domingo, outubro 31, 2004
halloween
Antes dos miúdos americanos andarem a bater de porta em porta a dizer "trick or treat" já o Halloween era celebrado há milhares de anos.
As "bruxas", regendo-se pelos ciclos da Natureza, consideravam a passagem do dia 31 de Outubro para o 1 de Novembro como o iníco do Ano Novo: acabava o Verão, começava o Inverno. Fazia-se uma lista das fraquezas pessoais e maus hábitos dos quais cada pessoa se queria ver livre (onde é que eu já ouvi isto...?).
Também era esta a data de maior aproximação entre os mundos visível e invisível, o que permitia aos espíritos das pessoas falecidas durante o ano andarem livremente ao nosso lado... daí o uso da abóbora com a cara assustadora e a velinha lá dentro, para afastar entidades malignas. Mas, como nem todos os espíritos são maus, era servida uma refeição aos entes queridos que já tinham deixado este mundo. Ainda hoje, uma tia minha, ao preparar a mesa para o Natal, deixa sempre um prato a mais com esse mesmo propósito.
Curiosidades à parte, desejo a todos um feliz Dia das Bruxas!
quinta-feira, outubro 28, 2004
Ged, o feiticeiro que Harry Potter gostaria de ser quando for crescido
Only in silence the word,
only in dark the light,
only in dying life:
bright the hawk's flight
on the empty sky.
--From the Creation of Ea
in O Feiticeiro de Terramar de Ursula le Guin
Creio que foi Isaac Asimov o primeiro escritor a lançar a moda das trilogias na literatura fantástica com a sua série da Fundação. Seguiu-se O Senhor dos Aneis e o fabuloso The Hitchicker´s Guide to the Galaxy de Douglas Adams. A partir daí, foi um fartar vilanagem.
Curiosamente, estas trilogias têm sempre mais de três volumes. O Hobbit faz parte do universo do Senhor dos Aneis, o Guia tem 5 volumes, a Fundação viu-se acrescida, recentemente, de mais 3 volumes. A trilogia de que nos ocupamos hoje tem 4 volumes, só três ainda editados em português na Argonauta. Com todo o lixo que há por aí sobre feiticeiros e dragões, vale a pena recordar "the real thing".
Falamos do Feiticeiro de Terramar, de Ursula le Guin, uma autora que tanto escreve mainstream como papa prémios na área da ficção científica. Terramar é um mundo quase todo coberto de mar, salpicado de arquipélagos, onde a magia é ferramenta indispensável ao viver do dia-a-dia e a feitiçaria uma profissão respeitada.
Conseguem-se fazer feitiços conhecendo o nome verdadeiro de cada ser, o nome que lhe foi concedido no início da criação. É isso que os alunos da escola de feitiçaria aprendem e com esse conhecimento controlam os ventos, mudam de aspecto, curam doenças, etc…
O Feiticeiro de Terramar narra a vida de Gavião, um jovem guardador de cabras com uma apetência natural para a magia, desde que entra na escola até atingir o cargo de arquimago. Ao contrário de Harry Potter, toda a narrativa é centrada no respeito pela natureza, num mundo de agricultores e marinheiros, numa atitude de recolhimento interior e ternura e respeito pela vida. Não há bons contra maus. Há forças do bem e forças do mal que coabitam em cada ser humano e a luta que se trava é interior.
E há os dragões, imensos de tamanho e idade, que falam a língua original. Os dragões de Terramar fazem com que todos os outros dragões da literatura pareçam bonecos de plasticina. O leitor sente-lhes o calor do bafo à distância, encolhe-se ante a visão das suas garras, evita olhá-los nos olhos.
Durante a sua formação na escola dos magos, Gavião (de seu nome real Ged), trava um duelo de conhecimentos com um colega e o seu orgulho fá-lo invocar um ser do mundo dos mortos. O resultado é a libertação de um ser negro e aterrador que o ataca e que exige a intervenção do arquimago da altura para ser afastado. O arquimago morre no encontro e Ged fica em coma, com o rosto desfigurado. Recuperando lentamente, acaba por terminar o curso e parte para as ilhas, aplicando o seu saber junto dos mais desfavorecidos que peçam os seus serviços.
Mas há um temor que o persegue. Conhecidos seus alegam ter visto uma figura brumosa, semelhante a Ged, cada vez mais perto. Ged vai fugindo da figura que libertou na adolescência, mas o mal aproxima-se cada vez mais dele. Um dragão que Ged forçara a abandonar uma ilha de pescadores que queria habitar, propõe-lhe revelar o nome da figura misteriosa, se Ged o libertar do seu domínio. Ged não cede, mas fica a saber que a Coisa tem nome. Quando souber tal nome poderá dominá-lo.
E os dois acabam por se encontrar frente a frente e Ged compreende qual o nome do Outro.
Não vou retirar o interesse do primeiro volume da trilogia, mas, se o leitor adivinhar qual o nome do Outro, e como este pode ser dominado, está pronto para entrar na escola dos feiticeiros.
A trilogia Terramar em português:
O Feiticeiro de Terramar, colecção Argonauta nº 276
Os Túmulos de Atuan, colecção Argonauta nº 284
O Outro Lado do Mundo, colecção Argonauta nº 93
= Artur Tomé =
quarta-feira, outubro 27, 2004
eu sofro
Represente as formas subjacentes, identificando os respectivos constituintes das formas verbais: sofro / sofres.
Com certeza: eu sofro ao ter cadeiras de Linguística...
Tudo bem que, estando num curso de Literatura, há que conhecer o funcionamento da língua. Se apenas tivéssemos Introdução aos Estudos Linguísticos era uma coisa, mas sermos obrigados a fazer ainda uma cadeira específica já não tem muita lógica...:
1º os alunos de Linguística não têm uma única cadeira de Literatura;
2º ensinam-nos uma série de regras para no fim concluirem que há imensas excepções, algumas com mais ocorrência do que a própria regra;
3º ensinam-nos uma série de conceitos para no fim dizerem que nem todos os linguistas estão de acordo na questão;
4º a essência da matéria é incrivelmente simples mas insistem em dissecar e rotular cada letra que lhes aparece à frente.
Peço desculpa pelo desabafo, mas acabei de sair de um teste de Morfologia... :'(
Com certeza: eu sofro ao ter cadeiras de Linguística...
Tudo bem que, estando num curso de Literatura, há que conhecer o funcionamento da língua. Se apenas tivéssemos Introdução aos Estudos Linguísticos era uma coisa, mas sermos obrigados a fazer ainda uma cadeira específica já não tem muita lógica...:
1º os alunos de Linguística não têm uma única cadeira de Literatura;
2º ensinam-nos uma série de regras para no fim concluirem que há imensas excepções, algumas com mais ocorrência do que a própria regra;
3º ensinam-nos uma série de conceitos para no fim dizerem que nem todos os linguistas estão de acordo na questão;
4º a essência da matéria é incrivelmente simples mas insistem em dissecar e rotular cada letra que lhes aparece à frente.
Peço desculpa pelo desabafo, mas acabei de sair de um teste de Morfologia... :'(
terça-feira, outubro 26, 2004
"o sol cuspiu a manhã na cara do gajo"
Depois de um jejum teatral de quase um ano, lá segui o conselho de uma amiga (conhecida na comunidade bloguística como J.) e fui ver "O Mocho e Gatinha", em cena no Teatro Mário Viegas. Já tinha ouvido falar da dita mas como o título me remetia para uma peça infantil, não lhe dei muita atenção. Trata-se, afinal, de uma história de amor absolutamente hilariante entre um pseudo-escritor e uma pseudo-prostituta com sérias dificuldades em se adaptarem ao mundo um do outro.
São três horas (sim, três, mas nem dão por elas) de riso constante com uma peça que, palhaçadas à parte, consegue ter substância e nos faz reflectir sobre as relações humanas, principalmente no que toca à nossa inflexibilidade em tentar ver através da perspectiva de um outro completamente oposto a nós - e que, se olharmos com atenção, talvez seja mais parecido connosco do que estávamos à espera.
Só está em cena durante mais dois fins-de-semana.
Vão ver!
quinta-feira, outubro 21, 2004
não, não é outro duo pimba pai-filha...
Fãs do meu pai (I know you're out there :P), trago boas novas:
Após longa e intensa conversação - acampanhada de croissants com manteiga e um ou outro cigarro - o meu estimado progenitor e eu combinámos que, a partir da próxima semana, o espaço do blog às 5ªs feiras passa a pertencer ao sr Artur.
Quem já conhece sabe que vai gostar; quem ainda não teve o prazer, garanto que vai ter ;).
Após longa e intensa conversação - acampanhada de croissants com manteiga e um ou outro cigarro - o meu estimado progenitor e eu combinámos que, a partir da próxima semana, o espaço do blog às 5ªs feiras passa a pertencer ao sr Artur.
Quem já conhece sabe que vai gostar; quem ainda não teve o prazer, garanto que vai ter ;).
terça-feira, outubro 19, 2004
geração call center
Texto que o meu pai escreveu inicialmente para outro blog (traidor...!), o Truca, que podem encontrar nos links. A única coisa que tenho a acrescentar é que, no que toca à minha experiência corrente - apoio ao cliente - o espaço de manobra em relação ao contacto com o cliente é maior do que no telemarketing: nós sabemos mesmo tudo e somos todos-poderosos...!
Mas passo a palavra ao meu pai:
A geração call center
São centenas de jovens trabalhadores, e alguns já não tão novos como isso. Estudantes universitários, procurando num part-time um subsídio para as propinas e para os livros, licenciados em psicologia, antropologia e "letras", assistentes sociais…
Trabalham em salas segmentadas em cubículos como colmeias, diante de um computador que os liga aos clientes e lhes apresenta o script do que têm a dizer e como argumentar. Foram recrutados por empresas de trabalho temporário e são a voz de empresas que nunca visitaram.
Esta "geração call center", como a minha filha lhe chama, todas essas Martas da OK Teleseguros e afins, representam uma força de trabalho crescente, uma ferramenta de marketing ao serviço das principais empresas, e vai ganhando um conhecimento do país real que nenhum tratado de gestão ou sociologia lhes poderia dar.
Um país real de cidadãos que não sabem como dar voz às queixas que querem apresentar, que nada percebem do equipamento que compraram, que se sentem perdidos por falar para uma voz ao telefone quando o que queriam era alguém que os visse e a quem pudessem falar cara a cara.
"O mê marido nã tai, foi tirar lête", "os meus pais foram para as vindimas, só voltam lá para o fim do mês", velhinhos isolados no interior, na maioria analfabetos e arfantes de qualquer doença brônquica, que remetem a decisão sobre o novo serviço que lhes é apresentado para quando os filhos os forem visitar e contam as suas mágoas, dores e solidão, ocupando tanto mais tempo a linha telefónica quanto menos a vida se tem ocupado deles. O mercado real do consumidor do produto, fora daquela invenção cosmopolita dos modelos do Image Bank, gente real com pagamentos em atraso dos seguros, dos Visas, da televisão por cabo.
Gente para quem a empresa a quem compraram o produto ou serviço é aquela voz, a quem agradecem o restabelecimento da ligação à Net, uma tabela de preços mais simpática ou a concessão do pagamento de uma dívida em quatro prestações; voz que insultam quando estão irritados com a empresa, voz que acham que deve saber tudo quando a voz só tem um pequeno script no écran que tem de seguir sem falhas porque as conversas são monitoradas por supervisores a quem têm de pedir licença para ir à casa de banho.
Vozes que vão dizendo "Daqui fala a Marta" enquanto o sonho de um emprego a sério vai morrendo debaixo dos auriculares e diante do script.
Artur Tomé
Mas passo a palavra ao meu pai:
A geração call center
São centenas de jovens trabalhadores, e alguns já não tão novos como isso. Estudantes universitários, procurando num part-time um subsídio para as propinas e para os livros, licenciados em psicologia, antropologia e "letras", assistentes sociais…
Trabalham em salas segmentadas em cubículos como colmeias, diante de um computador que os liga aos clientes e lhes apresenta o script do que têm a dizer e como argumentar. Foram recrutados por empresas de trabalho temporário e são a voz de empresas que nunca visitaram.
Esta "geração call center", como a minha filha lhe chama, todas essas Martas da OK Teleseguros e afins, representam uma força de trabalho crescente, uma ferramenta de marketing ao serviço das principais empresas, e vai ganhando um conhecimento do país real que nenhum tratado de gestão ou sociologia lhes poderia dar.
Um país real de cidadãos que não sabem como dar voz às queixas que querem apresentar, que nada percebem do equipamento que compraram, que se sentem perdidos por falar para uma voz ao telefone quando o que queriam era alguém que os visse e a quem pudessem falar cara a cara.
"O mê marido nã tai, foi tirar lête", "os meus pais foram para as vindimas, só voltam lá para o fim do mês", velhinhos isolados no interior, na maioria analfabetos e arfantes de qualquer doença brônquica, que remetem a decisão sobre o novo serviço que lhes é apresentado para quando os filhos os forem visitar e contam as suas mágoas, dores e solidão, ocupando tanto mais tempo a linha telefónica quanto menos a vida se tem ocupado deles. O mercado real do consumidor do produto, fora daquela invenção cosmopolita dos modelos do Image Bank, gente real com pagamentos em atraso dos seguros, dos Visas, da televisão por cabo.
Gente para quem a empresa a quem compraram o produto ou serviço é aquela voz, a quem agradecem o restabelecimento da ligação à Net, uma tabela de preços mais simpática ou a concessão do pagamento de uma dívida em quatro prestações; voz que insultam quando estão irritados com a empresa, voz que acham que deve saber tudo quando a voz só tem um pequeno script no écran que tem de seguir sem falhas porque as conversas são monitoradas por supervisores a quem têm de pedir licença para ir à casa de banho.
Vozes que vão dizendo "Daqui fala a Marta" enquanto o sonho de um emprego a sério vai morrendo debaixo dos auriculares e diante do script.
Artur Tomé
domingo, outubro 17, 2004
aniversário II
Após um jantar de sangria, com muitos golos do Sporting, brindes à aniversariante, ao sr Fernandes - que nos surpreendeu com um bolo e uma garrafa de champanhe - e, como não podia deixar de ser, ao nosso amigo Oscar Wilde, venho dar os parabéns à nossa adorável Coelhinha Assassina.
Como prenda, vou ajudar a sua causa, fazendo publicidade a esta senhora:
Chama-se Charlotte Martin, é americana, toca piano e tem uma canção sobre ervilhas. Pronto Sónia, já toda a gente a conhece...! ;)
Um brinde ao deboche!
Como prenda, vou ajudar a sua causa, fazendo publicidade a esta senhora:
Chama-se Charlotte Martin, é americana, toca piano e tem uma canção sobre ervilhas. Pronto Sónia, já toda a gente a conhece...! ;)
Um brinde ao deboche!
sábado, outubro 16, 2004
aniversário
There is no such thing as a moral or an immoral book. Books are well written, or badly written. That is all.
Oscar Wilde (1854-1900)
Foi maldito por ser um magnífico autor de obras "imorais"...
Se fosse vivo faria hoje 150 anos. Parabéns ao Mestre.
quinta-feira, outubro 14, 2004
lullaby
shut your ears
to the screaming silence
of the night
let your eyes give in
to all the weight in your soul
and sleep.
dream as if you had never woken up.
to the screaming silence
of the night
let your eyes give in
to all the weight in your soul
and sleep.
dream as if you had never woken up.
terça-feira, outubro 12, 2004
domingo, outubro 10, 2004
o deus da dança
A minha loucura é amor pela humanidade.
Vaslav Nijinski (1890-1950)
Antes dos Nureyevs e dos Baryshnikovs, havia o Nijinski.
Bailarino e coreógrafo, genial e carismático, a sua sensibilidade extrema - vista pelo resto do mundo como fragilidade emocional - e o seu nervosismo fizeram com que, a pouco e pouco, tenha sido considerado como louco e passado o resto da vida a entrar e sair de senatórios.
A Assíro & Alvim (abençoada seja...!) editou recentemente os diários do bailarino. A escrita, de frases muito curtas, constantes repetições e incoerências que vão aumentando ao longo do livro, sugere uma demência crescente. O curioso é que, apesar de a forma que usa para explicar o seu mundo interior ser "estranha", todas as observações que faz sobre o que o rodeia são de uma lucidez imensa, embora, por vezes, possam parecer absurdas. Exemplo: "As instituições para pobres usam farda para os pobres terem medo delas."
Acaba por ser tal e qual as crianças, que vêem tudo e todos não só melhor mas mais do que os adultos e a quem estes últimos não se cansam de dizer "não é assim! Os elefantes são cinzentos, não os podes pintar de amarelo!" Porquê? Porque não ver o mundo para além daquilo que se "vê"? Se nos tivéssemos ficado pelo conhecimento empírico ainda achávamos que o Sol girava à volta da Terra.
Ao longo do livro, Nijinski diz constantemente que os outros enlouquecem ou são infelizes porque pensam demasiado mas ele não, porque não pensa: sente. (Excepção para Nietzsche, que "enlouqueceu porque, no fim da vida, percebeu que tudo o que tinha escrito eram asneiras"...) Tudo o que diz é sentir o mundo, as pessoas, a mulher, as filhas, o público, deus. Percorre as linhas a afirmar um amor incondicional por tudo aquilo que sente e um desejo de ajudar e salvar a humanidade, ensinando a todos a nossa natureza divina.
O que há de louco nisso?
segunda-feira, outubro 04, 2004
quem manda...?
Gibson Afasta Fã Que Quer Rezar com Ele
(Público, 03 de Outubro de 2004)
O actor Mel Gibson interpôs uma acção judicial contra um homem que o perseguia pedindo para rezarem juntos (...).
O homem terá alegadamente ido para a porta da propriedade de Gibson pedindo para rezar com o actor. Gibson, que vive na Florida, disse que Sinclair interrompeu também as suas orações numa capela "e exigiu-me que rezasse com ele" (...). O sem-abrigo terá supostamente enviado cartas a Gibson e à sua família descrevendo ao actor as suas orações, citando versos bíblicos e elogiando A Paixão de Cristo. "Continuo a estar muitíssimo preocupado com a segurança da minha família", disse.
Então vejamos... Um homem que escreve, produz e realiza um filme nascido da sua fervorosa fé (ironicamente, um dos filmes mais ocos que já vi, mas quem sou eu...), um Católico devoto que não hesita em afirmar que a sua própria esposa vai para o inferno quando morrer por ser Protestante... nega-se a partilhar alguns momentos de comunhão espiritual com um pobre sem-abrigo? Porque não dizer, "está bem, 'bora lá rezar um terço"? Seria uma atitude mais cristã...
Claro que, vendo bem as coisas, havia sempre a hipótese de o sem-abrigo ser um membro da Al-Quaeda que não olha a meios para destruir os infiéis...
(Público, 03 de Outubro de 2004)
O actor Mel Gibson interpôs uma acção judicial contra um homem que o perseguia pedindo para rezarem juntos (...).
O homem terá alegadamente ido para a porta da propriedade de Gibson pedindo para rezar com o actor. Gibson, que vive na Florida, disse que Sinclair interrompeu também as suas orações numa capela "e exigiu-me que rezasse com ele" (...). O sem-abrigo terá supostamente enviado cartas a Gibson e à sua família descrevendo ao actor as suas orações, citando versos bíblicos e elogiando A Paixão de Cristo. "Continuo a estar muitíssimo preocupado com a segurança da minha família", disse.
Então vejamos... Um homem que escreve, produz e realiza um filme nascido da sua fervorosa fé (ironicamente, um dos filmes mais ocos que já vi, mas quem sou eu...), um Católico devoto que não hesita em afirmar que a sua própria esposa vai para o inferno quando morrer por ser Protestante... nega-se a partilhar alguns momentos de comunhão espiritual com um pobre sem-abrigo? Porque não dizer, "está bem, 'bora lá rezar um terço"? Seria uma atitude mais cristã...
Claro que, vendo bem as coisas, havia sempre a hipótese de o sem-abrigo ser um membro da Al-Quaeda que não olha a meios para destruir os infiéis...
sexta-feira, outubro 01, 2004
6
Altura para o post meloso do ano...
Quem diria que A Paixão de Cristo iria unir um casal... Parabéns a nós. :)
Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Quem diria que A Paixão de Cristo iria unir um casal... Parabéns a nós. :)
Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Nuno Júdice
(com quem vou ter aulas no 2º semestre e vocês não :P)
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