Peço desculpa a todos os meus admiradores mas a minha habitual colaboração das 5ªsfeiras ficou no tinteiro – que é como quem diz, no computador ou ,melhor dizendo, nem chegou a entrar…
Isto um homem não é de ferro e, depois do Paulo Portas ter apresentado governo, do Louçã ter dito o que disse ao Portas e do Freitas apelar ao voto em Sócrates, os meus neurónios entraram em crash. Foi aí que chegou a constipação. Não a constipação metafísica do Pessoa, mas uma constipação de atchim e muitos lenços de papel sujos.
Finalmente, a leitura da última crónica do Ferreira Fernandes, na última página da Sábado desta semana (Sábado que, como o nome indica, sai à sexta feira) deu-me tema para botar umas palavras.
Malta, vocês que navegam quase todos nas águas da literatura e nos abismos insondáveis das semânticas, leiam aquela crónica. E, por favor, aprendam a falar claro e simples. Vocês vão educar os futuros políticos e gestores… Denunciem a verborreia pseudo-culta, desde os bordões do "eu diria que…" (então diz, porra!), o "nomeadamente" e "na medida em que", até aos polissílabos estrambólicos que só escondem o vazio de ideias e propostas de quem as usa.
Lembro-me da apresentação pública do "Consumactor", um livro de que fui co-autor com Beja Santos (edição Temas e Debates). Um professor universitário, disse que iria propor o livro para os seus alunos, só lamentava a sua linguagem demasiado acessível, imprópria de um trabalho universitário. Como tal linguagem fôra a minha contribuição para o livro, contei até 10 e consegui não lhe apertar o pescoço ali em público.
Transcrever o FF? Estou muito constipado. Comprem a revista, que vale a pena.
Artur Tomé
sábado, janeiro 29, 2005
noitada
Seis mil e-mails por responder.
Abastecimento de sementes de girassol com tamari e gengibre, bolachas integrais de flocos de aveia, sementes de sésamo e farinha de trigo, garrafa de Pleno Tisanas de chá preto (98% do qual é água, mas enfim...).
Seis mini-discs e o namorado como companhia.
Sou animada por pérolas como:
"espero que fação"
"agora que tenhem os meus dados"
"com vosco"
"que vosses me inviaram".
Querem rave melhor que esta?
Abastecimento de sementes de girassol com tamari e gengibre, bolachas integrais de flocos de aveia, sementes de sésamo e farinha de trigo, garrafa de Pleno Tisanas de chá preto (98% do qual é água, mas enfim...).
Seis mini-discs e o namorado como companhia.
Sou animada por pérolas como:
"espero que fação"
"agora que tenhem os meus dados"
"com vosco"
"que vosses me inviaram".
Querem rave melhor que esta?
quinta-feira, janeiro 27, 2005
quinta-feira, janeiro 20, 2005
Jack Kirby , o rei dos super-heróis
Já que falei em Will Eisner, nada mais natural que referir outro dinossauro da BD americana, o espantoso Jack Kirby (1917 – 1994).
Nascido por altura da Primeira Guerra Mundial, Kirby começou a desenhar pouco depois de sair do berço, tendo colaborado em todo o tipo de publicações imagináveis e trabalhando qualquer género que lhe encomendassem: histórias de terror, romances ingénuos, histórias de aviação, super-herois… em todas as áreas Kirby deixou marca e uma quantidade impressionante de trabalhos.
A fama chegou em 1941, ao criar visualmente as histórias do Capitão América. Contra a onda ariana do nazismo, os laboratórios americanos transformam um rapaz lingrinhas num super soldado, alto, forte e louro – provando assim que podiam ser mais nazis que Hitler.
À semelhança dos restantes super-herois então surgidos, também o Capitão América entra na guerra contra o Eixo antes dos EUA se envolverem no conflito, o que pode ser explicado pelo facto de a maioria dos seus autores ser judia.
Com os tempos de paz, o Capitão América vai ficando no esquecimento e acaba por desaparecer de vez. Kirby assume vários trabalhos de chacha para sobreviver, até que, em 1961, faz parceria com o escritor Stan Lee na editora Marvel e juntos criam o Quarteto Fantástico, Hulk, Thor e várias outras figuras que relançam um género que parecia esgotado há muito.
O autor destas linhas ficou especialmente extasiado como Kirby, à boleia das aventuras de Thor na Terra, recria os principais episódios da mitologia nórdica, como se de uma serie de aventuras se tratasse, dando rédea solta à sua criatividade para criar armas, roupas e adereços de forma a poder apresentar uma página dupla com um exército onde não se vêem duas figuras humanas com a mesma arma ou mesma roupa.
Depois surge o corte com Stan Lee e Kirby passa para a editora rival, a Detective Comics, onde relança histórias do Super-Homem e cria um mundo do Mal, Apocalyps, regido por um temível Darkseid. Sim, muito antes do início das filmagens da Guerra das Estrelas.
Criativo até ao último fôlego, os universos de Kirby são um marco monumental na história da narrativa gráfica.
Artur Tomé
quarta-feira, janeiro 19, 2005
as coisas que a gente aprende no canal História...
Reza a lenda que, em inícios do século XVII, apareceu um polaco que se dizia filho de Ivan, O Terrível e se tornou czar. Cerca de um ano depois, descobriram-lhe a careca e mandaram-no de volta para a Polónia à boa maneira russa: prática e económica. Mataram o senhor, queimaram-no, puseram as cinzas num canhão e apontaram para a Polónia.
E ainda me perguntam porque é que a Mãe Rússia me fascina...!
segunda-feira, janeiro 17, 2005
Eu não queria estar sempre a falar de trabalho, a sério que não... Mas ponham-se no meu lugar:
Tiram-vos dos telefones para responder a e-mails. Recebem um mail que tem como remetente alguém cujo servidor é o Ministério da Educação. O subject é "Aderência à Sport TV" e o senhor diz que o serviço de apoio a clientes é "incipiente".
E perdem a pouca fé que ainda tinham no futuro da Língua...
Tiram-vos dos telefones para responder a e-mails. Recebem um mail que tem como remetente alguém cujo servidor é o Ministério da Educação. O subject é "Aderência à Sport TV" e o senhor diz que o serviço de apoio a clientes é "incipiente".
E perdem a pouca fé que ainda tinham no futuro da Língua...
sexta-feira, janeiro 14, 2005
também quero...!
"1893 - [Edvard Munch] Contacta com o círculo literário do Porquinho Preto em Berlim".
Porquinho Preto...?! Anda uma pessoa a contribuir para blogs litarários com nomes como "Avant-Scène", quando podia fazer parte de algo com um nome tão catita como Porquinho Preto...
Aceitam-se sugestões ;).
Porquinho Preto...?! Anda uma pessoa a contribuir para blogs litarários com nomes como "Avant-Scène", quando podia fazer parte de algo com um nome tão catita como Porquinho Preto...
Aceitam-se sugestões ;).
quinta-feira, janeiro 13, 2005
Will Eisner 06.03.1917 – 03.01.2005
Morreu, no princípio deste ano, um jovem de 87 anos. Morreu Will Eisner, o argumentista e ilustrador que, nas década de 30 e 40, ajudou a criar a onda editorial da BD americana de super-heróis que, na década de 50, criou Spirit, o primeiro dos heróis mascarados (sim, o Lee Falk criou o Fantasma, mais ou menos na mesma época, mas o grafismo e argumentos de Eisner eram muito mais inovadores) e que, na década de 80, voltou a inovar o mercado americano com as graphic novels.
Na década de 30, para além de autor, tornou-se também editor, tendo trabalhado com artistas como Bob Kane, o primeiro desenhador e co-autor de Batman e com Jack Kirby, outro dinossauro criativo, autor de ícones como o Capitão América e Quarteto Fantástico.
Como editor, talvez o seu maior desaire foi ter recusado o trabalho de dois jovens, Jerry Siegel e Joe Shuster, que procuravam quem publicasse o seu herói que dava pelo nome de Superman.
O principal prémio na área da BD tinha o seu nome, ainda ele era vivo e muitos trabalhos haveria de publicar desde então. "The building" e "A contract with God". Foram duas das suas obras-primas (ok, se é obra-prima, só há uma, adiante) onde inundou as páginas com a sua ternura pelo ser humano, mesmo nas situações mais miseráveis, e com uma arte gráfica sempre inovadora e enganosamente simples.
Artur Tomé
quinta-feira, janeiro 06, 2005
pensamento da noite
"Se os homens são todos iguais, porque é que as mulheres demoram tanto tempo a escolher?"
Já dizia o meu amigo Orwell: há uns mais iguais que outros...
Já dizia o meu amigo Orwell: há uns mais iguais que outros...
As Fontes do Paraíso de Arthur Clarke
Este livro é uma colectânea de contos disfarçada, tantas são as histórias que se entrelaçam, no tempo e no espaço. (*)
O tema principal é um sistema revolucionário de partida para o espaço: não com foguetes, mas… de elevador. Admitindo a produção industrial de uma nova fibra muito mais leve e mais resistente que o aço – e várias soluções estão presentemente em estudo nesse campo – Clarke imagina quatro fios estendidos de um satélite geostacionário para a Terra, e continuando, desse satélite, mais para o exterior ainda, um gigantesco tubo com centenas de quilómetros de altura... ou de comprimento, conforme a perspectiva de quem o olhar.
Esse tubo pode servir de gaiola para deslocar uma cápsula espacial que funciona como elevador, movida apenas pela corrente eléctrica que passa pelos fios, ou como canhão de lançamento de naves espaciais, reduzindo em muito a despesa de tais lançamentos.
Vários são os problemas de engenharia debatidos ao longo do livro, bem como questões políticas (o engenheiro inventor do fio é funcionário público, trabalhando numa EDP planetária, mas quer ser ele a controlar o projecto).
Engenheiros e budistas
Mas o principal problema de engenharia é de natureza religiosa.
Só existe um ponto ideal para ancoragem do elevador na Terra. Esse ponto ideal fica no topo de uma montanha, ao nível do Equador, situado num país inventado por Clarke mas que é uma cópia quase fiel do Sri Lanka. Sucede que no topo de tal montanha existe um mosteiro budista, com direitos ancestrais sobre o local e que não fazem qualquer tenção de abandonar o local.
Os problemas de engenharia do elevador cruzam-se com a história da origem do mosteiro, dando Clarke largas ao seu fascínio pela tradição e filosofia budista, à mistura com estudos sobre neutrinos que desenvolvem uma teoria, cara ao autor, segundo a qual o nosso Sol está prestes a dar as últimas (não se assuste o leitor: a nossa estrela dura ainda cerca de 1000 anos; depois… funde-se, e nós com ela).
Para temperar tudo isto, montes de citações, na maioria inventada pelo autor, com comentários sarcásticos sobre a nossa civilização, fazem de "As Fontes do Paraíso" uma viagem fascinante pela História do pensamento religioso e ético da espécie humana.
(*) editado em português pela Europa América
Artur Tomé
O tema principal é um sistema revolucionário de partida para o espaço: não com foguetes, mas… de elevador. Admitindo a produção industrial de uma nova fibra muito mais leve e mais resistente que o aço – e várias soluções estão presentemente em estudo nesse campo – Clarke imagina quatro fios estendidos de um satélite geostacionário para a Terra, e continuando, desse satélite, mais para o exterior ainda, um gigantesco tubo com centenas de quilómetros de altura... ou de comprimento, conforme a perspectiva de quem o olhar.
Esse tubo pode servir de gaiola para deslocar uma cápsula espacial que funciona como elevador, movida apenas pela corrente eléctrica que passa pelos fios, ou como canhão de lançamento de naves espaciais, reduzindo em muito a despesa de tais lançamentos.
Vários são os problemas de engenharia debatidos ao longo do livro, bem como questões políticas (o engenheiro inventor do fio é funcionário público, trabalhando numa EDP planetária, mas quer ser ele a controlar o projecto).
Engenheiros e budistas
Mas o principal problema de engenharia é de natureza religiosa.
Só existe um ponto ideal para ancoragem do elevador na Terra. Esse ponto ideal fica no topo de uma montanha, ao nível do Equador, situado num país inventado por Clarke mas que é uma cópia quase fiel do Sri Lanka. Sucede que no topo de tal montanha existe um mosteiro budista, com direitos ancestrais sobre o local e que não fazem qualquer tenção de abandonar o local.
Os problemas de engenharia do elevador cruzam-se com a história da origem do mosteiro, dando Clarke largas ao seu fascínio pela tradição e filosofia budista, à mistura com estudos sobre neutrinos que desenvolvem uma teoria, cara ao autor, segundo a qual o nosso Sol está prestes a dar as últimas (não se assuste o leitor: a nossa estrela dura ainda cerca de 1000 anos; depois… funde-se, e nós com ela).
Para temperar tudo isto, montes de citações, na maioria inventada pelo autor, com comentários sarcásticos sobre a nossa civilização, fazem de "As Fontes do Paraíso" uma viagem fascinante pela História do pensamento religioso e ético da espécie humana.
(*) editado em português pela Europa América
Artur Tomé
quarta-feira, janeiro 05, 2005
liberte a criança que há em si
Em criança passava tardes a ouvir a cassete áudio com a versão brasileira da Disney. Li o livro. Vi o "Hook". Auto-diagnostiquei-me como tendo síndrome de Peter Pan. Hoje saí do trabalho e fui ver o filme sobre o autor.
"Finding Neverland"/"À Procura da Terra do Nunca" romanceia a vida de J. M. Barrie, dramaturgo escocês, e a sua inspiração para a peça "Peter and Wendy", que mais tarde adaptaria para livro - o clássico infantil "Peter Pan". Resumidamente e sem querer denunciar muito do filme, Barrie (o versátil Johnny Depp que insiste em usar eye-liner...) torna-se amigo de uma viúva (Kate Winslet) e dos seus quatro filhos. Barrie baseia-se na mais problemática das crianças para a figura central da sua nova peça: Peter é, dos quatro, o que menos se deixa levar pela imaginação, sempre relutante em fazer parte das brincadeiras de piratas, índios ou cowboys.
Pelo meio temos a avó austera que dá origem ao Capitão Gancho (Julie Christie) e o director do Teatro (um hilariante Dustin Hoffman, outrora Gancho himself).
Todo o filme gira em torno da ideia de que as coisas existem desde que acreditemos nelas - e que deixamos de ser crianças a partir do momento em que vemos essas mesmas coisas como elas são na "realidade" (conceito bastante subjectivo, a meu ver...). É divertido, comovente mas, acima de tudo, faz-nos sentir como se tivéssemos outra vez 8 anos.
Uma delícia.
segunda-feira, janeiro 03, 2005
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