarilho de dimensões cósmicas ao impedir que uma linda princesa por quem se apaixonara seja morta na data devida.
Aventura, terror ou comédia, Discworld é um mundo de literatura ligeiramente louca, ligeiramente surrealista, que revela um autor de imaginação prodigiosa que nunca deixa de nos espantar, encantar e divertir.
Artur Tomé
Claro que ser um top de vendas nada significa quanto ao valor literário do autor – mas Pratchett construira um universo de figuras coerente, delirante e profundamente bem estruturado. O seu Discworld é uma sociedade de natureza medieval, habitada por seres humanos, vampiros, trolls e toda a parafernalia das histórias de fadas. Há a Guilda dos Ladrões e dos Assassinos (que passam recibos e pagam impostos ao Estado sobre o seu trabalho), há uma Universidade de Magia, The Unseen University, (à volta da qual gravitam magos poderosos e feiticeiros de meia tigela), a Guarda do Palácio, as 3 bruxas do Hamlet e a Morte, entre outras figuras inesquecíveis que agora não me ocorrem.
As aventuras de Discworld não têm heróis residentes. Qualquer das principais personagens de uma história pode ser figurante noutra ou estar ausente em meia dúzia de livros. Nem o tom da escrita se mantém: as aventuras da Guarda são um misto de capa e espada e 007, algumas aventuras com magos contêm cenas assustadoras, as intervenções das 3 bruxas são de gargalhada pegada. Em quase todas as histórias Death está presente como supporting character, comunicando telepaticamente com as pessoas EM MAIÚSCULAS – à excepção do livro Mort, em que Death contrata um aprendiz não muito inteligente o qual cria um sarilho de dimensões cósmicas ao impedir que uma linda princesa por quem se apaixonara seja morta na data devida.
Aventura, terror ou comédia, Discworld é um mundo de literatura ligeiramente louca, ligeiramente surrealista, que revela um autor de imaginação prodigiosa que nunca deixa de nos espantar, encantar e divertir.
Artur Tomé
finalmente o Pratchett!
Excepcionalmente - e talvez por ser, de todos os autores que o meu pai me tenta fazer ler, o único que já li, e adorei (será que os outros também são assim tão bons...?) - segue-se um post sobre o Terry Pratchett. A vantagem que os livros dele têm sobre Rowlings ou Zimmer Bradleys é o facto de, apesar do universo criado ser o mesmo, as personagens alternarem de forma a que leitor nunca se canse delas nem do tipo de história. Leiam. Vão ver que vale a pena. (Nota mental: não terminar posts com frases que soem a slogans...)
loiras amadoras de seios grandes
Recebi ontem um e-mail do meu estimado amigo Pedro, a informar que tinha criado um blog em parceria com o nosso amigo Pedro. Quem os conhece sabe que dali não pode sair coisa boa... Por enquanto é post atrás de post de indecisão sobre o que hão-de escrever, mas vai ser interessante ver a evolução que o blog terá. Para quem não conhece nem o Relógio nem o Santarém, recomendo que espreitem .
Publicidade de graça... querem melhor, meninos?
Publicidade de graça... querem melhor, meninos?
quinta-feira, novembro 25, 2004
O Rasputine da Banda Desenhada
Pode parecer uma provocação apresentar um argumentista de BD como um autor a merecer o interesse dos leitores deste blog. Mais ainda se eu disser que considero o homem um dos maiores autores da língua inglesa.
Para piorar as coisas, duas das suas obras foram adaptadas ao cinema de forma desastrosa. "A Liga dos cavalheiros extraordinários" deve ser o pior filme que eu vi na vida e "From Hell" é uma coisinha delicodoce comparada com o tenebroso negrume da BD que lhe deu origem. Basta folhear o album aí pela FNAC , e ver a espessura (em páginas, em texto, em imagem… e em preço!, cerca de 40€) para se perceber que aquele volume tem matéria para três ou quatro filmes que tirariam o sono a qualquer um.
Alan Moore é negro na escrita e tem uma cultura enciclopédica sobre ciência, História e ocultismo. O seu livro "From Hell", que versa uma explicação do tema Jack, o estripador, é um tratado sobre a Maçonaria, desde o seu funcionamento interno até à simbologia maçónica na arquitectura e urbanismo de Londres. Também é um retrato arrepiante sobre a forma como eram tratados os doentes mentais no sec XIX.
Moore alcançou notoriedade mundial quando revolucionou o tema dos super-heróis com o seu álbum "Watchmen" e transformou uma figura menor da BD, "O monstro do pântano" numa série de terror de culto. Depois criou "V for vendetta" com um vingador tipo Fantasma da Ópera num hino à anarquia no meio de uma sociedade à la 1984.
Nas suas obras, não há personagens secundárias. Mesmo as figuras que aparecem em 2 ou 3 imagens têm personalidade e história próprias. Histórias que se entretecem com as de outros, de tal forma que, à 3ª ou 4ª leitura, ainda estamos a descobrir dados novos.
(continua)
Para piorar as coisas, duas das suas obras foram adaptadas ao cinema de forma desastrosa. "A Liga dos cavalheiros extraordinários" deve ser o pior filme que eu vi na vida e "From Hell" é uma coisinha delicodoce comparada com o tenebroso negrume da BD que lhe deu origem. Basta folhear o album aí pela FNAC , e ver a espessura (em páginas, em texto, em imagem… e em preço!, cerca de 40€) para se perceber que aquele volume tem matéria para três ou quatro filmes que tirariam o sono a qualquer um.
Alan Moore é negro na escrita e tem uma cultura enciclopédica sobre ciência, História e ocultismo. O seu livro "From Hell", que versa uma explicação do tema Jack, o estripador, é um tratado sobre a Maçonaria, desde o seu funcionamento interno até à simbologia maçónica na arquitectura e urbanismo de Londres. Também é um retrato arrepiante sobre a forma como eram tratados os doentes mentais no sec XIX.
Moore alcançou notoriedade mundial quando revolucionou o tema dos super-heróis com o seu álbum "Watchmen" e transformou uma figura menor da BD, "O monstro do pântano" numa série de terror de culto. Depois criou "V for vendetta" com um vingador tipo Fantasma da Ópera num hino à anarquia no meio de uma sociedade à la 1984.
Nas suas obras, não há personagens secundárias. Mesmo as figuras que aparecem em 2 ou 3 imagens têm personalidade e história próprias. Histórias que se entretecem com as de outros, de tal forma que, à 3ª ou 4ª leitura, ainda estamos a descobrir dados novos.
(continua)
enquanto o meu pai não escreve nada sobre o Pratchett...
(não quero, de forma alguma, que te sintas pressionado!) ...aqui vai uma citação do livro "Sorcery", que ainda não li, mas onde, pelos vistos, aparece novamente a Morte, aqui surpreendentemente sábia:
"I meant," said Iplsore bitterly, "what is there in this world that makes living worthwhile?" Death thought about it. "CATS," he said eventually, "CATS ARE NICE."
"I meant," said Iplsore bitterly, "what is there in this world that makes living worthwhile?" Death thought about it. "CATS," he said eventually, "CATS ARE NICE."
star struck II
- TV Cabo, boa noite, fala Marta Tomé. Em que posso ser útil?
- Boa noite. Desculpe incomodar... Daqui fala Simone de Oliveira.
- Boa noite. Desculpe incomodar... Daqui fala Simone de Oliveira.
terça-feira, novembro 23, 2004
insólitos
E qual não é a minha surpresa ao atender uma chamada de um cliente que teve o Playboy, trocou-o pelo Sexy Hot e liga a reclamar:
- Oh menina, aquilo é uma pouca-vergonha, menina! Uma mulher com três homens ao mesmo tempo?? Eu sou um homem casado, menina, não posso ver essas coisas!
Ele há com cada um...
- Oh menina, aquilo é uma pouca-vergonha, menina! Uma mulher com três homens ao mesmo tempo?? Eu sou um homem casado, menina, não posso ver essas coisas!
Ele há com cada um...
quinta-feira, novembro 18, 2004
perseguição...?
Fiz uma exposé a Francês sobre o Hinduismo e pus toda a gente a debater a hipótese da reencarnação. A John fez um post sobre o Om que deixou os seus leitores muito curiosos.
Encontrei uma amiga de infância indiana que não via há uns bons 2 anos e que se ofereceu para me levar a visitar o Templo Hindu em Telheiras quando eu quiser. A História Comparada das Religiões começámos a dar as Religiões da Ásia Oriental.
Estou-me a sentir um tanto ou quanto perseguida, mas nem me importo muito... :)
Para acabar de vez com as trilogias
Não contente com ter publicado dois textos meus numa mesma semana, a dona deste site pôs os pés à parede:
- Não podes escrever só dois textos quando comentas uma trilogia de cinco volumes. É preciso, pelo menos, mais outro.
A escravatura já acabou, minha gente.
Mas sempre aproveito a falta de tempo e inspiração para citar uma passagem da série, o que talvez ajude a perceber o caos em que caímos quando mergulhamos na sua leitura.
"There is a theory which states that if anyone discovers exactly
what the Universe is here for and why it is here, it will instantly disappear and be replaced by something even more bizarre and inexplicable."
E, virando a página,
"There is another theory which states that this has already happenned."
E, por hoje, é tudo. A não ser para anunciar que descobri o meu objectivo na vida deste blog. Uma vez que muitos dos seus leitores estudam cultura inglesa, assumo a missão de revelar autores fundamentais que não são dados a conhecer em nenhuma cadeira da Nova.
Artur Tomé
Próximo autor: Alan Moore
- Não podes escrever só dois textos quando comentas uma trilogia de cinco volumes. É preciso, pelo menos, mais outro.
A escravatura já acabou, minha gente.
Mas sempre aproveito a falta de tempo e inspiração para citar uma passagem da série, o que talvez ajude a perceber o caos em que caímos quando mergulhamos na sua leitura.
"There is a theory which states that if anyone discovers exactly
what the Universe is here for and why it is here, it will instantly disappear and be replaced by something even more bizarre and inexplicable."
E, virando a página,
"There is another theory which states that this has already happenned."
E, por hoje, é tudo. A não ser para anunciar que descobri o meu objectivo na vida deste blog. Uma vez que muitos dos seus leitores estudam cultura inglesa, assumo a missão de revelar autores fundamentais que não são dados a conhecer em nenhuma cadeira da Nova.
Artur Tomé
Próximo autor: Alan Moore
vou ser tia! (como quem diz...)
MUITOS parabéns à Fátima que, daqui a seis meses, será a minha primeira amiga a ser mamã :).
Tenho a certeza que a Dalila vai adorar as histórias para dormir: os irmãos Grimm não te chegam aos calcanhares.
Tenho a certeza que a Dalila vai adorar as histórias para dormir: os irmãos Grimm não te chegam aos calcanhares.
sexta-feira, novembro 12, 2004
star struck
Fui ao El Corte Inglés beber café. Depois de horas a arrastar um muito paciente namorado, à procura de saias ou vestidos compridos (ando com desejos...) e de perceber que só os há em versão gala, descemos de piso e fui espreitar os livros. Pelo caminho deparei-me com uma série de cartazes de livros da Joanne Harris, que rodeavam uma mesa onde estava uma senhora sentada com funcionárias do El Corte à volta. E não é que era a Joanne Harris...?
Peço autógrafo, não peço autógrafo? Oh, minha Deusa, é mesmo a Joanne Harris...!
Aproveitei. Não havia fila e só tive que esperar que um casal deixasse de conversar com ela para lhe pedir uma assinatura. Ainda fui interpelada por uma das raparigas, que me perguntou se eu era da revista Mariana... Hell, no! Chegou a minha vez e lá lhe dei uma folhinha que a senhora - muito mais despachada e decidida que aparenta ser nas fotografias angelicais dos livros - me autografou. Ao ir-me embora, o namorado deu-me na cabeça por não ter conversado com ela... Como me tinha deixado somente a assinatura, ele pegou na folha e foi ter com a escritora pedir que acrescentasse o meu nome.
Que ela escreveu sem "th", pela primeira vez na minha experiência com anglo-saxões...
Peço autógrafo, não peço autógrafo? Oh, minha Deusa, é mesmo a Joanne Harris...!
Aproveitei. Não havia fila e só tive que esperar que um casal deixasse de conversar com ela para lhe pedir uma assinatura. Ainda fui interpelada por uma das raparigas, que me perguntou se eu era da revista Mariana... Hell, no! Chegou a minha vez e lá lhe dei uma folhinha que a senhora - muito mais despachada e decidida que aparenta ser nas fotografias angelicais dos livros - me autografou. Ao ir-me embora, o namorado deu-me na cabeça por não ter conversado com ela... Como me tinha deixado somente a assinatura, ele pegou na folha e foi ter com a escritora pedir que acrescentasse o meu nome.
Que ela escreveu sem "th", pela primeira vez na minha experiência com anglo-saxões...
quinta-feira, novembro 11, 2004
A trilogia em cinco volumes
"Esclareço que escrevo este texto no pleno uso das minhas faculdades mentais. Não bebi, não fumei nem ingeri sob qualquer forma nenhum produto com efeitos psicotrópicos. Esta trilogia é que é louca por natureza."
"The Hitchicker's Guide To The Galaxy" é um projecto de Douglas Adams que começou como programa de rádio, passou a livro e se tornou uma lenda de culto que anda há que anos para ser adaptado ao cinema. Há por aí um trailer que não adianta muito…
A história é mais ou menos assim:
Algures no Universo, uma civilização decidiu criar um computador que pudesse responder à grande questão sobre Deus, o Universo e Tudo o mais. O projecto teve a oposição do Grémio dos filósofos e psicanalistas lá do sítio, que viam os seus empregos ameaçados. Mas, uma vez construído, o computador anunciou que, sim senhor, podia computar tal resposta mas que isso ia levar tempo – uns milhares de anos.
O tempo passou e, finalmente, o computador anunciou ter encontrado a resposta: quarenta e dois.
Só face a tal resposta é que se percebeu que ninguém sabia qual era a pergunta. E para a definir foi construído outro computador maior – a Terra – que processaria a resposta dentro de alguns milhões de anos.
Quando a resposta está prestes a ser calculada, uma esquadra dos terríveis Vogons, cujo comandante é manipulado pelo seu psiquiatra privativo, arrasa a Terra com um pretexto fútil.
Sobrevivem apenas dois terrestres: Arthur Dent, um trintão pató que é resgatado por um amigo de longa data, de seu nome Ford Perfect, que era afinal um ET que viajava pelo Universo à boleia: e Trillian, uma moça inglesa que partira tempos atrás com um namorado que era o Presidente do Universo e que viajava numa nave com um motor de improbabilidade ilimitada.
Mas a personagem mais admirável do livro é Marvin, um robot que é o mordomo do presidente. Marvin, superinteligente e superdeprimido está constantemente a ser abandonado milhões de anos no passado e no futuro, por esquecimento, pelos humanos que efectuam constantes viagens pelo tempo e acaba mais velho que a própria Criação .
Se fosse só isto, a obra seria relativamente racional. Mas há constantes deambulações do narrador que tanto fala duma civilização de seres de cinquenta braços que foram a única raça da galáxia a inventar o desodorizante antes da roda, como leva a tal nave com motor de improbabilidade ilimitada a um encontro com uma infinidade de macacos agarrados a máquinas de escrever que acabam de criar o Hamlet.
(continua no próximo número)
Como ler o "Guia":
Tive a sorte de começar a ler a trilogia pelo segundo volume, o que recomendo vivamente. Tem a grande vantagem de resumir o que se passou no primeiro (o que, acreditem, é uma grande ajuda) e de tratar dos pontos fundamentais da linha narrativa.
O primeiro volume engonha um pouco, sente-se que o autor está a escrever sem fazer a mínima ideia do que vai acrescentar no parágrafo seguinte. Lá para o fim os heróis encontram-se com as cobaias que encomendaram a construção do Planeta Terra… Sim, estão a ler bem: em matéria de QI, os habitantes da Terra classificam-se, por ordem crescente, em terceiro lugar os humanos, em segundo, os golfinhos e em primeiro lugar os ratinhos de laboratório que estão a estudar os humanos enquanto os convencem que os humanos é que os estão a estudar a eles.
O terceiro volume é para esquecer: graças a uma viagem no tempo, voltamos à Terra dois dias antes da sua destruição mas tudo gira à volta de um jogo de cricket onde há uns postes que uns outros extraterrestres desejam, o que dá origem a uma guerra interestrelar tão confusa como o jogo que os bifes inventaram.
Passemos então do segundo volume para o quarto, o mais romântico e "feliz" dos cinco volumes desta trilogia. Arthur Dent apaixona-se e consegue ensinar a noiva a voar (sabem, aquela técnica em que saltamos e nos esquecemos de cair; é só apanhar o jeito). A Terra está de volta, mas é uma cópia que os golfinhos nos deixaram, com uma frase de despedida. "So long, and thanks for all the fish".
Touching…
O quinto volume? Já o li na FNAC mas macacos me mordam se faço alguma ideia do seu conteúdo.
Por ordem de saída, os livros são os seguintes (à frente, a minha classificação de 1 a 5)
The Hitch Hicker's Guide To the Galaxy ####
The Restaurant at the end of the Universe #####
Life, the Universe and Everything ##
So long, and thanks for all the fish #####
Mostly Harmless ???
(Pan Books)
Artur Tomé
"The Hitchicker's Guide To The Galaxy" é um projecto de Douglas Adams que começou como programa de rádio, passou a livro e se tornou uma lenda de culto que anda há que anos para ser adaptado ao cinema. Há por aí um trailer que não adianta muito…
A história é mais ou menos assim:
Algures no Universo, uma civilização decidiu criar um computador que pudesse responder à grande questão sobre Deus, o Universo e Tudo o mais. O projecto teve a oposição do Grémio dos filósofos e psicanalistas lá do sítio, que viam os seus empregos ameaçados. Mas, uma vez construído, o computador anunciou que, sim senhor, podia computar tal resposta mas que isso ia levar tempo – uns milhares de anos.
O tempo passou e, finalmente, o computador anunciou ter encontrado a resposta: quarenta e dois.
Só face a tal resposta é que se percebeu que ninguém sabia qual era a pergunta. E para a definir foi construído outro computador maior – a Terra – que processaria a resposta dentro de alguns milhões de anos.
Quando a resposta está prestes a ser calculada, uma esquadra dos terríveis Vogons, cujo comandante é manipulado pelo seu psiquiatra privativo, arrasa a Terra com um pretexto fútil.
Sobrevivem apenas dois terrestres: Arthur Dent, um trintão pató que é resgatado por um amigo de longa data, de seu nome Ford Perfect, que era afinal um ET que viajava pelo Universo à boleia: e Trillian, uma moça inglesa que partira tempos atrás com um namorado que era o Presidente do Universo e que viajava numa nave com um motor de improbabilidade ilimitada.
Mas a personagem mais admirável do livro é Marvin, um robot que é o mordomo do presidente. Marvin, superinteligente e superdeprimido está constantemente a ser abandonado milhões de anos no passado e no futuro, por esquecimento, pelos humanos que efectuam constantes viagens pelo tempo e acaba mais velho que a própria Criação .
Se fosse só isto, a obra seria relativamente racional. Mas há constantes deambulações do narrador que tanto fala duma civilização de seres de cinquenta braços que foram a única raça da galáxia a inventar o desodorizante antes da roda, como leva a tal nave com motor de improbabilidade ilimitada a um encontro com uma infinidade de macacos agarrados a máquinas de escrever que acabam de criar o Hamlet.
(continua no próximo número)
Como ler o "Guia":
Tive a sorte de começar a ler a trilogia pelo segundo volume, o que recomendo vivamente. Tem a grande vantagem de resumir o que se passou no primeiro (o que, acreditem, é uma grande ajuda) e de tratar dos pontos fundamentais da linha narrativa.
O primeiro volume engonha um pouco, sente-se que o autor está a escrever sem fazer a mínima ideia do que vai acrescentar no parágrafo seguinte. Lá para o fim os heróis encontram-se com as cobaias que encomendaram a construção do Planeta Terra… Sim, estão a ler bem: em matéria de QI, os habitantes da Terra classificam-se, por ordem crescente, em terceiro lugar os humanos, em segundo, os golfinhos e em primeiro lugar os ratinhos de laboratório que estão a estudar os humanos enquanto os convencem que os humanos é que os estão a estudar a eles.
O terceiro volume é para esquecer: graças a uma viagem no tempo, voltamos à Terra dois dias antes da sua destruição mas tudo gira à volta de um jogo de cricket onde há uns postes que uns outros extraterrestres desejam, o que dá origem a uma guerra interestrelar tão confusa como o jogo que os bifes inventaram.
Passemos então do segundo volume para o quarto, o mais romântico e "feliz" dos cinco volumes desta trilogia. Arthur Dent apaixona-se e consegue ensinar a noiva a voar (sabem, aquela técnica em que saltamos e nos esquecemos de cair; é só apanhar o jeito). A Terra está de volta, mas é uma cópia que os golfinhos nos deixaram, com uma frase de despedida. "So long, and thanks for all the fish".
Touching…
O quinto volume? Já o li na FNAC mas macacos me mordam se faço alguma ideia do seu conteúdo.
Por ordem de saída, os livros são os seguintes (à frente, a minha classificação de 1 a 5)
The Hitch Hicker's Guide To the Galaxy ####
The Restaurant at the end of the Universe #####
Life, the Universe and Everything ##
So long, and thanks for all the fish #####
Mostly Harmless ???
(Pan Books)
Artur Tomé
és primo de quem...?!
Entraram, esta semana, novos operadores para o atendimento da TV Cabo. Como os da noite não são muitos, a supervisão pediu-me para lhes dar apoio durante as chamadas. Reparei que um deles tinha Alexandre O'Neill entre o primeiro nome e o apelido. "Era meu primo", respondeu ele.
Para quem porventura não conheça a obra do senhor, aqui vai um poema sobre o ser mais perfeito da Criação:
Gato | Alexandre O’Neill
Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhore de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!
De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?
Para quem porventura não conheça a obra do senhor, aqui vai um poema sobre o ser mais perfeito da Criação:
Gato | Alexandre O’Neill
Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhore de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!
De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?
quinta-feira, novembro 04, 2004
Da tabuada aos blogs
Lentamente vai nascendo em mim uma irritação em relação aos blogs. Com a sensação crescente de que há qualquer coisa de errado, de batota, nesta forma de comunicação.
Deixem-me ir à minha infância para me ajudar a mim próprio a definir-me.
No princípio havia a tabuada. No liceu, professores como o Palma Fernandes, ensinavam cálculo mental. (Nada mais simples do que multiplicar um número por 25: multiplica-se por 100 e divide-se por 4). Hoje vai-se a um café ou uma tabacaria, compra-se um café e um bolo, um jornal e um maço de tabaco e, quem nos atende, tem de fazer a soma na registadora para saber qual o total da despesa. Mesmo que tenham aprendido a tabuada, não houve ginástica, não houve rotina de esforço continuado, a arte de calcular de cabeça perdeu-se.
Aprendi também a desenhar letra e como espacejar as letras de uma palavra. Surgiram primeiro as letras de decalque da Mecanorma, depois os tipos de letra nos computadores e hoje poucos art directors sabem que, no cabeçalho de uma notícia ou de um anúncio, o espacejamento entre letras deve ser ajustado. (Experimentem imprimir BAAL e VALE em maiúsculas no tamanho 30 ou 40 pontos. O espaço entre o V e o A tem de ser aumentado e o espaço entre os dois AA tem de ser reduzido, senão o par VA fica muito junto e o AA muito separado). Perdeu-se uma arte que resulta de esforço e de técnica para ser assimilada. Sobrevive sob o nome de lettering, uma bizarria de designers mais profissionais.
Os blogs são outro desastre nessa mesma linha de enfraquecimento de uma arte por ausência de esforço e de perda de "ginástica".
No meu tempo (raio de expressão, sinto-me um velhinho de dedo encarquilhado em riste), quem escrevia alguma coisa e a queria comunicar ao público, tinha de procurar um editor. Tinha de escolher quem se ocupasse de temas relacionados com o que escrevia e sujeitar-se aos comentários desse editor e, eventualmente, dos leitores anónimos.
Com os blogs é tudo mais fácil. Pois, o problema é esse. "Tenho um blog, vai visitá-lo e envia os teus comentários". Os amigos e a família não são feitos para comentar tentativas literárias, são feitos para serem família e amigos. E nenhum fará uma crítica fria e profissional como um editor a quem editar ou não editar aquilo é uma decisão que sentirá na carteira.
Sim, já havia poetas e contistas com edições de autor. Mas era uma decisão a ser bem pensada, porque custava dinheiro e dava trabalho ter de visitar livrarias a pedir para terem alguns exemplares à comissão. Agora escreve-se um texto num blog e sentimos a alma reconfortada porque amigos e conhecidos de outros blogs escrevem-nos a comentar os nossos textos.
É batota, minha gente. O mundo real, lá fora, é mais duro, filhota. Não deixes que a prática dos blogs vá enfraquecer a excelente musculatura que agora tens.
Um abraço a todos.
Artur Tomé
Deixem-me ir à minha infância para me ajudar a mim próprio a definir-me.
No princípio havia a tabuada. No liceu, professores como o Palma Fernandes, ensinavam cálculo mental. (Nada mais simples do que multiplicar um número por 25: multiplica-se por 100 e divide-se por 4). Hoje vai-se a um café ou uma tabacaria, compra-se um café e um bolo, um jornal e um maço de tabaco e, quem nos atende, tem de fazer a soma na registadora para saber qual o total da despesa. Mesmo que tenham aprendido a tabuada, não houve ginástica, não houve rotina de esforço continuado, a arte de calcular de cabeça perdeu-se.
Aprendi também a desenhar letra e como espacejar as letras de uma palavra. Surgiram primeiro as letras de decalque da Mecanorma, depois os tipos de letra nos computadores e hoje poucos art directors sabem que, no cabeçalho de uma notícia ou de um anúncio, o espacejamento entre letras deve ser ajustado. (Experimentem imprimir BAAL e VALE em maiúsculas no tamanho 30 ou 40 pontos. O espaço entre o V e o A tem de ser aumentado e o espaço entre os dois AA tem de ser reduzido, senão o par VA fica muito junto e o AA muito separado). Perdeu-se uma arte que resulta de esforço e de técnica para ser assimilada. Sobrevive sob o nome de lettering, uma bizarria de designers mais profissionais.
Os blogs são outro desastre nessa mesma linha de enfraquecimento de uma arte por ausência de esforço e de perda de "ginástica".
No meu tempo (raio de expressão, sinto-me um velhinho de dedo encarquilhado em riste), quem escrevia alguma coisa e a queria comunicar ao público, tinha de procurar um editor. Tinha de escolher quem se ocupasse de temas relacionados com o que escrevia e sujeitar-se aos comentários desse editor e, eventualmente, dos leitores anónimos.
Com os blogs é tudo mais fácil. Pois, o problema é esse. "Tenho um blog, vai visitá-lo e envia os teus comentários". Os amigos e a família não são feitos para comentar tentativas literárias, são feitos para serem família e amigos. E nenhum fará uma crítica fria e profissional como um editor a quem editar ou não editar aquilo é uma decisão que sentirá na carteira.
Sim, já havia poetas e contistas com edições de autor. Mas era uma decisão a ser bem pensada, porque custava dinheiro e dava trabalho ter de visitar livrarias a pedir para terem alguns exemplares à comissão. Agora escreve-se um texto num blog e sentimos a alma reconfortada porque amigos e conhecidos de outros blogs escrevem-nos a comentar os nossos textos.
É batota, minha gente. O mundo real, lá fora, é mais duro, filhota. Não deixes que a prática dos blogs vá enfraquecer a excelente musculatura que agora tens.
Um abraço a todos.
Artur Tomé
quarta-feira, novembro 03, 2004
volta Clinton, estás perdoado!
Segundo o site do New York Times, as percentagens dos votos para a presidência do Império estão a: 53.3% Bush vs. 46% Kerry. Enquanto rezo para que o Júnior não ganhe e para que o Mundo não fique um mês sem saber quem é, de facto, Presidente, aqui vai um olhar nostálgico pelos mais memoráveis "Bushisms" (deixei de fora "Tenho pena de não saber falar latim para poder comunicar com os povos da América Latina" e o clássico "Fool me once, shame on...shame on you. Fool me...if fooled you can't get fooled again.")
Prémio Filantropia:
"Keep good relations with the Grecians."
Prémio Jessica Simpson:
"I have a different vision of leadership. A leadership is someone who brings people together."
Prémio Einstein:
"It's clearly a budget. It's got a lot of numbers in it."
Prémio Dislexia:
"They misunderestimated me."
Prémio Esquizofrenia:
"I have opinions of my own - strong opinions - but I don't always agree with them."
Prémio Archie Bunker:
"I mean, there needs to be a wholesale effort against racial profiling, which is illiterate children."
Prémio Carrasco:
"I'm not sure 80% of the people get the death tax. I know this: 100% will get it if I'm the president."
Prémio O Triunfo dos Porcos:
"If most of the breaks go to wealthy people it's because most of the people who pay taxes are wealthy."
Prémio Supremacia:
"We're going to have the best educated american people in the world."
Prémio Agatha Christie:
"[The 9/11 report] reads like a mystery, a novel. It's well written."
Prémio Hermafrodita:
"The most important job is not to be governor, or first lady in my case."
Prémio Nostradamus:
"I have made good judgments in the past. I have made good judgments in the future."
Prémio João Viera Pinto:
"I hope the ambitious realize that they are more likely to succeed with success as opposed to failure."
Prémio Um Qualquer Outro Jogador de Futebol:
"If we don't succeed, we run the risk of failure."
Prémio Pioneiro:
"In my sentences I go where no man has gone before."
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