
Os últimos posts da Marta e certos acontecimentos particulares recentes fizeram-me rever a educação ideal para os jovens de hoje, em comparação com a do meu tempo.
Quando eu nasci, o meu pai, sargento da Marinha, decidiu que eu seria oficial da Marinha quando crescesse. Quando, aos oito anos, tive de passar a usar óculos, o meu pai chorou de frustração. Depois decidiu-se pelo plano B. Eu iria tirar um curso de Finanças. Porquê? Porque era o curso do Professor Salazar.
Feito o 5º ano do liceu, decidi seguir Ciências, oficialmente para tirar engenharia de máquinas (secretamente para trabalhar em astronáutica na NASA). Para o meu pai, engenharia significava ir trabalhar para a CUF, o que era o topo de qualquer carreira profissional. Mas o ensino da Física era uma estopada, apaixonei-me por Biologia primeiro, depois pelo corpo humano e fui para Medicina.
Chegado a Medicina, como se pode descortinar nas entrelinhas, o choque com o meu pai era grave e decidi tornar-me financeiramente independente. Com 17 anos, subi umas escadas do Hospital de Santa Maria, bati à porta do gabinete do administrador, disse que era estudante e queria emprego. Comecei a trabalhar nessa tarde na Recepção, a inscrever doentes. Já agora, o emprego era com contrato a tempo indeterminado.
Como a maioridade era só aos 21 anos, o meu pai exerceu a sua autoridade paternal e tirou-me de lá… Larguei o curso e fui para a tropa, a modos de quem vai para a Legião Estrangeira.
Resumindo: 1960, empregos estáveis e facilidade em arranjá-los, submissão à autoridade paterna (e a outras), funcionários atentos, veneradores e obrigados (quem fosse despedido uma vez estava profissionalmente queimado). Os doutores, engenheiros e patrões em geral escreviam o que tinham a escrever com canetas, havia secretárias para bater os textos à máquina.
Passemos para a década de 80 e temos uma cachopa a crescer num mundo em mutação constante e muito mais agressivo. O pai tenta-a convencer a praticar aikido, ela vai para o ballet. Faz teatro, aprende música, e mete-se num curso superior que ela escolheu.
Nada daquilo em que o pai foi educado serve hoje como guia de comportamento para a relação pai-filha.
Cá fora, empregos estáveis acabaram. Poucas empresas ou instituições são profissionalmente aliciantes e, as poucas que o são, na área das comunicações, estão sob vendaval constante. Como ajudá-la, sem bases financeiras estáveis? Apoiar a sua grande inteligência emocional. Comentar os temas que ela traz à baila da conversa, numa de diálogos à Sócrates (o grego), alegrar-se com as suas capacidades em surfar os tsunamis que lhe aparecem e trautear interiormente "Bridge of troubled waters":
Sail on, silver girl... your time has come to shine...
Artur Tomé