quarta-feira, março 30, 2005
sexta-feira... santa?
Na sexta-feira santa passei pela Fnac para revelar as fotografias de Braga. Até aqui tudo bem. Ao passear-me pela secção dos livros, deparei-me com a zona de destaques decorada com panos púrpura, candelabros e... carradas de livros sobre temas místicos e esotéricos, desde os Templários, agora tão na moda, à bruxaria satânica.
A heresia!
Não que me importe, até sou a favor de tornarem certa e determinada infomação acessível ao público (os livros de bruxaria satânica nem tanto, mas enfim...). O que me chocou foi ver tal iniciativa surgir naquela altura do ano, num país tão católico e temente a Deus.
Bem, convenhamos... As duas principais festas do Cristianismo roubaram as datas de celebração ao paganismo europeu. Em vez de se celebrar um solstício e um equinócio, celebra-se o nascimento e a morte de Jesus. Mas já repararam que essas festas estão a fugir cada vez mais à temática cristã e a regressar ao domínio pagão? O Natal tem como principal figura um velhinho de barbas brancas vestido pela Coca-Cola e a Páscoa um coelhinho e ovos de chocolate.
Para quê contrariar?
terça-feira, março 29, 2005
vá para fora cá dentro
No fim-de-semana antes da Páscoa fui a Braga mudar de ares.
Ao sairmos da estação, depois de três horas e meia num expresso, resolvemos ir à agência de viagens em frente, perguntar onde ficava a pousada de juventude. Uma senhora, muito atrapalhada, respondeu:
- Para isso têm de ir para Braga...
Não me digam que fui outra vez parar ao Areeiro...! Nem sequer era eu que ía a conduzir...
Mas não. Para a senhora, Braga resumia-se ao centro da cidade e lá fomos nós a pé até uma pousada de juventude já lotada. Reencaminharam-nos para uma residencial com um elevador de velocidade supersónica e, arrumada a bagagem, partimos à aventura.
Descobri que os pombos bracarenses gostam de comida do McDonald's e cheguei a ver um ser perseguido por uma criancinha psicopata que o tentava atropelar no meio da praça principal, com o seu carrinho.
Talvez devido ao mau tempo e, principlamente, por não haver tanta calçada como cá em baixo, por vezes parecia estar noutro país. Mas depois reparava nas ruas repletas de decorações pascais, com um Cristo muito martirizdo e sangrento em tudo o que era poste e montra (viva o culto do sofrimento...) e lá me convencia de que ainda estava cá.
Também Braga já foi invadida pelo Império Chinês mas as zonas resistentes são algo bizarras. Passei por uma montra que continha os seguintes elementos: um biombo, um candeeiro de rua, um candeeiro de mesa-de-cabeceira e dois jipes. Dois jipes a sério! What the...?
Entretanto encontrámos uma loja TV Cabo a anunciar um serviço já descontinuado há largos meses. Primeiro pensei em tirarmos fotos em frente à loja mas, para não parecermos malucos, resolvemos entrar e meter conversa com a senhora, saber como vai o negócio, se detesta tanto o Siebel como nós, etc - o que foi uma atitude bem mais sã...
Para desespero do Edgar, também há lojas de música em Braga e lá foi a Marta testar os pianos. Tive de os deixar lá mas, para compensar, trouxe uma pandeireta artesanal, que também deve chatear os vizinhos.
Regra geral, as pessos são incrivelmente simpáticas e a cidade vale a pena e recomenda-se... quando não está a chover torrencialmente.
voltei, voltei...
Depois de 10 dias de ausência graças a uma bruta constipação e à morte prematura do transformador do modem, estou de regresso à blogosfera.
As noviades (que não são muitas, porque férias são férias...), seguem-se nos próximos posts.
As noviades (que não são muitas, porque férias são férias...), seguem-se nos próximos posts.
sexta-feira, março 18, 2005
ou não
Ontem fui ver "O Segredo dos Punhais Voadores".
O Relógio era capaz de escrever a sinopse deste filme melhor do que eu, mas vou fazer o meu melhor:
Na China do século IX, dois generais (ou não) tentam descobrir quem é o novo líder de um grupo de rebeldes à la Robin dos Bosques - roubam aos ricos para dar aos pobres, vivem numa floresta de bambu e vestem-se de verde - para o capturarem.
Um dos generais fica com a missão de tentar seduzir uma concubina cega (ou não) que será a filha do líder assassinado, de forma a descobrir o esconderijo dos Punhais Voadores. Pelo caminho, acaba por prejudicar a sua missão ao apaixonar-se pela ceguinha (mas se calhar é ao contrário).
O enredo é digno de qualquer novela mexicana mas feito de uma forma muito bonita. Vale pelas paisagens lindíssimas, por um Jogo do Eco de cortar a respiração e, claro, pela porrada, para quem gosta dessas coisas.
Se gostaram d'"O Tigre e o Dragão" vão adorar este filme.
Ou não.
segunda-feira, março 14, 2005
O Regresso de Columbo
O tenente Columbo está de volta à RTP Memória, às 3ªs feiras, pelas 23.00h.
Série de culto na década de 70, com vários prémios enquanto durou, Columbo vive de excelentes argumentos e da interpretação extraordinária de Peter Falk.
Histórias policiais baseadas em crimes aparentemente perfeitos, cada história começa sempre com o assassino a planear e executar o crime, criando um alibi à prova de bala. Depois surge a polícia a investigar o crime, com o tenente Columbo sempre a mascar um charuto apagado e embrulhado numa gabardina que precisa urgentemente de ir para a desinfecção.
O criminoso, sempre alguém elegantíssimo e figura de topo de qualquer elite cultural ou financeira, responde às primeiras perguntas daquele polícia manhoso com a maior condescendência. Só que o homem não o larga e aparece-lhe nos locais mais inesperados a pedir muita desculpa pelo incómodo, mas houve qualquer coisa que foi dito que ele ainda não percebeu muito bem…Quanto mais Columbo avança na investigação mais o criminoso se vai aproximando de uma crise de nervos e é quase com alívio que é preso: finalmente está livre daquele melga…
Não percam. E passem o recado aos vossos pais e avós.
Artur Tomé
quinta-feira, março 10, 2005
como sou viciada em testes de personalidade
segui a sugestão da John e descobri que, se fosse uma personagem da mitologia grega, seria:
Morpheus
Which Of The Greek Gods Are You?
brought to you by Quizilla
Já conhecia o Quizilla, mas prefiro e recomendo este site onde tanto podemos descobrir qual o nosso Q.I. como qual a raça canina com que mais nos assemlhamos (eu sou um Pug, by the way...).
Morpheus
Which Of The Greek Gods Are You?
brought to you by Quizilla
Já conhecia o Quizilla, mas prefiro e recomendo este site onde tanto podemos descobrir qual o nosso Q.I. como qual a raça canina com que mais nos assemlhamos (eu sou um Pug, by the way...).
quarta-feira, março 09, 2005
não há mesmo nada de original neste mundo
Mito indiano de há uns muitos mil anos a.C.:
(...) the tenth Manu was the most famous of them all. It was when he ruled over the earth that the great flood occured, when everything was submerged and only Manu survived. The god Vishnu warned Manu of the flood, and Manu built a boat to carry his family and the seven sages of antiquity. Vishnu took the form of a large fish (...) and lodged the boat on a mountain peak.
(...) the tenth Manu was the most famous of them all. It was when he ruled over the earth that the great flood occured, when everything was submerged and only Manu survived. The god Vishnu warned Manu of the flood, and Manu built a boat to carry his family and the seven sages of antiquity. Vishnu took the form of a large fish (...) and lodged the boat on a mountain peak.
Romila Thapar, A History of India
domingo, março 06, 2005
noitada IV
Desta vez trouxe um rádio.
Estamos sem sistema, pela segunda vez, há quase uma hora. Na sala do Apoio, 3 operadoras e uma supervisora - agora em pausa forçada - inserem contratos de clientes "grandes", enquanto se riem histericamente devido à moca do sono.
Na ebay inglesa há pessoas a vender pianos por 1£.
Tenho fome.
Estamos sem sistema, pela segunda vez, há quase uma hora. Na sala do Apoio, 3 operadoras e uma supervisora - agora em pausa forçada - inserem contratos de clientes "grandes", enquanto se riem histericamente devido à moca do sono.
Na ebay inglesa há pessoas a vender pianos por 1£.
Tenho fome.
sábado, março 05, 2005
obssession
Mamãe, mamãe, mamãe eu quero,
Mamãe eu quero
Mamãe eu quero tocar.
Dá o piano
Dá o piano
Dá o piano para a Marta não chorar.
noitada III
E cá estou eu com mais uns milhares de e-mails para responder durante o fim de semana - mas sem o Nikki ou o Ninja, contrariamente à imagem.
Aproveito para dar as boas-vindas à minha querida morena alta e ao seu muchacho, de quem já tinha muitas saudades e que vão deixar de ouvir clientes a dizer que não encontram as teclas do cardeal e do arcebispo no telefone, para passarem a ouvir "olhe que eu sou sobrinho do presidente da Deco!", ou "eu sei que a menina não tem culpa nenhuma, mas alguém tem de ouvir!", ou "vão para o ..... seus ........", ou... (suspiro nostálgico)
Tenho sono.
quinta-feira, março 03, 2005
Inteligência emocional
Os últimos posts da Marta e certos acontecimentos particulares recentes fizeram-me rever a educação ideal para os jovens de hoje, em comparação com a do meu tempo.
Quando eu nasci, o meu pai, sargento da Marinha, decidiu que eu seria oficial da Marinha quando crescesse. Quando, aos oito anos, tive de passar a usar óculos, o meu pai chorou de frustração. Depois decidiu-se pelo plano B. Eu iria tirar um curso de Finanças. Porquê? Porque era o curso do Professor Salazar.
Feito o 5º ano do liceu, decidi seguir Ciências, oficialmente para tirar engenharia de máquinas (secretamente para trabalhar em astronáutica na NASA). Para o meu pai, engenharia significava ir trabalhar para a CUF, o que era o topo de qualquer carreira profissional. Mas o ensino da Física era uma estopada, apaixonei-me por Biologia primeiro, depois pelo corpo humano e fui para Medicina.
Chegado a Medicina, como se pode descortinar nas entrelinhas, o choque com o meu pai era grave e decidi tornar-me financeiramente independente. Com 17 anos, subi umas escadas do Hospital de Santa Maria, bati à porta do gabinete do administrador, disse que era estudante e queria emprego. Comecei a trabalhar nessa tarde na Recepção, a inscrever doentes. Já agora, o emprego era com contrato a tempo indeterminado.
Como a maioridade era só aos 21 anos, o meu pai exerceu a sua autoridade paternal e tirou-me de lá… Larguei o curso e fui para a tropa, a modos de quem vai para a Legião Estrangeira.
Resumindo: 1960, empregos estáveis e facilidade em arranjá-los, submissão à autoridade paterna (e a outras), funcionários atentos, veneradores e obrigados (quem fosse despedido uma vez estava profissionalmente queimado). Os doutores, engenheiros e patrões em geral escreviam o que tinham a escrever com canetas, havia secretárias para bater os textos à máquina.
Passemos para a década de 80 e temos uma cachopa a crescer num mundo em mutação constante e muito mais agressivo. O pai tenta-a convencer a praticar aikido, ela vai para o ballet. Faz teatro, aprende música, e mete-se num curso superior que ela escolheu.
Nada daquilo em que o pai foi educado serve hoje como guia de comportamento para a relação pai-filha.
Cá fora, empregos estáveis acabaram. Poucas empresas ou instituições são profissionalmente aliciantes e, as poucas que o são, na área das comunicações, estão sob vendaval constante. Como ajudá-la, sem bases financeiras estáveis? Apoiar a sua grande inteligência emocional. Comentar os temas que ela traz à baila da conversa, numa de diálogos à Sócrates (o grego), alegrar-se com as suas capacidades em surfar os tsunamis que lhe aparecem e trautear interiormente "Bridge of troubled waters":
Sail on, silver girl... your time has come to shine...
Artur Tomé
quarta-feira, março 02, 2005
sabedoria de ruiva
I believe in energy. Everything's energy, and therefore magic can sometimes get created if somebody is open to energy doing what it does - instead of being so cynical that you miss magic happening.
Tori Amos
Tori Amos
sonhos vs. contas de electricidade
Perguntamos a uma pessoa de 60, 70 anos o que fez para não ter feito as coisas que achava essenciais aos 20 anos, e a pessoa provavelmente diz: não me lembro. Se calhar esteve a pagar contas de electricidade. Se não temos cuidado, estamos 50 anos a pagar contas de electricidade. É uma coisa assustadora, a papelada para uma pessoa estar viva. Apetecia-me muitas vezes dizer: não me chateiem, quero só estar vivo.
Gonçalo M. Tavares, in Mil Folhas
Certo dia eu e os meus pais fomos almoçar com um amigo de ambos que, em conversa, me perguntou o que eu queria fazer quando crescesse.
- Música - disse eu.
A resposta surgiu numa das frases que mais detesto ouvir:
- Isso passa-te com a idade.
O senhor em questão foi músico e produtor durante os seus anos de juventude e agora exerce a criativa profissão de técnico de informática.
Nunca suportei adultos que, na amargura de não se terem tornado no que o seu eu de 15 anos queria ser, fazem questão de deitar abaixo os sonhos dos outros. Os sonhos não pagam as contas nem põem comida na mesa - mas isso não implica que tenhamos de abdicar deles.
Há já uns anos que vivo dividida entre o que quero e o que tenho de fazer e, na maioria das vezes, é a última que ganha... o que me ajudou a descobrir formas de contornar a coisa e conseguir arranjar disponibilidade para as actividades que realmente me alimentam a alma.
Penso que a ideia essencial é a de que, se queremos e gostamos mesmo de fazer algo, não importa se é daí que vem o dinheiro, se estamos muito ocupados ou se já somos demasiado velhos para continuar (ou começar). Mesmo que não lhe possamos dedicar todo o tempo desejado, a sensação é tão reconfortante que vale a pena, por meros 5 minutos que sejam.
Quando era mais nova, criticava secretamente a minha mãe por ser tão terra-a-terra e continuar num emprego onde a sobrecarregavam de tarefas, em vez de tirar um curso de Arte e dedicar-se aos trabalhos manuais, ao desenho e à pintura, de que tanto gostava... Agora sei o que a casa gasta - literalmente! -, que até dá jeito ser-se efectiva e estar na mesma empresa há mais de 20 anos e que quando se trabalha das 9h às 18h, quer-se é chegar a casa e descansar.
Mas, justiça seja feita, não era por isso que deixava de desenhar aos fins-de-semana ou fazer trabalhos de carpintaria para a casa.
Temos de ser práticos para sobreviver e pagar contas de electricidade, é um facto. Só não gosto do conformismo.
E não, não me vai passar com a idade.
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