sexta-feira, dezembro 31, 2004

e venha outro...

fireworks

Um bom 2005 a todos e boa passagem de ano, que vou estar a trabalhar até às 2 da manhã, muito provavelmente só para atender clientes que não conseguem ver o Herman... e sem sistema informático!

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Arthur C. Clarke - onde a religião encontra a ciência

clarke

O maremoto que assolou a Ásia e arrasou o Sri Lanka fez-me recordar o mais famoso habitante desta região, o muito britânico Arthur C. Clarke.
A religião de que se fala no título não tem nada a ver com credos eclesiásticos. Religião é aquele sentir da unidade entre nós e tudo o que nos cerca, um sentimento de… awe perante o universo em que vivemos e uma curiosidade infantil perante as possibilidades do despertar das nossas potencialidades ou evolução no seu sentido mais lato.
Nenhum escritor, como Clarke, manteve os pés tão cravados na realidade da ciência e tecnologia e elevou tão alto essa aspiração pelo transcendente. Já no prefácio de 2001 ele recordava que, desde o surgimento da espécie humana até hoje, deverão ter nascido uns 100.000 milhões de criaturas humanas. Curiosamente, esse é o número estimado de estrelas da nossa galáxia. Portanto, para cada ser humano que pisou a Terra, existe na galáxia uma estrela que lhe pertence…
Não é um raciocínio que se ouça muito aí na boca dos engenheiros.
Como já toda a gente viu a belíssima seca que é o filme 2001 (o livro é melhor e menos confuso que o filme), deixem-me destacar dois livros que considero obras primas obrigatórias.

Rendez-vous com Rama
Da profundidade do céu, disparando para a proximidade do Sol, os telescópios detectam…é um asteroide?, é um cometa? Não, é um objecto metálico parecido com uma lata cilíndrica, com 50 km de comprimento e 30km de diâmetro e que gira sobre si próprio. O livro narra a visita de uma expedição ao interior de tal objecto, designado como Rama.
Não, Rama não está habitada. Caminhar lá dentro faz os astronautas sentirem-se como formigas… Três escadas radiam do eixo da entrada na base para as paredes, onde há estruturas que parecem cidades. Dado o movimento de rotação da lata, a gravidade manifesta-se do eixo para as paredes. Os astronautas caminham pelo interior da tampa, primeiro e das paredes depois, acompanhados por potentes projectores que transportam consigo, que iluminam poucos centenas de metros à sua frente.
Só que, à medida que se aproxima do Sol, as paredes de Rama aquecem e uma serie de sistemas automáticos são accionados. Como, por exemplo, três conjuntos de gigantescas lâmpadas.
A descrição do choque dos exploradores quando todo aquele interior se enche de luz e se vêem, colados às paredes, a olhar lá para baixo, é de dar vertigens. Depois há mares congelados que se derretem, atmosfera interior que aquece e cria furacões, mar que evapora e cria nuvens que se elevam para o eixo do cilindro e donde cai chuva - chuva que "cai" do eixo do cilindro, para o interior das paredes, descendo em curva, devido à rotação do cilindro que é Rama!… Clarke dá uma aula de mecânica celeste disfarçada de livro de aventuras extremamente fascinante.
Quem fez Rama, o que é Rama e quais os seus objectivos são perguntas que vão tendo respostas surpreendentes até à última linha do livro. Não vale a pena ir lá espreitar. A última frase é "Os ramanos fazem tudo em triplicado" mas só quem leu o livro até aí é que se apercebe do sobressalto que aquela última frase provoca. Sobressalto que é a pitada de religiosidade clarkiana no seu melhor.

Obs: "Rendez-vous com Rama" deu origem a uma sequela de outros livros, escritos em parceria com outro autor. Esqueçam-nos. Piores e mais vazios que as sequelas de 2001.

Obs 2: "As Fontes do Paraíso" ficam para a semana.

Artur Tomé

quarta-feira, dezembro 29, 2004

então adeus

tragicmask

Todos os dias faço uma ronda diária ao blogs que tenho nos favoritos... e todos os dias me encho de esperança que o meu amigo Miguel que agora é Eduardo, tenha parado de andar às voltas com o Vivaldi e regressado para dar sinais de vida... até hoje me te deparado com a seguinte mensagem:
"The requested URL was not found on this server. Please visit the Blogger homepage or the Blogger Knowledge Base for further assistance."
E é com muita pena que digo adeus às doenças com nomes russos e a relatos sobre discotecas da moda e a cartas de inveja a poetas...

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Depois de ter passado um semestre inteiro a ter aulas numa série de departamentos que não são o meu, tive um ataque de nostalgia e adicionei uma data de links para páginas de alguns dos meus autores preferidos. Há uma página oficial do Oscar Wilde, mas é tão pobrezinha que me decidi por outra com uma abordagem biográfica bastante original. Quem não conhecer o Robert Herrick (autor de "To The Virgins To Make Much Of Time", citado n'"O Clube dos Poetas Mortos") não se assuste com a música irritante da página de entrada, porque as outras são silenciosas ;).
Dito isto, um feliz Natal para todos e aqui fico para os quiasmos que me esperam no 2º semestre...!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

A aristocrata que cresceu na rua

Modesty&Willie

Modesty Blaise surgiu na década de 60 e fez mais pela igualdade de direitos entre os sexos do que todas as revoluções da moda de então.
Ao contrário do retrato das mulheres propalado pelo marialva do James Bond, Modesty era uma mulher à beira dos trinta anos, rica e independente após se reformar de uma intensa vida à testa de uma rede criminosa internacional. O seu criador, Peter O’Donnell, lançou-a primeiro em banda desenhada, com o apoio inestimável do desenhador Jim Halloway, e depois em livro onde revela uma qualidade narrativa muito superior à de Ian Fleming, o pai do 007.
E, enquanto Bond tem uma atitude superior em relação às outras nacionalidades e cores de pele, num desprezo a roçar o racismo, Modesty sente-se em casa tanto num mercado em Marraquexe como num leilão de obras de arte em Veneza..
Perita em todas as formas de combate, Modesty tanto se impõe naturalmente no comando de uma tropa de mercenários (no livro "Dente de Sabre"), como apaga todas as mulheres presentes em qualquer salão ou restaurante topo de gama (que provavelmente pertence a um ex-colaborador seu, cujo negócio ajudou a financiar).
Como seu aliado principal, Willie Garvin, um ex-combatente da Legião Estrangeira, rude e violento, que Modesty educou e que se tornou no seu guarda-costas, confidente e companheiro de aventuras na vida civil.
A relação entre Willie e Modesty é o ponto mais original da série. Willie, um atleta de sotaque cockney, emérito atirador de facas, tem uma adoração canina pela sua parceira. Tendo cada um vários romances, a sua relação é platónica mas mais íntima do que a que possam ter com qualquer namoro de ocasião.
E muitos são os motivos de fascínio em Modesty. Fugindo em criança de um campo de refugiados do pós-guerra, Modesty é gente, muito mais rica de personalidade, cultura e feminilidade do que a vazia Lara Croft que décadas depois a tentou imitar.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Yule

Yule

Para os mais distraídos, celebra-se hoje o Solstício de Inverno, também conhecido por Yule.
Nos tempos pagãos comemorava-se a noite mais escura e fria do ano como aquela em que a Deusa dava à luz o Deus Sol, a Criança da Promessa, pois a partir desse momento os dias tornam-se mais longos, representado, assim, o regresso da luz. (Não nos faz lembrar nada, pois não...?)
Levava-se uma árvore para dentro de casa como forma simbólica de proteger a Natureza do frio. Visto ser o dia em que se dava as boas-vindas ao Deus, a árvore era decorada com bolas, velas e outros pendentes (nada mais nada menos do que símbolos fálicos) e no topo da mesma era colocado, não a Estrela de Belém, e sim - surpresa, surpresa - um pentagrama.
E esta, hein...?

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Ironia britânica

Leslie Charteris nasceu na Indonésia, educou-se em Inglaterra e aí começou a publicar os primeiros livros do Santo. Estávamos no início da década de 1920 e Simon Templar é uma espécie de Robin Hood que combate os mercadores da morte, como então se chamavam aos negociantes de armas. Elegante, anarca, tem a cabeça a prémio em vários países. Mais do que as histórias, é o humor muito british de Charteris que dá fama literária à figura do Santo.
Mais tarde, o Santo evita uma guerra, é amnistiado e passa a combater criminosos ricos, fazendo justiça pelas suas mãos. As parecenças com Robin Hood limitam-se a que ele também rouba os ricos maus. E fica-se por aí.
Depois Charteris instala-se nos Estados Unidos, naturaliza-se americano apesar de ser mestiço de asiático e branco, convive com Hemingway e Errol Flynn e enriquece com sucessivas adaptações ao cinema. O seu Santo vai-se civilizando no mau sentido, as aventuras épicas iniciais tornam-se em contos onde os adversários estão ao nível das Lili Caneças e falsos jet setters americanos, acabando a sua decadência criativa nas adaptações televisivas interpretadas por Roger Moore.
Dos seus livros, recomendo vivamente "O Santo e os diamantes roubados" para quem gosta de acção imparável e "o Santo no mar alto" para quem prefere suspense e romance. Todos editados na Colecção Vampiro.
Há dias descobri uma carta de Charteris que é um exemplo notável do seu sentido de humor.

How To Pronounce My Name

From A Letter from the Saint, May 9, 1946
Since I am sure you will all want to tell your friends about this wonderful service, [A Letter from the Saint] and since my name occurs so often in any intelligent conversation anyhow, this seems like a good time to start you off on the right foot in the matter of pronouncing my name.

When I picked myself this distinguished cognomen it never occurred to me that such a superficially simple arrangement of letters could be so easily butchered and mutilated. It is somewhat humiliating for what should by this time be a household word to hear itself so frequently pronounced as "Charteers", "Sharteers", "Shartroos", and worse.

There is no trick to it at all if you relax. The "Chart" is pronounced exactly like "chart", the thing you steer boats with. The "er" is pronounced exactly like "er". Put them together and you get "Charter", pronounced as in Magna. The "is" is the only catch, and should be articulated by placing the tip of the tongue behind the front teeth, if any, and exhaling in a sharply sibilant manner which should not however attain the dimensions of a whistle. If either tongue or teeth are not available, a fresh soda siphon may be employed to produce a similar effect.

For the benefit of those really fascinated by the subject, the British aristocracy, several of whom dangled from this family tree, pronounced the name, in their quaint way, as "Charters"; the "i" being silent as in monocle.


Artur Tomé

terça-feira, dezembro 14, 2004

também tu brutus...?

o que fazer ao descobrir que até os professores têm blogues...?

sábado, dezembro 11, 2004

o crime

Rapaz mata mãe e avó com um sabre. A TVI entrevista os vizinhos e segue-se o seguinte diálogo:
Vizinha: Ele sempre foi muito simpático. Muito acessível, bem-educado. Mas sim... acho que tinha algo de estranho... era... não sei, muito quieto...
Jornalista: Depressivo?
Vizinha: Sim... isso! Depressivo.
É bom saber que há jornalismo sério nos dias que correm. Eles bem dizem: só na TVI...

quinta-feira, dezembro 09, 2004

promethea

prometeia

I am Promethea
The child who stands
Between fixed earth and insubstancial air,
A thought who yet treads matter’s
rain swept strands,
and mortals are the sandals that I wear

I am Promethea,
From mind's pure light
I stoop into Earth’s gloom.
From fable’s day
descending into Fact’s cold
weighty night,
from lyric atmosphere to mammal clay..

I am Promethea,
the rummored one,
the mythic bough that reason strains to bend.

I am the voice left, when the book is done
I am the dream that waking does not end.

Promethea
De Alan Moore (texto), J.H. Williams III (desenho) e Mick Gray (cor)

Trata-se de uma obra em 4 volumes, totalmente diferente de tudo o que o género da banda desenhada deu à luz até agora... Viagens e aventuras pelos vários planos da existência, num vórtice de cores e sensações estranhas mas fascinantes. Talvez a primeira BD esotérica.
O 1º volume pode ser uma excelente prenda de Natal. Quem avançar na leitura pelos outros volumes fá-lo-á seu próprio risco.

Artur Tomé

quarta-feira, dezembro 08, 2004

dia da mãe

Quando era pequena adorei descobrir que o 8 de Dezembro era o antigo Dia da Mãe, porque era esse o dia de anos da minha mãe. Como agora é apenas um feriado religioso (aos quais nunca ligo) e já não há festa de anos, celebro-o ao fazer sempre a árvore de Natal dia 8. Não deixa de ser uma festa...!
Já tinha editado este texto no extinto Território Literário mas não podia deixar passar o dia de hoje sem o incluir aqui, no meu cantinho:

os pés da minha mãe

Quando era pequena e andava, como sempre adorei andar, descalça pela casa em dias quentes de Verão, perdia o que na altura me pareciam horas a olhar para os pés da minha mãe, também eles descalços pois o corpo do qual faziam parte não suportava quaisquer amarras mesmo que sob a forma de tecidos ou calçado. Olhava para os pés dela e comparava-os aos meus. Para além da óbvia discrepância a nível de proporções, a diferença que mais me chamava a atenção (diria até, a que mais me chocava), estava na textura. Os pés da minha mãe tinham as palmas revestidas de pele que, com o passar do tempo e o passar por estradas, se tornara áspera, dura, formando o que me pareciam ser quase cascos. "Os meus pés nunca vão ficar assim," pensava eu. "As bailarinas têm pés suaves, como as princesas." Mais tarde vim a descobrir, por experiência própria, que o que as bailarinas têm são bolhas infernais…
Mais tarde ainda apercebi-me de que também a minha mãe tinha o porte e a postura das princesas da dança. Os pés eram práticos mas movimentava-os com a melhor das elegâncias.
Os pés da minha mãe já não andam e não consigo deixar de sentir que cada um dos seus calos vai, a pouco e pouco passando para os meus próprios pés, à medida que percorro o mesmo tipo de estradas por onde ela andou. Só espero que com a mesma graça.

sábado, dezembro 04, 2004

pedimos desculpa pelo incómodo...

...mas o meu computador entrou em coma e alguém que não vou dizer que foi o meu pai teve a bela ideia de inserir um CD de recuperação que tem como defeito formatar todo o conteúdo do nosso belo iMac (também não vou referir o facto de, da última vez que o mac entrou em coma, ter-se conseguido usar o CD de recuperação e salvar TUDO...).
Isto para dizer que o texto semanal do meu pai se perdeu num qualquer buraco negro cibernético e que vos estou a escrever directamente do meu local de trabalho (eu tão vou ser despedida...) para que desculpem qualquer coisinha.
Retomaremos a emissão assim que possível.